José Couceiro retomou a actividade profissional no mês de Julho, fazendo as malas rumo a um destino pouco comum. Na Lituânia, anunciava-se um acordo com a FBK Kaunas. A selecção nacional seria o próximo passo. Nas primeiras semanas, o treinador português evitou falar sobre esse objectivo, concentrando-se no clube. Agora, explica ao Maisfutebol que o Kaunas deverá ser um projecto a prazo.
«Em vim para orientar a selecção nacional da Lituânia. Entretanto, também demonstrei disponibilidade para ajudar o Kaunas, mas não poderá ser assim durante muito mais tempo. Aliás, o campeonato lituano acaba em Novembro», começa por dizer, no rescaldo da estreia como seleccionador em jogos oficiais, com uma estrondosa vitória na Roménia (0-3).
Na A Lyga do país báltico, o Futbolo beisbolo klubas (FBK) Kaunas ocupa a segunda posição da tabela classificativa, a um ponto do líder Ekranas: «Quando cheguei, apanhei o clube no 3º lugar, agora estamos em 2º e ainda vamos jogar três vezes com o Ekranas», explica Couceiro. Na Europa, o afastamento do Glasgow Rangers, permitindo o acesso à 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, concentrou atenções.
O clube de José Couceiro venceu quatro das últimas cinco edições da Liga, mas ganhou especial projecção em 2005, quando Vladimir Romanov, homem de enormes recursos financeiros, passou a ser o accionista maioritário do Hearts, clube da Escócia.

O clube de Bruno Aguiar e Jorge Gonçalves
Em 2006, o Maisfutebol descobriu dois jogadores portugueses no FBK Kaunas. Aliás, com contrato assinado, pois nunca sonharam vestir aquela camisola. José Gonçalves juntou-se a Bruno Aguiar no Hearts, mas ambos estavam vinculados ao emblema lituano. Desde essa altura, a ponte entre os dois clubes intensificou-se. José Couceiro reconhece as dificuldades.
«O sr. Romanov é o sponsor dos dois clubes. Não é fácil para nós. Ainda recentemente, perdemos dois jogadores decisivos para o Hearts. Digamos que o Kaunas é a base que serve o Hearts, em matéria de jogadores. Como é óbvio, para um treinador, é sempre difícil formar uma equipa», reconhece o treinador português, em entrevista.
«Futebol bate-se com o basquetebol»
Analisando a realidade do futebol lituano, José Couceiro aponta a via para o futuro. «Se conseguir formar jogadores internamente e mantê-los aqui, pode melhorar. Isso não se consegue resolver num par de anos. Sou um estrangeiro na Lituânia. Posso ajudar, mas não consigo mudar tudo. Pode trazer-se uma mentalidade diferente. Estes jogadores não podem entrar em campo vencidos, como acontecia. O campeonato lituano tem um nível baixo, a selecção tem um nível superior», considera.
As comparações são inevitáveis. «A Lituânia é um país pequeno, com 3,5 milhões de habitantes. É uma potência no basquetebol, o futebol bate-se com basquetebol em popularidade, mas o basquetebol tem tido resultados melhores e, como tal, cativa mais jovens e verbas», lamenta, salientando as diferenças entre o jogador português e o lituano: «O português tem maior potencial técnico. É uma questão cultural. Aqui, são mais determinados naquilo que têm de fazer, mas têm menos talento. O talento separa os jogadores médios dos outros.»
«Os treinadores que vêm do Sul trazem outras preocupações, inverteram-se alguns dos princípios. A escola de Leste pensa, acima de tudo, na parte física. Mas, para mim, a questão psicológica condiciona todas as outras. Se eu disser aos jogadores para estarem os 11 do lado direito, eles ficam e não saem de lá. Isso é mau. Nós temos mais capacidade para improvisar», conclui.