Mário Sérgio, Ricardo Fernandes e China. Portugal tem uma troika em Donetsk. Representam os interesses do nosso país no Metalurg, o segundo maior emblema da cidade. No passado domingo houve dérbi. O Shakhtar, adversário do F.C. Porto esta quarta-feira, venceu por 2-0.

Ao Maisfutebol, o trio lusitano faz o retrato de uma equipa «de grande potencial do meio-campo para a frente». Ricardo Fernandes, campeão europeu pelo F.C. Porto em 2004, destaca Fernandinho. O internacional brasileiro é o cérebro de uma equipa ritmada pelo samba e domesticada nos ensinamentos do romeno Mircea Lucescu, técnico experientíssimo.

«A primeira parte deles contra nós foi muito má. Ao intervalo entrou o Fernandinho e a qualidade foi completamente diferente. Eles estavam a pensar mais no jogo contra o Porto», diz Ricardo Fernandes, no que é acompanhado por Mário Sérgio.

«O Fernandinho é o melhor jogador. Depois destaco o Jadson e o Willian, dois desequilibradores natos. Na defesa o melhor é o capitão Srna. Felizmente, para o F.C. Porto, está castigado e não pode jogar», sublinha o antigo lateral direito de P. Ferreira e Sporting.

China completa a avaliação. «O Fernandinho é impressionante nas transições ofensivas. Para mim é o patrão da equipa. Na frente, o Willian é um perigo pela rapidez e técnica que possui.»

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Um manto branco cobriu Donetsk há alguns dias. O inverno, rigoroso como nunca, fez-se anunciar com brado. Esta semana não há neve, mas está ainda mais frio. «As temperaturas descem abaixo de zero regularmente. Os jogadores do F.C. Porto têm de contar com isso», alerta Mário Sérgio, já há três anos na Ucrânia e absolutamente habituado ao que o cerceia.

O relvado do luxuoso Donbass Arena estará, porém, em boas condições, garante China. «É fabuloso, faça chuva ou neve», sublinha o lateral esquerdo, a cumprir a quarta temporada no Metalurg Donetsk.

Os três portugueses vão mesmo estar na bancada a apoiar o F.C. Porto. Nem que o mercúrio do termómetro alcance recordes negativos. «Fomos buscar os bilhetes e lá estaremos. O estádio fica a três minutos de nossa casa. ¿Temos de aproveitar a presença do Porto. Só joguei lá uma temporada, mas é um clube marcante na minha carreira», recorda Ricardo Fernandes.

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Donetsk não é um paraíso turístico. A cidade enleia-se em «prédio antigos, muito degradados», ruas de trânsito atarefado e costumes herdados pela ditadura soviética. Não é fácil ser estrangeiro na Ucrânia.

«O primeiro impacto é terrível. Há um enorme atraso em alguns aspectos da vida. No aeroporto pegam nas malas e levam-nas numa carrinha de caixa aberta. As coisas estão a melhorar, pois no próximo ano recebem o Europeu», refere Mário Sérgio.

A alimentação é outro dos óbices. «A comida deles tem sempre muita gordura e temperos fortes. O colesterol não aguenta. Vamos sempre a restaurantes italianos, optamos mais por massas», vinca China, antigo jogador da Naval e do Belenenses.

Mesmo no futebol, a frieza generalizada é quem mais ordena. «Não têm a paixão de outros países. Estão silenciosos na bancada, não perturbam o visitante como podiam perturbar. O F.C. Porto pode aproveitar isso», declara Mário Sérgio.

E, afinal, é possível a uma alma portuguesa ser feliz em Donetsk? «Não digo que seria impossível estar cá sem o Mário e o Ricardo, mas quase», desabafa China. Ricardo Fernandes agarra-se à vertente desportiva. «O Metalurg tem uma boa academia e os salários em dia. Sinto-me bem.»

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