*Enviado-especial ao Brasil

Em 2002, quando, pela última vez, a Alemanha disputou a final de um Campeonato do Mundo, o favoritismo à partida estava longe de ser o mesmo que é atribuído para o torneio do Brasil. Afinal, aquela era uma Alemanha em remodelação, depois do desastre do Euro 2000, quando tinha de defender o título e nem passou a fase de grupos.

Entre as caras novas que Rudi Voeller levou à Coreia do Sul e Japão estava Christoph Metzelder. Na altura, era um dos mais promissores centrais da sua geração e, não tendo uma carreira fulgurante, destacou-se em clubes como o Borussia Dortmund, Real Madrid e Schalke 04, para além de ter voltado ao Mundial, quatro anos depois, e de ter sido ainda titular na final do Euro 2008.

Experiência, portanto, não lhe falta para analisar a atual seleção germânica, primeira adversária de Portugal no Mundial do Brasil.

Em entrevista ao Maisfutebol, Metzelder não tem dúvidas que o jogo de Salvador da Bahia será decisivo para encontrar o vencedor do grupo G.

«Se a Alemanha ganhar, acredito que vão para os oitavos de final como líderes do grupo. E isso significa um caminho mais fácil até às meias-finais. Por isso, para mim, é um jogo decisivo. Para as duas equipas será o jogo chave. É este o jogo que têm de ganhar se quiserem ser primeiros», defende.

Além disso, Metzelder acha que a Alemanha precisa bater Portugal para impor respeito: «É preciso mandar um sinal forte aos outros favoritos à vitória no Mundial. Ganhar a Portugal seria, sem dúvida, esse sinal.»

E está confiante. Recorda o passado recente de duelos entre as duas equipas para apoiar a sua fé. «Nos últimos torneios a Alemanha tem ganho sempre. Por isso estou otimista», conta. De facto, Portugal já não vence a seleção alemã desde o Euro 2000, no famoso jogo do hat-trick de Sérgio Conceição.

Perdeu nos quartos-de-final do Euro 2008 e no jogo de abertura no Euro 2012. Antes disso, na única vez que estes dois países se encontraram na fase final de um Mundial, a Alemanha venceu o jogo de atribuição do terceiro lugar no Mundial 2006.

Ainda assim, Metzelder avisa para o trabalho que EUA e Gana irão, certamente, dar às duas seleções que considera favoritas. «São adversários perigosos», alerta.

«Klinsmann é um exemplo a preparar uma equipa a 100 por cento e a fazer evoluir jogadores», elogia o compatriota, que foi treinador por ele no Mundial 2006. Para o Gana as palavras são semelhantes, embora o conhecimento seja menor: «Tem bons jogadores e as equipas africanas têm qualidade e força física para ganhar a qualquer equipa, num jogo só.»

«Esta seleção é muito melhor que a de 2002»

Metzelder chegou à seleção alemã na antecâmara do Mundial da Coreia do Sul e Japão. Como se disse, a mannschaft era ainda uma máquina ainda a precisar de calibrar por aquela altura. Bem diferente dos tempos atuais.

Dessa equipa, aliás, resta Miroslav Klose e Metzelder garante que o avançado está com as principais qualidades intactas. «Já tem 36 anos, não posso dizer que está no auge mas continua a ser o que sempre foi: um goleador. Vai bater o recorde do Ronaldo», projeta.

Se, na altura, para além de Metzelder e Klose pontificavam na seleção jogadores como Oliver Kahn, Michael Ballack ou Jens Jeremies, o grupo agora é bem diferente. Para melhor, considera o central.

«Este grupo é muito melhor do que o meu em 2002! É um plantel cheio de juventude e de talento. Esta é uma geração de ouro. Só lhes falta mostrar que são capazes de ganhar um título», analisa Metzelder.

Do seu tempo – que ainda não terminou pois, aos 33 anos, joga no Tus Haltern, dos Distritais alemães para manter a forma – Metzelder lembra a «experiência impressionante» que foi jogar um Mundial.

«A ideia de estar a jogar contra a elite é fantástica. Estamos a jogar contra os melhores jogadores do mundo e a lutar pelo título mais importante, que tem tanta história. É uma oportunidade única para qualquer jogador e eu tive a sorte de estar em dois, um deles na final. Pena não ter ganho», lamenta.

«Portugal? Agora jogam em posse»

Falar de Portugal é, inevitavelmente, falar de Cristiano Ronaldo. O momento físico do maior goleador da história da seleção pode levantar algumas preocupações, mas os rivais desconfiam.

Christoph Metzelder, por exemplo, não deixa de apontar o avançado do Real Madrid como a maior ameaça à Alemanha para o jogo de abertura no grupo G, em Salvador da Bahia. Nesta entrevista ao Maisfutebol aborda a potencial da seleção portuguesa.

«O perigo maior é o Cristiano. Com a Bola de Ouro e a Champions no bolso, chega mais confiante que nunca. Pode decidir um jogo sozinho, já se sabe», analisa o antigo internacional alemão.

Mas não fica por aqui. Metzelder mostra-se conhecedor do grupo de Paulo Bento e destaca João Moutinho e os outros dois jogadores do Real Madrid (Pepe e Coentrão), clube que representou durante três temporadas, coincidindo com Pepe em todas elas e com Ronaldo na última.

É para o luso-brasileiro, aliás, que vão mais elogios: «Para mim é um dos melhores centrais do mundo.»

«Conheço-o muito bem porque jogámos juntos no Real Madrid. É agressivo, rápido e forte nas recuperações. Tem uma grande mentalidade também. Quer ganhar aos adversários com todo. Com ele não há jogos relaxados», descreve.

Metzelder, que jogava como central, elogia o naipe de soluções de Paulo Bento, dizendo que Portugal tem jogadores «de muita experiência» para aquela posição específica. «Para além do Pepe, têm também o Bruno Alves ou o Ricardo Costal. São jogadores experientes e uma garantia de segurança», completa.

Voltando a Ronaldo, Metzelder não acredita que o avançado se apresenta em baixo no Mundial até porque, a acontecer, «Portugal teria de mudar muito a sua forma de jogar».

Ainda assim, diz que a Alemanha está preparada. Porque é diferente. «Mudaram muito o seu estilo de jogo e podem surpreender», avisa.