Começou a época passada no banco do Boavista, terminou-a no Moreirense e com um oitavo lugar no final da Liga, mas não continuou no cargo. Apesar de ter mais um ano de contrato, Vasco Seabra explica a saída com um fim de ciclo justificado pela diferença de perspetivas com a direção dos minhotos.

Do adeus ao Bessa confessa guardar alguma mágoa, pela forma como não foi possível apresentar resultados numa época de mudança.

«Não podemos trocar 15, 16 ou 17 jogadores e com um estalar de dedos as coisas acontecem», recorda, sobre um plantel em que contou com um «jogador estratosférico» como Angel Gomes.

Por falar em talentos, Vasco salienta também o valor de Filipe Soares e Abdu Conté, dois internacionais sub-21 portugueses que deram nas vistas em Moreira de Cónegos e que estão a ser cobiçados pelo mercado, e recorda o despontar de Diogo Jota nos juniores do Paços.

Tudo numa longa conversa no Maisfutebol, numa tarde de calor no Parque Urbano de Paços de Ferreira, sempre com entusiasmo cativante a falar de futebol e um sorriso fácil, a perspetivar o grande futuro que tem pela frente.

Parte I: «Esperava um casamento feliz com o Boavista, custou-me sair tão cedo» 

Parte III: «Tenho o sonho de ouvir o hino da Champions»

MAISFUTEBOL – O Vasco Seabra treinou o Diogo Jota nos juniores do Paços de Ferreira. Na altura imaginava que ele chegasse a este patamar?

VASCO SEABRA – Seria mentiroso se dissesse agora que quando ele era sub-18 eu vi logo que ele ia chegar ao Liverpool e a titular da Seleção A. Era difícil imaginar isso. Agora, ele era júnior de primeiro ano e por uns dias – porque faz anos em dezembro – não era sub-17; e a verdade é que ele já era muito maduro. Sobretudo pelo nível competitivo que tinha. O Jota gosta muito de perceber o jogo, mas a melhor coisa que ele tem é a competitividade: cada exercício de treino para ele é a final da Liga dos Campeões. Isso fazia com que cada momento de treino para ele fosse a última bolacha do pacote… E ficava altamente frustrado quando a equipa dele perdia. Destacava-se por isso e, claro, por todo o talento que já demonstrava.

Encontrou logo a melhor posição para ele?

Ele foi passando por vários lugares. Médio mais abaixo, número 10, ponta-de-lança, ala… Em qualquer posição da frente ele conseguia ter uma influência muito grande. Ele vinha do Gondomar, da II Divisão de juniores, e no Paços fez uma primeira época muito boa, principalmente a segunda fase: fez 14 jogos, 17 golos. Logo nesse verão teve possibilidade de sair e o clube fez contrato profissional com ele. Jota fez a pré-época e o Paulo Fonseca gostou logo muito dele.

E não tardou em destacar-se na equipa principal.

Ele teve um problema nos testes físicos e teve de parar 15 dias, mas isso foi ultrapassado mesmo com idade de júnior mostrou logo que ia jogar na equipa principal. Percebemos que não era jogador para ser apenas titular no Paços, mas para ter uma carreira de nível alto em Portugal, pensávamos nós. Entretanto, ele deu este salto. Valorizo a humildade que ele continua a ter. Falo com ele algumas vezes e continua a ser exatamente o mesmo miúdo maduro e com uma ambição desmedida. Nunca se esquece dos seus pares e das pessoas que passaram na sua carreira. A humildade e ambição fazem dele o jogador que é.

O Paulo Fonseca continua a ser uma referência para si?

Continua. A forma como ele vê o jogo marcou-me quando esteve em Paços de Ferreira. Quase sem falarmos, ele levou alguns jogadores dos juniores para estágio e quando voltou quis falar comigo para perceber como é que eles já mostravam estar preparados para determinadas coisas que ele pedia. Receções orientadas, olhar para o jogo, etc… Isso aproximou-nos e percebemos que o jogo tinha coisas muito idênticas. O Paulo tem subido cada patamar e consolidado as suas ideias. Isso faz com que goste muito de ver as formas como as suas equipas jogam.

Estamos aqui com o estádio do Paços quase em fundo. Já deixou o clube há uns quatro anos. Continua a ser adepto?

Sou sócio do Paços há 35 anos. Não tenho o cartão aqui, mas tenho um número baixinho, 500 e qualquer coisa. Felizmente, o clube foi às competições europeias. Espero que volte a fazer uma boa época.