Um FC Porto irreconhecível, entre o hesitante e o deprimido, sem ideias nem confiança, abriu espaço ao escândalo: o Estoril ganhou no Dragão e quebrou longuíssima série de jogos dos azuis e brancos sem perder em casa para o campeonato. 

O conjunto portista não perdia em casa para a Liga desde outubro de 2008, desde os 2-3 com o Leixões.

Aproveitou a equipa de Marco Silva, muito arrumada, evoluída taticamente. Com a sorte do jogo, é certo, mas muito mérito no modo como defendeu e um excelente Vagner entre os postes.

Nunca o Estoril tinha ganho na casa do FC Porto: ao fim de 36 jogos, foi hoje a primeira vez.

Primeira parte muito fraca


Foi uma primeira parte fraquíssima do FC Porto. Sem chama, sem garra, sem conseguir pegar no jogo. O clima de descrença na equipa é por demais evidente.

O único elemento a destoar neste panorama desanimador para os azuis e brancos foi mesmo Ricardo Quaresma.

Cheio de vontade de mostrar serviço, com o desejo de provar que ainda pode voltar ao seu melhor nível, animado pelo golaço que assinou com o Eintracht, Quaresma procurava a felicidade, criava desequilíbrios, chamava a si quase todo o jogo ofensivo da equipa.

Mas estava só. Demasiado só. A falta de ideias do meio-campo portista foi notória. A ausência de um pilar, uma referência que coordenasse os processos e pusesse a máquina oleada saltava à vista.

Sem Lucho, ainda não há «Comandante»

Sem Lucho, ainda não se vê quem possa assumir a função de «Comandante» no meio-campo portista.

E essa equação ainda está por resolver no esquema de Paulo Fonseca: Josué tem capacidades ofensivas interessantes, mas não mostra dimensão para ser o suporte do jogo portista; Herrera está em processo de afirmação, mas acusou, nesta partida, demasiados erros em pormenores que definem um bom médios (tantos passes errados!).

Lá na frente, era a tal solidão de Quaresma. Jackson, apesar do jogo 50, não estava na sua noite, demorava a disparar. Varela assinou o melhor remate da primeira parte, para defesa de Vagner para canto. Só isso.

Assobios ao intervalo

Numa época de constantes sobressaltos na casa portista, esta foi mais uma noite de sofrimento.

Mesmo depois do trauma do 2-0/2-2 da noite europeia com o Eintracht, a maioria dos adeptos portistas presentes no Dragão (voltaram a ser bem menos do que era habitual) foram apoiando a equipa. Mas nos últimos minutos da primeira davam os primeiros sinais de impaciência.

Quando Vasco Santos apitou para o intervalo, o coro de assobios que se ouviu foi a prova de que o tal «divórcio» que Paulo Fonseca garante não existir entre adeptos e equipa está, afinal, a agravar-se.

Estoril arrumadinho


O Estoril reforçou, no Dragão, as ideias fortes que têm feito desta equipa a grande sensação da Liga portuguesa desde o início da época passada.

Uma equipa arrumadinha, sem grandes vedetas, com alguns jogadores de qualidade, mas acima de tudo uma enorme disciplina tática.

Nem a baixa de última hora de Gonçalo Santos, um dos mais influentes na estratégia de Marco Silva esta temporada, atrapalhou a apresentação estorilista na casa azul e branca.

Foi um Estoril coeso, que nos primeiros 25/30 minutos até quis discutir o jogo, perante as hesitações de um FC Porto tão distante do seu melhor.

Marco Silva optou por relegar Bruno Lopes para o banco, começando sem ponta-de-lança fixo, mas com Balboa tendo a liberdade de um «nobre vagabundo» (a meio da segunda parte, quase fez o 0-1, num remata a rasar o poste direito de Helton).

Sinal da maturidade deste Estoril de Marco Silva: as alterações de pormenor não descaraterizaram um conjunto que vale sua força coletiva.

Mais Porto, muito Vagner

Após o intervalo, o FC Porto carregou no acelerador. Quaresma esteve muito perto do golo, mas Vagner, com o corpo, evitou-o por duas vezes.

Houve mais FC Porto, sim senhor, sobretudo no primeiro quatro de hora da segunda parte. O Estoril recuou, Vagner brilhou: um dos melhores guarda-redes da Liga, sem dúvida. 

Escândalo

O Porto não marcava e lá voltava a depressão azul e branca. O Estoril agradecia, Balboa aparecia com perigo na área dos dragões.

Até que surgiu o lance do penálti. Evandro converteu de forma exímia. 0-1. O FC Porto ficou em choque e não mais recuperou.

Estava consumado o escândalo. Paulo Fonseca saiu a ver lenços brancos e sob um coro de vaias. O Estoril foi aplaudido pelos adeptos portistas. Inusitado.