«Estude, Walter. Estude mais».

É este o conselho que o avançado brasileiro deixa a si próprio, se pudesse recuar uns anos. Um conselho que faz questão de transmitir também a todos os jovens do bairro em que cresceu. A todos os jovens que não queiram cair no mesmo erro.

«Sou semianalfabeto. Escrevo o meu nome, com dificuldade, e algumas outras coisas», diz Walter numa espécie de carta aberta que publicou no Globoesporte. «Tenho muita vergonha disso. Um dos meus poucos arrependimentos na vida é esse. Aliás, o principal. Porque não tenho dúvidas de que a minha carreira tomaria outro rumo se eu tivesse estudado», entende.

O jogador revive as dificuldades da infância, desde o abandono do pai, agora desaparecido, ou o assassinato do irmão, por tráfico de droga. «Feridas abertas», diz.

Walter lembra que, ao assinar pelo Internacional de Porto Alegre, pediu o pagamento de um ano antecipado, de forma a ajudar a mãe a comprar uma casa.

Em 2010 acaba contratado pelo FC Porto, onde diz ter sentido «o peso de estar à margem de tudo e não entender bem as coisas».

«Fui vendido por um valor. Disseram-me outro. Menor. Tipo assim: prometeram-me um salário de 30 mil euros e recebia 15 mil. Prometeram-me uma luva de 500 mil reais e não pagaram até hoje. Eu não sabia quando valia o euro, cara. Falava: “que moeda é essa, que moeda é o dólar?!”. Jogar no Porto, naquele momento, bastava. Dividir o campo com Hulk, Falcao…», recorda.

Walter diz que só começou a pensar no dinheiro após o nascimento da filha. E foi isso que o levou a querer voltar ao Brasil, então para o Cruzeiro.

«Sofri duas lesões e joguei pouco e mal», recorda.

Mais tarde, em 2018, surgiu o caso de doping, quando era jogador do CSA. «Tomei um remédio para emagrecer depois de receber uma mensagem de uma mulher no Instagram, a pedir uma parceria. Falei com o médico do clube e ele autorizou», garante.

«Sumi do mapa por dois anos. Isolei-me. Não via televisão, não via futebol. Cheguei a participar em “peladinhas” para ganhar dinheiro», revela.