Veneno de Guacará, águia asfixiada. Yonathan Del Valle, filho pródigo da pequena cidade venezuelana, serviu o menú viperino aos 90+5 minutos do Rio Ave-Benfica. E tornou-se a Figura da Jornada para o Maisfutebol.  

A entrevista ao nosso jornal serve, antes de mais, para recuperar os instantes decisivos da brilhante vitória do Rio Ave.

«Aprendi que nos últimos minutos é mais fácil fazer a diferença. Temos de gerir o corpo e a cabeça para agarrar a oportunidade quando ela surge. Falhei uma antes, mais fácil até, mas à segunda fui feliz», diz o avançado, de 24 anos.

E tudo começou num lançamento lateral mal feito por Maxi Pereira. «O Tarantini recuperou a bola, entregou ao Diego Lopes e ele abriu na esquerda. Recebi e fui para cima do Jardel. Acreditei mesmo que ia ser golo, queria mostrar a Portugal o meu valor».
 

Del Valle em luta com Samaris no Rio Ave-Benfica

Del Valle fez o seu oitavo golo na temporada e vingou as derrotas recentes do Rio Ave contra a equipa de Jesus. «Não queríamos falar muito disso, mas as três finais contra o Benfica tinham de ser vingadas. Este 2-1 foi muito especial, para o clube, para os adeptos e para mim, claro».  

Como facilmente se verifica com os dados seguintes, Yonathan Del Valle está a fazer a melhor temporada desde a chegada a Portugal, no verão de 2012. Um ano depois de se ter transferido da Venezuela para o Auxerre, em França.

Números de Del Valle em Portugal:

. 2012/13: Rio Ave, 28 jogos oficiais/2 golos
. 2013/14: Rio Ave, 13 jogos/2 golos
. 2013/14: Paços Ferreira, 21 jogos/4 golos
. 2014/15: Rio Ave, 34 jogos/8 golos *

* época a decorrer   

Terá sido este o melhor momento de Del Valle nos relvados portugueses? O atacante garante que não.

«Já tive outros tão bons ou melhores. Em Paços Ferreira tive dois ou três jogos espetaculares e ajudei a salvar o clube da descida. E este ano já marquei dois golos ao Aalborg na Liga Europa», considera o sul-americano.

Diante do Benfica, Del Valle iniciou o jogo a extremo, passou a ser ponta-de-lança com a saída de Hassan mas, curiosamente, nenhuma dessas posições é a sua favorita.

«Na Venezuela fui sempre um número dez, um segundo avançado. Na Europa fui obrigado a mudar, a jogar mais vezes como extremo, pois poucas equipas têm um dez de raiz»
, acrescenta o atleta, dez vezes internacional pela Vino Tinto, a seleção da Venezuela.
 

Del Valle na primeira época em Vila do Conde

Yonathan Del Valle é, essencialmente, «um avançado móvel»
. E foi essa característica a espalhar a confusão na defesa do Benfica.

«Quando o Hassan saiu tive um período em que estive um pouco perdido. Mas na segunda parte, quando a equipa se equilibrou, foram os centrais do Benfica a ficar desorientados. Senti isso a partir de determinada altura»
.    

Luisão acabou mesmo por ser expulso; Jardel foi a vítima de Del Valle no um para um antes do remate para o segundo golo vilacondense.

«Sinto que sou um jogador mais forte, mais completo. A meio da época passada fui emprestado ao Paços Ferreira e a partir daí explodi»
, confessa o atacante.

«A mudança aconteceu aí. Passei a sentir a confiança de todos, passei a perceber que podia errar e voltar a tentar. Acho, aliás, que isso é o resumo do meu jogo contra o Benfica. Insistir e insistir até ser feliz»
.