Marco Alexandre Saraiva da Silva, Marco Silva no futebol, é um de muitos portugueses que tem expandido a marca da qualidade dos treinadores lusos por esse mundo fora.  

Fez história no Estoril, venceu uma Taça de Portugal no Sporting e depois emigrou para a Grécia, onde foi campeão com as cores do Olympiakos.

Nos últimos anos tem andado por Inglaterra: as primeiras experiências, no Hull City, no Watford e no Everton, não foram brilhantes, mas foi no Fulham que se deu a conhecer verdadeiramente por terras de Sua Majestade, com a subida à Premier League, numa época de alto nível da equipa de Londres.

Numa entrevista exclusiva, o Maisfutebol/TVI encontra Marco Silva por terras algarvias, onde o Fulham participou no Troféu do Algarve, para preparar o regresso ao principal escalão do futebol inglês

Entre vários assuntos, o técnico português aborda a contratação de João Palhinha, elogia Fábio Carvalho e passa os olhos pelo futebol português: desde a chegada de Roger Schmidt ao Benfica a um possível regresso à Liga.

Nesta parte da entrevista, Marco Silva faz o ponto de situação sobre este regresso do Fulham à Premier League, lembra o «seu» Estoril que fez história e assume que contratar no mercado português é muito difícil.

PARTE I – Marco Silva: «Lutámos muito para ter o Palhinha, será muito importante»

PARTE II – Marco Silva: de Schmidt no Benfica e um possível regresso a Portugal

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Nas últimas duas vezes que o Fulham subiu, não conseguiu a permanência. O clube este ano está pronto para se fixar entre os grandes da Premier League?

Em relação às últimas épocas, para mim é difícil falar, apesar de conhecer bem a realidade, pois fui adversário do Fulham nessas duas vezes. Percebo a pergunta, muita gente em Inglaterra também fala disso, mas temos é de concentrar-nos no presente e no futuro e ter confiança em nós. Só o futuro irá dizer se fizemos um bom trabalho ou não. Estamos num processo de reforço da equipa, tomámos a decisão de deixar sair um bom número de jogadores. Agora compete-nos preparar a época da melhor forma possível, para depois sermos o mais competitivos que conseguirmos para termos uma época de sucesso.

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Estamos longe disso, estamos longe de estarmos preparados, é uma realidade. Temos apenas dois jogadores contratados, mais um que será oficializado muito em breve, que já está connosco [Manor Solomon]. Mas ainda falta algo mais para sermos a equipa que eu desejo. Temos uma base boa, que fez uma época extraordinária. Esta equipa deu um título ao clube e acima de tudo fez com que os adeptos criassem uma ligação muito forte com a nossa ideia e a nossa filosofia. Isso foi muito importante. Não só porque conseguimos vencer, mas sobretudo pela forma como o fizemos. Queremos seguir esse caminho e para isso precisamos de acrescentar qualidade a este grupo, que já tem bastante. Depois, como sempre –  é um clichê –, os resultados veremos no fim. Mas queremos ser competitivos e encarar todos os jogos com a máxima ambição possível. Estamos a falar de uma equipa que veio de preparar todos os jogos para ganhar. É a minha forma de estar e a minha forma de ver o futebol, bastante positiva. É assim que quero continuar. Temos de fazer o que ainda não fizemos nas próximas semanas.

O Fulham da época passada foi demolidor.

Foi bom de ver e de estar presente. Depois chegar ao final da época e ter sucesso deixa toda a gente satisfeita. Todas as semanas tivemos um prazer enorme de ver o que a equipa estava a fazer, sentimos que os jogadores, como se costuma dizer, compraram a nossa ideia e fomos sempre melhorando. Quem acompanhou, percebeu que fomos dominadores num campeonato muito difícil e competitivo, onde por vezes é muito complicado ter uma ideia de construção e de posse. Mas não fomos só uma equipa de posse, em alguns momentos fomos muito objetivos. Isso é um grande mérito dos jogadores. Vinham de uma época muito difícil, na qual só tinham ganho cinco jogos, mas acreditaram desde a primeira hora.

Marco Silva venceu o Championship com o Fulham

Quando se fala do Marco Silva é impossível não destacar o Estoril de 2011 a 2014. Mas olhando para o Fulham de 2021/22, este foi o seu melhor trabalho da carreira?

Comparar trabalhos não é fácil. O Estoril foi a minha primeira experiência como treinador, foram três anos fantásticos. Fizemos algo que nunca ninguém tinha feito naquele clube e no futebol português: subir e qualificar-se para a Liga Europa nos dois anos seguintes. Todos os trabalhos acrescentam-nos algo, uns de maior sucesso, outros nem tanto, mas faz parte. O Fulham é a quarta equipa que vou orientar na Premier League, sei para o que vou. Respondendo à pergunta, não sei se foi o melhor ou o pior. Prefiro dizer que o melhor ainda está para vir, vamos trabalhar para isso.

Marco Silva treinou o Estoril de 2011 a 2014, já depois de ter sido jogador e diretor-desportivo do clube

Já contratou o Palhinha ao Sporting. Assumindo o desejo de contar com mais reforços, recrutar mais jogadores no futebol português é uma possibilidade?

Acima de tudo, é um mercado muito difícil. Há muita qualidade, mas a dificuldade de contratar um jogador em Portugal é enorme. Os treinadores trabalham muito bem e os jogadores têm uma projeção a nível internacional que torna difícil depois conseguir contratar no campeonato português por valores que não sejam elevados. Além de formarmos bem, também vendemos bem. Há muita qualidade, há muito por onde vir buscar, mas será muito difícil. O mercado português exige que os clubes gastem quantias elevadas de dinheiro nos jogadores de maior qualidade.