O FC Porto-Benfica da próxima quarta-feira vem na hora certa por uma série de razões. Claro que tudo seria mais interessante se, tratando-se como se trata de uma eliminatória a duas mãos, ela ficasse decidida... vá lá, digamos que num prazo de três semanas - isto já concedendo ao futebol português uma semana de tolerância em relação ao que é normal nas competições de futebol pelo mundo fora.

Pronto, reconheço que posso estar equivocado em termos históricos e assumo algum desconhecimento de como se organizam calendários nas Ilhas Barbados ou na Suazilândia, mas ter a primeira mão das meias-finais da Taça a 2 de Fevereiro e a segunda a 20 de Abril (sim, releia: 20 de Abril!) é no mínimo bizarro.

Olhemos então para o clássico do Dragão como um jogo isolado, coisa que, por sorte, em nada o minimiza, já que estarão em palco as duas equipas que Portugal mais quer ver defrontarem-se.

O ano de 2011, agarrando pontas soltas que já vinham dos finais de 2010, trouxe-nos um Porto aqui e ali hesitante, mas sempre presente na hora de continuar a decidir as coisas a seu favor. Façamos o obséquio de considerar a derrota caseira com o Nacional como aquele acidente de percurso que até ao Barcelona pode acontecer (e aconteceu, quando foi derrotado em casa pelo Hércules). Daí para a frente, mais exibição menos exibição, foi sempre a somar como de costume. E, nem de propósito, na noite em que o Benfica ganhou o direito à meia-final da Taça o dragão despachou o mesmo Nacional com clareza e aumentou para 11 pontos (um jogo a mais) a vantagem sobre o Benfica na Liga.

O Benfica está de volta. Depois dos tropeções - e que tropeções! - da primeira fase da época, Jorge Jesus reconstruiu a fórmula do sucesso. Os novos jogadores adaptaram-se, os velhos fantasmas esfumaram-se e a qualidade voltou a prevalecer no jogo encarnado. O número de vitórias consecutivas já impressiona, agora faltava um teste de grau máximo. Aí está ele.

Ninguém pode garantir que o Porto não volte a esmagar o Benfica como fez na Liga - em futebol quase tudo pode acontecer. Mas, pelo contrário, já ninguém pode garantir nesta altura que o Benfica não se imponha no Dragão, ou pelo menos não adie para Abril a decisão da meia-final da Taça.

Digamos que este jogo é uma prova de aferição a meio do percurso, que pode aproveitar a ambas as equipas por aquilo que dirá sobre o futuro próximo.

Claro que na quarta-feira ninguém se vai lembrar que o jogo é de Taça, mas isso é um problema para ser resolvido por quem manda nos calendários.

*Editor Desporto TVI

P. S. - As meias-finas da Taça a duas mãos visam obviamente tentar o maior número possível de finais entre os mais fortes do futebol português. Sempre os dividendos à frente do espírito. Acontece que, por um lado, mesmo sem invenções destas as finais já era maioritariamente entre os grandes; por outro lado, este ano já é certo que um histórico do andar de baixo estará na final: Merelinense, V. Guimarães, V. Setúbal ou Académica