Mesmo que os jornais da especialidade se esforcem por disfarçá-lo, a verdade é que a atualidade desportiva está por estes dias muito mais marcada pelos Jogos Olímpicos do que pelas mundivivências dos clubes de futebol.

Há quem goste realmente de outros desportos e aproveite para tirar a barriga de misérias televisivas; há quem não siga habitualmente o atletismo, a ginástica, a natação ou o basquetebol, mas em Agosto de Jogos não resista aos encantos de grandes desportistas como Phelps e Bolt, manchetes de jornal desportivo em toda a Europa exceto esta do canto. Também há quem simplesmente se entretenha a destratar a participação olímpica portuguesa porque é bem capaz de voltar a casa sem medalhas. Qual é a estranheza?

Pelo meio, os históricos candidatos ao título português de futebol (ia dizer crónicos, mas na verdade nem todos o são) têm histórias mal contadas e outras por acabar. Noutros defesos, haveria muito mais celeuma em torno de algumas delas, mesmo em Agosto. Vamos a exemplos:

No Porto há uma lista de dispensados de luxo que não sabe o que vai ser de si amanhã. Dentro de todo o relativismo destas matérias, parece-me que no caso de um jogador como Belluschi - pelo menos ele - a situação é de todo inusitada e a precisar de explicação (isto no caso, obviamente, de haver interesse em que alguém a entenda). No último Porto realmente avassalador, o argentino foi pedra bastante influente. Que rode por empréstimo pode discutir-se, mas faz parte do roda e vira do futebol. Que acabe a treinar desencontrado do plantel principal é no mínimo incrível. Entretanto, paira sobre os portistas o espetro da eventual saída de Hulk, que seria aliás bem natural. Ou mesmo da de Moutinho, embora aqui pareça sempre haver mais fumo que fogo.

No Benfica escorrem milhões, a alimentar a renovação sazonal da esperança. Mas ninguém tira a inquietação aos adeptos perante a possibilidade de Cardozo ser vendido. É certo que, nos últimos dois anos, deve ter havido uma proposta real por cada dez interessados de página de jornal, mas de qualquer forma ninguém garante que um destes dias não apareça mesmo uma oferta irrecusável. E se ela aparecer... há Rodrigo, sim senhor, mas Nélson Oliveira foi emprestado ao Corunha. De menino bonito, que mesmo sem jogar era a garantia de futuro do Benfica e de Portugal, passou a emprestável. Curioso. Quase tão curioso como ter o ex-titularíssimo Emerson a treinar com a equipa B. Capdevila, pelo menos, arranjou clube com relativa facilidade.

No Sporting, a ritmo certo e compassado, entra talento por um lado e sai pelo outro. Entram centrais e laterais esquerdos mas sai o lateral direito da seleção por dois tostões e meio; chegam (ou regressam) jogadores para dar nova vida ao meio campo mas sai o único verdadeiro fantasista; o melhor lateral esquerdo do último campeonato parece perder o lugar para um médio adaptado e a ex-referência Onyewu é quinta escolha para central. Diz-se que estão para venda porque é preciso encaixe financeiro. E assim permanece o Sporting no círculo vicioso: precisa de bons jogadores e dinheiro para eles, mas só tem dinheiro se vender os outros bons que já tinha. Um dia alguém vai perceber qual é o ovo e qual é a galinha da história: ganhar jogos para depois ganhar dinheiro ou o contrário?

Sábado há Supertaça, domingo acabam os Jogos Olímpicos. Depois vamos ter dez meses para discutir isto tudo. Até já.

*Editor TVI

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