Por Pedro Catita
 
É um desaire inglório, mas o futsal é isto e não há ses no desporto. Jogo de sentido quase único merecia outro desfecho. Mas a qualidade na finalização é quase sempre o fator determinante na nossa modalidade. Rematar 50 vezes, sendo apenas 18 na baliza (1 golo), é uma eficácia abaixo da média. A Sérvia teve mais rendimento neste aspeto, com mais de metade dos remates enquadrados com a baliza (3 golos). 
 
Mas Portugal jogou mal? Não concordo. Os primeiros minutos foram avassaladores, com muitas oportunidades claras. Das melhores entradas em jogo na nossa história de fases finais. Frente a cinco em campo e 11 mil nas bancadas. A Sérvia por baixo e desesperada. Demérito na hora de finalizar e mérito do guarda-redes? Sim. Mas é fácil apresentar este rendimento? Nada fácil. Atacar e defender muito bem com bola, perante defesa baixa, só está ao alcance das melhores equipas. Parecia situação de treino do ataque. Primeira parte de grande nível...exceto nos golos. Ao intervalo deveríamos estar com vantagem confortável. Normal. Mas não há ses. Apeteceu chorar de raiva.  
 
Segunda metade menos forte, mas igualmente dominadora. O volume de jogo até aos 36 minutos merecia outro resultado. Fizemos por isso, qualidade, compromisso e atitude de nível elevado. Minutos finais com desatenções fatais (na alta competição não se pode descer abaixo de determinado nível) e situação de guarda-redes avançado improdutiva. Derrota injusta? Não há derrotas/vitórias injustas. O jogo fala sempre a verdade. Mas apeteceu chorar de raiva. 
 
Por outro lado, também não concordo com a teoria da excessiva individualização de Ricardinho no jogo coletivo da equipa. Só pode ser assim. Como era o jogo dos Chicago Bulls com Michael Jordan em campo? Óbvio. Algum treinador consciente e não lírico não o faria? Não acredito. Eu vejo o respeito e o medo queos adversários têm quando ele está em campo. No final é o conjunto que vinga, mas o melhor do mundo – de longe - tem que jogar sempre. Com suporte coletivo, mas é ele e mais quatro. Assumido por todos, sem drama, pela positiva.  
 
Agora venha a difícil Espanha. Entre outras virtudes que poderia enumerar, para mim é a melhor equipa do mundo nas bolas paradas ofensivas, na ocupação defensiva do corredor central, no fechar eficaz do cone de finalização adversário, na comunicação técnico-tática entre os jogadores, na potenciação do eixo membros/bacia de cada jogador em cada lance, e na capacidade de mandar no jogo. É difícil sim.  
 
Mas a Espanha é imbatível? Não. Portugal é favorito aos olhos do mundo? Não. Portugal tem futsal para ganhar? Sim. Portugal vai contar com o regresso de Cardinal? Sim. Portugal tem qualidade de jogo suficiente para ser superior? Sim. Podemos gerir os ritmos de jogo? Sim. Teremos que jogar muito bem e competir perfeito? Sim. Teremos que ter sempre, mas sempre, os retrovisores ligados? Sim. Teremos que evitar todo e qualquer erro primário? Sim. Temos soluções invididuais e coletivas suficientes? Sim. Então, toca a jogar e a competir! 
 
Amigos e amigas, o grupo (staff,equipa técnica, jogadores) trabalha muito bem, todos querem ganhar , todos merecem ganhar como nunca. Somos muito respeitados. Eu sou testemunha. Eu posso provar. Eu não faço achismo fácil (eu acho isto, eu acho aquilo,...), principalmente depois dos desaires. Somos uma seleção de top que joga desde 1999 nos maiores palcos da Europa e do Mundo. O Futsal Português – a muitos níveis – é invejado pelos agentes e comunidade internacionais. Eu posso provar,mais uma vez. O jogo tem três resultados? Sempre teve, tem e terá. Podemos cair nos quartos-de-final? Sim. Podemos cair nas meias-finais? Sim. Podemos ser campeões? Sim! E então? Estamos cá!!!- 
 
Problema: Qual o nome do golo de Ricardinho? Solução:Diablo
 
Amigos e amigas, como gostaria de estar a escrever sobre este tema com uma alegria diferente. Mas é impossível não falar do golo de Ricardinho, mesmo após uma derrota difícil de engolir. É impossível não falar hoje, amanhã, todos os dias, todos os anos. sempre. Um momento individual perfeito. Arte em estado puro. Apeteceu chorar de alegria. 
 
O lance mágico diante de Prsic, ainda por cima resultando em golo, vai ficar para sempre num dos meus neurónios. Fazer no recreio é difícil, fazer em treino é muito difícil, fazer em jogo é muito mais difícil, fazer numa fase final é ainda mais difícil, fazer quando se está a perder é incrível, fazer perante cinco adversários dispostos em oito metros é verdadeiramente único. Nunca visto. Afirmo categoricamente que é o melhor golo de Futsal de sempre! Foi um português, foi num jogo da seleção nacional. Foi o Ricardinho, fomos nós, foi Portugal! 
 
Duas cerejas em cima do bolo. Primeira cereja: Nos primeiros festejos de Ricardinho, atentem nos sorrisos dos cameraman. Segunda cereja: 11200 adversários a aplaudir e a festejar quase efusivamente de pé fica igualmente na história do desporto. Eu vi e senti ao vivo! O bruá nas bancadas foi arrepiante e marcante! Apeteceu chorar de alegria. O golo só criou um problema ao mundo do futsal. Qual o nome a dar? Elástico? Hula-Hula? Eu assumo a solução: Diablo. Exatamente como aquele objeto manuseado no malabarismo com paus e corda. Avanço com Diablo, concordam? Ricardinho, concordas?