O Euro do ano 2000 não vai ser igual aos outros. A recordação de 92, na Suécia, e 96, na Inglaterra - para referir apenas os únicos realizados na década de 90 - não contempla a existência da tecnologia de ponta do momento, traduzida na força e objectivos, sem fim, da internet.  

Agora o acesso à informação deixou de ter limites, da mesma forma que o registo deste evento apresenta conteúdos e formas completamente distintas das anteriores. O futebol e os jogadores acompanharam o avanço das técnicas de informação que hoje os colocam, cada vez mais, no centro das atenções do negócio mais rentável de momento ¿ o futebol. 

Ao recordamos 92 surge-nos a imagem de jogadores altos, com corpos musculados e bronzeados, que entre dois mergulhos se dispuseram a realizar meia dúzia de jogos mais a sério. Eles transformaram o Euro-92 numa panóplia de opiniões contraditórias. Pela forma como chegaram ao Europeu ficou no ar a pergunta, de imediata transformada numa nova máxima... cómoda e perigosa: afinal não é necessário trabalhar muito para ser campeão. 

Mas a Dinamarca tinha jogadores de grande qualidade, na sequência de presenças notadas em 84, na França, e continuada nos Europeus e Mundiais seguintes, sendo essa a base do seu sucesso - jogadores que permitiram a estruturação de uma equipa de talento e trabalho, onde de facto os jogadores assumiram - além da organização táctica - a condução do jogo e dos seus destinos. A verdade é que a Dinamarca e os seus jogadores se prepararam muito bem para o Europeu, porque o afastamento da Jugoslávia era um facto garantido. 

Onde estão as diferenças?  

Em 96, já com a presença de Portugal e com os primeiros passos de uma equipa francesa que faria sensação dois anos depois, regressamos ao habitual: a ordem, disciplina e seriedade competitiva dos alemães. O entendimento de certas questões do futebol passa pela observação atenta da história e da sua evolução: em 72, 76, e 80 os alemães foram finalistas. Venceram em 72 e 80 e perderam nos penalties em 76. Interromperam este ciclo em 84 e 88, entregando à França de Platini e à Holanda de Gullit e Van Basten os títulos, por força da qualidade dos jogadores que integravam as duas selecções.  

Os anos 70 foram de facto decisivos na evolução do futebol, pela introdução de uma nova concepção de metodologia de treino, cujos resultados mais visíveis e acentuados se verificavam no aumento e constância dos ritmos de jogo, por força do aumento da condição física dos jogadores.  

Foram os anos luz da República Democrática Alemã, Polónia, Checoslováquia, U.R.S.S. e das escolas de treino do leste da Europa, a que a Europa latina e central procurou reagir - mantendo-se os anglo-saxões nas suas fronteiras por muitos e bons anos - melhorando os processos e aumentando os níveis de treino, valorizando as questões físicas e partindo para conteúdos de treino de valorização técnico-táctica, como factores decisivos da evolução dos jogadores, que se tornaram mais fortes. Isso foi fundamental no desequilíbrio dos jogos, dos resultados e dos títulos ¿ 84 para a França e 88 para a Holanda. 

Existia a ideia que Portugal e França poderiam trazer um pouco disso ao Europeu de 96. Mas não, ficaram pelo caminho. Como sempre, a Alemanha manteve-se no trilho, ganhando sem se perceber muito bem como. A República Checa e os génios de Poborsky, Berguer ou Nedved adoçaram apenas o trajecto do futebol frio, seguro, competitivo dos alemães. Os mesmos, ou outros, que neste Europeu acompanham Portugal na série da primeira fase. 

Passaram quatro anos, de novo França, Portugal, Itália, Espanha, até a Holanda apresentam jogadores e estruturas de equipas com bom futebol e muita paixão. A ciência do treino avança, mas não é hoje tão diferente como em 60 e 70; onde estão as diferenças então? Na ordem, só, ou no talento? O Europeu vai começar, talvez as respostas surjam mais adiante....