Na altura, Sammer era «só» um jogador. Mais grave ainda, era um jogador lesionado. Talvez por isso se lembre melhor do que os outros da derrota no Bessa. Aconteceu há dois anos, mas ainda hoje, já na condição de treinador, lhe inspira um «grande respeito» pelo Boavista, uma espécie de veneração crescente, a que o empate em Liverpool e a vitória sobre o Dínamo não são propriamente alheios. 

A pose e o discurso garantiam a serenidade do treinador do Borússia, que defraudava as expectativas dos persistentes pedidos de confissão. «Não, não estou admirado», decepcionou. «A forma como o Boavista jogou há dois anos já foi impressionante de sobra». Jura que o comportamento europeu da equipa portuguesa não o apanhou de surpresa e fala em «boas recordações» a propósito do adversário, talvez a pensar na vitória, por 3-1, em Dortmund, no princípio do fim da sua carreira como futebolista. 

Sem rodeios e de resposta breve,Mattias Sammer admite que o jogo do Bessa «é decisivo» para o Borússia, mas não se apoquenta diante do risco. «Temos sempre jogos importantes», desdramatiza, seguro de que o fim da equipa de Dortmund na Liga dos Campeões ainda estará longe, mesmo que perca amanhã. Só o adversário o preocupa, realmente, porque, esclarece, «tem uma técnica de jogo surpreendente». O treinador explica-se: «O Boavista joga rápido e é tecnicamente muito forte. É impressionante». 

Os 64 anos da dupla de centrais 

O que pode então fazer o Borússia diante de um adversário endiabrado, que recolhe elogios a cada análise de Sammer? O treinador já tem método preparado, mas, por estratégia, defesa e teimosia, não a revela. Sem sorriso à mistura, deixa escapar apenas um pedaço de bom-humor: «Não me importarei se ganharmos jogando devagarinho...». Importa-se, sim, se o Borússia folgar as marcações. «Há alguns jogadores do Boavista que merecem o nosso cuidado», disse. Só não disse quem. «Não vou idividualizar», escusou-se. 

A velocidade do ataque axadrezado, pormenor a que Sammer se referiu repetidamente, colocava-lhe uma outra questão. Worns e Kohler, que formam a dupla de centrais, somam 64 anos. Não serão demasiado velhos para a missão? O treinador garante que não: «A idade não importa, o desempenho é que conta».  

Os temas estavam praticamente esgotados, mas Mattias Sammer não deixaria acabar a conversa sem nova referência à qualidade do Boavista. «Empatou em Liverpool e venceu o Kiev», lembrou, novamente. «Tem que merecer o nosso respeito». Apesar da vénia, o treinador não reconheceria a superioridade do adversário. Será o Borússia mais forte? «Isso é o que vamos ver...», desafiou. A proposta parece interessante.