Emocionante, acima de tudo emocionante e disputado até ao último segundo. Com esta vitória na Mata Real o Rio Ave deu um passo importantíssimo para a permanência, não só porque foi alcançada no terreno de um dos adversários directos nessa luta, mas também pela afirmação de personalidade, que foi mais do que suficiente para ultrapassar um opositor muito fragilizado psicologicamente.

A chave do jogo esteve no golo apontado logo aos dois minutos por Evandro, aproveitando uma desatenção imperdoável da defesa pacense, que o deixou sozinho no coração da área. Com a corda na garganta, pela aflição de estar no penúltimo lugar, o Paços de Ferreira demorou muito a reagir e quando o conseguiu não teve a segurança necessária para suster um adversário mortífero no contra-ataque. Evandro bisou e colocou o Rio Ave muito perto dos lugares europeus. A verdade é que neste momento a equipa orientada por Carlos Brito tem a permanência praticamente assegurada e está apenas a quatro pontos de Nacional e Marítimo, que são quintos classificados.

Com uma forma bem simples de abordar o encontro, totalmente liberta de pressões, os vila-condenses viram-se em vantagem pouco depois de terem entrado em campo e estiveram muito perto do 0-2, mais uma vez por Evandro, que conduziu a bola ao poste. Pelo meio assistiu-se à reacção da equipa da casa, com o guarda-redes Mora a brilhar perante remates de Fernando Gaúcho e Manduca. Depois da produção ofensiva, surgiu o complemento defensivo justificado pela solidez dos centrais Idalécio e Franco, para além da boa exibição do guardião catalão.

Golos e emoção

José Mota teve de mexer num esquema que se apresentou talvez um pouco defensivo demais, uma vez que jogou com dois «trincos» (Paulo Sousa e Glauber) e Beto numa missão intermédia, mas incapaz de distribuir jogo. Só com a entrada de Puntas algo mudou para melhor e a equipa regressou a uma pressão que chegou a ser muito intensa, embora nem sempre conduzida da melhor forma. Com o Rio Ave a defender sempre bem a solução surgiu através de cruzamentos para a área, até que num desses lances a bola acaba por sobrar para Puntas, que faz o empate (aos 78 minutos).

Com cerca de quinze minutos para disputar, o jogo estava aberto e havia uma certa sensação de que a vitória poderia pender para qualquer das equipas. O Paços acreditava, enquanto abria espaços na defesa. Em dois minutos, porém, Ronny esteve perto de marcar - cabeceou ao lado - e, depois, acaba por conduzir um contra-ataque que levou Evandro a apontar o golo do triunfo (80m). A desatenção da defesa foi enorme, à semelhança do que já tinha ocorrido no 0-1, mas desta vez foi desvendada na totalidade a fragilidade emocional de uma equipa que lutou até ao fim para evitar a derrota, mas que num ápice voltou a cair no abismo.

Até ao último apito só houve Paços de Ferreira. Desesperado e atabalhoado. Surgiram cantos atrás de cantos, livres atrás de livres, cartões amarelos, muito coração e pouca razão. A bola sobrevoou a área adversária e nunca mais entrou na baliza. A vitória estava entregue à equipa mais experiente e produtiva, decididamente mais perigosa, que até podia ter marcado mais golos, mas preferiu gerir a vantagem com ponderação.

O árbitro Hélio Santos não teve uma tarde tranquila e saiu do relvado com alguma contestação. Os pacenses reclamam que o cruzamento para o primeiro golo surgiu após Jacques ter acotovelado Zé Nando e aos 76 minutos foi pedida uma grande penalidade depois de Fernando Gaúcho ter caído na área. Se no primeiro lance a existir algo deveria ter sido o árbitro assistente a assinalar, no segundo o juiz principal esteve bem, pois o defesa do Rio Ave apenas tocou na bola.