A FIFA confirmou há momentos em comunicado que irá apresentar à Comissão Europeia um conjunto de propostas para rever o sistema de transferências de jogadores. Entre várias concessões, as instituições do futebol admitem a abolição do pagamento de indemnizações a jogadores maiores de 24 anos, embora abram caminho a «um sistema de compensação» para contratos rescindidos antes de expirarem. Ainda assim, está aberto o caminho para uma revolução no futebol europeu, com o fim das transferências milionárias para jogadores no decurso do contrato. 

Após uma reunião conjunta com a UEFA e representantes de Federações, Ligas e dos jogadores, foi decidido criar uma «task-force» conjunta, que irá levar a cabo as negociações com a Comissão Europeia e elaborará um documento definitivo com as propostas até à próxima quarta-feira, 6 de Setembro. 

A comissão conjunta admite a revisão do regulamento de transferências, que a Comissão Europeia pretende abolir, mas tenta salvaguardar alguns aspectos, nomeadamente «a protecção de jovens jogadores», «a protecção e compensação de clubes que treinam novos jogadores» e «a rescisão unilateral de contratos de jogadores.

No que diz respeito à primeira questão, a proposta pretende evitar transferências de menores para fora dos seu país: «Para proteger os jogadores jovens, deve haver um limite etário mínimo de 18 anos para transferências internacionais», lê-se no comunicado.  

No segundo, as instituições do futebol procuram defender os clubes no que diz respeito à saída de jogadores até 24 anos: «Os clubes que treinem jogadores jovens devem ser compensados pelo seu trabalho, sendo tais compensações devidas por jogadores até aos 24 anos de idade e calculadas na base de um modelo a ser ainda aprovado.» 

A terceira questão é mais dúbia. Embora deixando implícita a ideia de que não levantará obstáculos ao fim das indemnizações milionárias por transferência de jogadores maiores de 24 anos, a comissão conjunta deixa no ar a criação de um «sistema de compensação»: «Deverá ser montado um sistema que regule questões de compensação no caso de contratos rescindidos antes de expirarem». 

A «task-force» defende ainda a duração mínima de um ano para os contratos e propõe que as federações nacionais devem «permitir transferências apenas uma vez por ano» e garante que lhes será pedido que «dêm aos jogadores e clubes tão poucas razões quanto possível para se sentirem tentados a terminar um contrato prematuramente». 

«O regulamento de transferências não pode ser abolido por completo. Nesta altura, ninguém poderia imaginar que consequências esse passo teria», defende Joseph Blatter, o presidente da FIFA, citado no comunicado. Blatter pediu ainda «tempo» para analisar melhor as questões. 

«Actuais contratos não serão modificados» 

A comissão conjunta disse ainda que iria ser criado um período de transição para a entrada em vigor das novas medidas, e que os actuais contratos «não serão sujeitos a eventuais modificações do sistema de transferências». Mais uma tomada de posição dúbia... 

Espera-se agora por uma reacção da União Europeia por este primeiro sinal de abertura da FIFA e da UEFA. O comissário europeu para a concorrência, Mario Monti, que é o grande impulsionador da intenção de abolir o actual regulamento de transferências, tem-se mostrado intansigente na questão, defendendo que o sistema em vigor viola o direito dos trabalhadores à livre circulação. 

E ainda hoje a comissária europeia para o desporto, Viviane Reding, repetiu essa ideia, antes de conhecer o desfecho da reunião de Zurique: «Acho escandaloso que jogadores, pequenos ou grandes, sejam utilizados como mercadoria, como objectos de especulação. Não é digno de países civilizados, mas é o que se passa em alaguns clubes.»