Hugo Leal tem alguma dificuldade em traduzir os sentimentos que o invadem nesta altura. Pode ser pela primeira vez campeão nacional, mas é obrigado a viver essa ilusão à distância. «Sinto-me um pouco à deriva porque o título não depende do que eu possa fazer», confessa. «Mas quero que o F.C. Porto seja campeão e estou a torcer muito para que o seja». E acha isso possível?, pergunta-se-lhe. «É possível, mas é pouco provável», responde. «Vamos esperar que o Boavista ganhe e que o F.C. Porto seja campeão».
As coisas são ainda mais complicadas que isso. O médio parte aliás para a última jornada mergulhado num turbilhão de emoções. Quer que o F.C. Porto seja campeão e para isso sofre por uma vitória dos azuis e brancos frente ao clube que representa actualmente, a Académica. Por isso mesmo já manifestou vontade de não participar nesse jogo. «O futebol é assim», considera. «Mas julgo que seria muito mais difícil se a Académica não tivesse já a permanência assegurada e precisasse do resultado deste último jogo».
Assim tudo fica ligeiramente, mas apenas ligeiramente, mais simples. «Como as coisas estão, torna-se mais fácil lidar com tudo isto», diz. «Não quero ir contra os meus companheiros da Académica, nem espero que eles me levem a mal, mas espero que ganhe o melhor e que o melhor seja o F.C. Porto». Por muito que lhe custe admiti-lo publicamente. Mas são palavras que se soltam do fundo do coração. «É sempre muito ingrato dizer isto, mas da forma como as coisas estão é o que sinto».
A última pergunta colocou-lhe a dúvida de se saber como lida com o facto do adversário portista na corrida pelo título ser precisamente o Benfica, o clube onde cresceu para o futebol. «Isso não mexe nada comigo», sublinha. «Depois de tudo o que passei nos últimos anos de Benfica, não mexe nada comigo. Aliás, gostava que o F.C. Porto fosse campeão, mas se não for, que seja o melhor. Se a luta fosse por exemplo entre o Benfica e o Sporting eu manter-me-ia distante. Tenho amigos nos dois lados e ser-me ia indiferente».