Fez o Arsenal unir esforços financeiros para a contratação mais cara da história do emblema londrino e garante que estar nos gunners é uma «recompensa» de vida e de carreira. Nicolas Pépé nasceu em França, mas é filho de costa-marfinenses e é a seleção africana que já defende como internacional.

O avançado destacou-se nos dois últimos anos pelo Lille, com um total de 37 golos em 79 jogos, mas a ligação ao futebol começou pelas balizas. E é talvez por aí que tenha, hoje, melhor noção de como encarar um guarda-redes. Quem mais, senão o próprio a testemunhar?

«A minha família sacrificou tudo para se assegurar que eu me tornava futebolista. E quando digo tudo, quero dizer mesmo tudo», começou por dizer, numa história narrada pelo próprio, aos canais do Arsenal.

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«Quando era guarda-redes, costumávamos ganhar seis ou 7-0 e eu perguntei se podíamos mudar, para eu jogar à frente. Estava aborrecido na baliza. Troquei, até que marquei. Ter jogado na baliza ajuda-me muito agora. Sei como um guarda-redes se move em relação à posição da bola. Eu adorava jogar à baliza quando era muito jovem, mas quando tinha 13 anos, mudei. Foi quando comecei a imitar o Drogba e as suas celebrações. Ele começou a jogar pelo Marselha e eu via-o. Ou quando ele jogava pela Costa do Marfim, ele fazia a coupé-décalé, um tipo de dança. É algo que nunca vou esquecer», recordou Pépé.

Depois de ter jogado algum tempo no Poitiers, o jogador de 24 anos começou a carreira profissional no Angers, mas acabou cedido a um clube dos escalões inferiores, o Orléans, para ganhar experiência. Pelo meio, no Angers, Pépé assume os «erros» que já cometeu e que o fizeram crescer como homem e atleta. Um deles aconteceu num jogo de sub-19, contra o Guingamp.

«O treinador, [Abdel] Bouhazama, gritou comigo. Eu respondi de volta, ele tirou-me de campo e perdemos o jogo. Aprendi e tive de tornar-me mais maduro. Bouhazama foi uma influência grande no meu treino. Como ele diz, há mais na vida do que no futebol. Há também a vida. Ele fazia-nos correr às seis da manhã para mostrar como as coisas eram na vida diária normal. Nós veríamos homens do lixo a pegar em lixo às seis da manhã enquanto estivéssemos em campo. Ele mostrou-nos que tínhamos sorte em estar lá. Não foi fácil para mim. Percorri um longo caminho e lutei muito, assinar por este grande clube [Arsenal] é uma grande recompensa», defendeu.

Para lá dessas recordações, Pépé não esqueceu as diferenças de oportunidade que teve em relação aos progenitores, que emigraram para França em 1995, antes do seu nascimento.

«Contavam histórias de como andavam dez quilómetros descalços e que nós éramos sortudos por poder ir para a escola de autocarro. Quando crescemos, a minha mãe e o meu pai pararam de trabalhar e vieram viver comigo apenas por causa do futebol, para terem a certeza que o meu sonho se tornava realidade», revelou.