E Diego não resistiu. Na mais profunda solidão, abandonado, o avançado paraguaio de 32 anos cedeu ao avanço de uma infeção incontrolável.

Foi há dois anos, 3 de dezembro de 2012, na Indonésia.

A história de Diego Mendieta merece ser contada e recontada as vezes necessárias. Acaba de forma trágica, profundamente triste, mas deve funcionar de aviso para todos os que, de uma ou de outra forma, decidem tentar a sorte num país desconhecido.

Sem espaço nem expetativas no futebol paraguaio, Mendieta partiu para o futebol indonésio no verão de 2012. No currículo levava passagens por clubes modestos: River Plate de Assunção, Pettirossi e Sportivo Iteño.

Instalou-se na cidade de Solo, a 50 quilómetros da capital Jacarta, e assinou pelo Persis. Para trás deixou a esposa e dois filhos, de um e três anos. Quando se despediu da família, fê-lo pela última vez.

O campeonato da Indonésia atravessou momentos caóticos nesse mesmo ano. Vários clubes afastaram-se da liga profissional e formaram um campeonato privado. O Persis Solo, de Diego Mendieta, foi um deles.

A anarquia gerou discussão e a discussão apressou a insalubridade financeira. Os clubes rebeldes deixaram de cumprir os seus compromissos. No dia em que os sintomas da doença atacaram Diego, o jogador de 32 anos não recebia há quatro meses.

«Ele foi hospitalizado três vezes, disseram-lhe que tinha febre tifóide. Mas ele não tinha dinheiro para pagar a medicação. Enviei-lhe 500 dólares uma semana antes de saber que ele tinha morrido», contou a viúva, Valéria Álvarez, à BBC.


Imagens de Diego num hospital indonésio, dias antes de falecer

A doença era perfeitamente tratável na fase inicial. Bastava a Diego ter tomado os remédios adequados. O seu clube ficou a dever-lhe 15 mil dólares (cerca de 12 mil euros) e isso fez toda a diferença.

Mendieta perdeu 17 quilos e acabou morrer num hospital indonésio. No corpo esquelético tinha a camisola do Real Madrid. A FIFPro, federação internacional das associações de futebolistas, só teve conhecimento do caso quando Diego Mendieta já perecera.

«Antes da doença, o Diego tentou voltar várias vezes ao Paraguai. Não teve dinheiro, nem qualquer ajuda do clube Persis Solo para isso. (…) Se as notícias forem verdadeiras [o que se veio a confirmar], Diego morreu por negligência do clube. E isso é intolerável».

Diego Mendieta partiu para a Indonésia cheio de sonhos e voltou a casa num caixão branco. A viúva despediu-se dos jornalistas em lágrimas e com uma tirada assustadora.

«Ele sempre sonhou em ser capa dos jornais. E agora conseguiu-o. Todos falam da sua morte».