Jenni Hermoso é a Mulher do Ano para a GQ e foi nessa qualidade que concedeu uma entrevista à edição espanhola da revista, assumindo-se como a face da revolução no futebol espanhol. Alguns meses após 'caso Rubiales', a atleta desabafou também sobre a polémica que marcou o verão.

«Com tudo o que aconteceu, muitas de nós ficamos mais conscientes do que realmente significa a palavra feminismo , incluindo muitas amigas e familiares. Nós, no futebol, vivemos na primeira pessoa a luta pela igualdade. Chamaram-nos instáveis e mimadas, diziam que queríamos ganhar o mesmo que os homens e isso não é verdade», referiu.

«Fico muito irritada quando me dizem que o futebol feminino não gera tanto dinheiro como o masculino . Obviamente nós sabemos disso e nunca pedimos para ser pagas como eles são. Queríamos apenas o mais básico: ter um salário, sermos respeitadas e termos a oportunidade de fazer algo muito grande. Quando o conseguimos, ganhámos um Mundial.»

A jogadora espanhola, que atualmente representa os mexicanos do Pachuca, reconheceu que o 'caso Rubiales' vai provavelmente marcá-la para sempre, mas diz que nesta altura a preocupação dela é aproveitá-lo para conseguir algo bom.

«Não fui eu que o provoquei, o que aconteceu é uma coisa que não escolhi, nem premeditei. Recebi ameaças de morte e isso é algo a que uma pessoa nunca se habitua», referiu.

«Infelizmente aconteceu esta história e agora vou ter de aprender a aproveitá-la positivamente, para lutar pelo que acredito ser bom para a sociedade. O movimento #SeAcabó pode trazer uma nova era. Gostava de ser lembrada como alguém que quis colocar a Espanha no topo, mas acima de tudo como alguém que tentou mudar muitas mentalidades.»

Também por isso, porque tem esse objetivo de fazer algo bom pela socidade, Jenni Hermoso lamenta que os jogadores homens não se tenham juntado à luta das mulheres e tornado o movimento pela igualdade mais forte.

«Entendo que cada pessoa tem a sua opinião e também gostava de poder concentrar-me apenas no futebol, mas quando se vê situações injustas, ou se está de um lado ou, se está do outro. As pessoas vão amar-me ou odiar-me, mas tenho a minha forma de pensar e não me importo de dizer isto abertamente: o apoio deles ter-nos-ia certamente ajudado muito», frisou.

«Eu sempre morei num bairro humilde e sei como é fundamental ter em conta o trabalhador. Graças a este desporto, temos exposição pública e podemos mudar muitas vidas, embora não estejamos completamente conscientes disso. Nesta altura, como campeãs do mundo, ouvem-nos mais. A nível pessoal, não luto por status. Para mim, a minha vida é meu bairro, a minha família, a minha gente, as coisas mais básicas. Nunca farei nada só para ganhar mais dinheiro . Poder lutar pela igualdade é um motivo de orgulho e é aí que quero realmente ser notada. Se tiver de dar a cara para conseguir a mudança, vamos em frente.»

Apesar desta força que mostra agora, Jenni Hermoso reconhece que os últimos meses foram muito complicados. Por isso sentiu até necessidade de se colocar nas mãos de profissionais.

«Ter de falar disto repetidas vezes magoou-me muito. Mas sabia que tinha de o fazer de alguma maneira, tinha de soltar o que estava cá dentro. Ainda continuo a trabalhar nisso com a ajuda da minha psicóloga , com quem estou há muitos anos. Para mim, a saúde mental é tão importante quanto o treino diário, ou como as horas de Descanso. Graças a ela, sinto-me forte e não estou abatida, nem a pensar em não jogar mais futebol.»

Confessou ainda à revista “GQ” que depois daquele momento “Foram semanas muito difíceis. Mas graças à ajuda da minha psicóloga sinto-me forte e não estou desanimada nem a pensar em desistir do futebol. Não perdi o entusiasmo”