Enviado-especial a Madrid

A primeira impressão é o forte contraste com o Vicente Calderón ao nível da localização. O antigo estádio estava situado na zona sul da capital, mas bem perto do centro, no meio da cidade, encravado entre o Rio de Manzanares e uma autovia de circunvalação. O Wanda Metropolitano está num descampado, longe da civilização. Fica na zona este, nos arrabaldes de Madrid, bem perto do Aeroporto de Barajas. Numa altura em que o primeiro clube português visita a nova casa do Atlético, o Maisfutebol faz-lhe uma visita guiada ao novíssimo estádio que se associou agora à longa história do clube de Madrid e já com um recorde em perspetiva.

O Sporting será a 22ª equipa a defrontar o Atlético Madrid esta quinta-feira num campo onde, até ao momento, a equipa comandada por Diego Simeone concedeu apenas duas derrotas. A primeira foi logo ao terceiro jogo, diante do Chelsea (1-2), para a Liga dos Campeões, a segunda diante do Sevilha, a única equipa que já jogou duas vezes na nova casa dos colchoneros. A equipa andaluza perdeu primeiro para a liga, mas depois foi lá ganhar nos quartos de final da Taça do Rei.

A nova casa do Atlético Madrid foi construída sobre as fundações do antigo Estádio Olímpico, também conhecido como La Peineta, construído em 1993 [inaugurado em 1994] com uma capacidade inicial para 20 mil espectadores. O projeto inicial pretendia incluir o recinto numa cidade desportiva e previa, desde logo, uma ampliação do recinto para o triplo da capacidade da lotação, para 66 mil espectadores, de forma a que permitisse à capital espanhola candidatar-se a sede dos Jogos Olímpicos. No entanto, as sucessivas candidaturas fracassadas de 2012, 2016 e 2020 foram abrindo espaço para o projeto do Atlético Madrid.

La Peineta, antigo Estádio Olímpico de Madrid

O acordo com a câmara municipal da capital espanhola, proprietária do recinto desde 2002, começou a ganhar forma em 2008, quando as duas instituições, ainda com a candidatura aos JO de 2020 de pé, assinaram um acordo que previa a remodelação do estádio numa primeira fase orientada para as modalidades, incluindo um pista de atletismo, mas já prevendo uma segunda remodelação, para o recinto voltar a ser transformado num estádio de futebol que passaria a ser propriedade do Atlético.

Fracassada a candidatura de 2020, atribuída a Tóquio em 2013, ficou definitivamente descartada a construção do Estádio Olímpico e ficou decidido que o recinto passaria a ser propriedade do Atlético Madrid a partir de 1 de junho de 2016, embora o clube tenha jogado ainda mais uma temporada, em 2016/17, no histórico Vicente Calderón  que vai ser demolido para dar lugar a uma zona verde, um parque com o nome do Atlético Madrid.

Em 2014, a câmara de Madrid batizou a avenida que dá acesso ao estádio com o nome do falecido Luis Aragonés, antigo jogador e treinador do Atlético, autor do primeiro golo no Estádio Manzanares [mais tarde Vicente Calderón] e campeão da Europa com a Espanha em 2008, mas em 2016, já com o recinto nas mãos do clube, o presidente Enrique Cerezo anunciou que o novo estádio iria chamar-se Wanda Metropolitano na sequência de um acordo, por dez anos, com o conglomerado chinês Wanda Group que, além do naming do estádio, é detentor de 20 por cento da SAD do clube desde 2015.

Ao mesmo tempo, o Atlético recuperava o nome Metropolitano, o nome do estádio madrileno que acolheu os colchoneros entre 1923 e 1966, antes da mudança [que também não foi fácil] para o Vicente Calderón. As obras, que decorriam a um ritmo lento até à decisão do organizador dos JO de 2020, aceleraram quando ficou decidido que ia ser definitivamente o novo estádio do Atlético. Uma remodelação que, com o apoio do grupo chinês, ficou orçada em mais de 300 milhões de euros.

Antigo estádio Metropolitano, a casa espiritual do Atlético entre 1923 e 1966

O atraso nas obras só permitiu a inauguração em pleno do novo recinto a 16 de setembro de 2017, à quarta jornada da atual edição  da liga espanhola, depois do Atlético Madrid ter jogado as três primeiras rondas fora de portas. Nesse primeiro jogo na nova casa, em ambiente de festa, com 63.114 espetadores nas reluzentes novas bancadas, o orgulhoso anfitrião bateu o Málaga por 1-0 com o francês Antoine Griezmann a entrar diretamente para a história do novo recinto com a assinatura do primeiro golo, tal como Luis Aragonés tinha feito no antigo Manzanares.

Confira o golo de Griezmann na inauguração do Wanda Metroplitano

Quatro dias depois da inauguração, o novo estádio do Atlético Madrid foi eleito pela UEFA para acolher a final da Liga dos Campeões na próxima temporada, a 1 de junho de 2019, cumprindo todos os requisitos exigidos para o efeito. Será o quarto estádio espanhol a receber uma final da Liga dos Campeões depois do Santiago Bernabéu (Real Madrid), Sánchez Pizjuán (Sevilha) e Camp Nou (Barcelona).

De facto, trata-se de um estádio moderno, que deu, desde a sua fase de construção, prioridade para o espaço, confronto e segurança dos adeptos, em detrimento de uma maior capacidade [68 mil espectadores]. Um estádio que está na vanguarda tecnológica graças a acordos com as empresas de ponta do setor, com destaque para três painéis gigantes de vídeo LED, além de marcador eletrónico de 360 graus, único na liga espanhola.

Um estádio desenhado para ter, em consonância com o conforto dos adeptos, um ambiente espetacular, numa tentativa clara de manter viva a mística que o clube já tinha conseguido transportar do antigo Metropolitano para o Vicente Calderón. Além disso, o recinto, situado nos arredores de Madrid, no bairro de San Blas-Canillejas, está também bem servido de transportes públicos, com uma estação de metro à porta e uma boa rede de autocarros que levam os adeptos do centro da cidade ao estádio em cerca de vinte minutos.

Wanda pode bater recorde no ano da inauguração

Um dos maiores receios dos adeptos, com a mudança de estádio, era dizer adeus ao Passeio dos Melancólicos, junto ao rio Manzanares, que desaguava no Vicente Calderón, bem como toda a mística que a anterior localizaçao proporcionava. Mas a verdade é que, desde a inauguração, o Wanda Metropolitano tem sido um talismã para o clube, pelo menos na liga espanhola, onde ainda não conheceu a derrota. Com a mudança de casa, colocou-se desde logo a possibilidade da equipa ressentir-se, em termos de resultados, perante a ausência da mística do Vicente Calderón, mas a equipa de Simeone encarregou-se de desfazer esse efeito. Nos quinze jogos realizados até ao momento para a liga espanhola, os colchoneros venceram onze e cederam quatro empates, dois deles com os rivais Barcelona (1-1) e Real Madrid (0-0).

Além disso, marcaram 25 golos e consentiram apenas quatro, o que já é um feito histórico. Até ao momento, apenas uma equipa na história dos campeonatos de Espanha tinha concedido apenas quatro golos nos primeiros quinze jogos em casa. Foi o Valladolid, em 1987/88, então sob o comando do argentino Vicente Cantatore que, por curiosidade, dez anos depois também passaria pelo Sporting. Esse Valladolid de 1987/88 ainda detém o recorde de menos golos consentidos em casa ao longo de uma época: apenas seis. Um recorde que o Atlético pode bater esta temporada no Wanda onde, até ao momento, consentiu apenas quatro golos. Numa altura em que o Atlético tem apenas mais quatro jogos em casa - Levante, Bétis, Espanhol e Eibar - essa marca está perfeitamente ao alcance da equipa de Simeone.

Desde que empataram em casa com o Girona (1-1), a 20 de janeiro deste ano, os colchoneros somaram seis triunfos consecutivos sem consentir um único golo em casa, batendo sucessivamente o Las Palmas (3-0), Valencia (1-0), Athletic (2-0), Leganés (4-0), Celta (3-0) e, já no passado domingo, o Depor (1-0). Juntando os resultados na Liga Europa, o Atlético, nos último oito jogos na nova casa, marcou 18 golos e não consentiu nenhum. O Atlético Madrid é, aliás, a segunda melhor equipa a jogar em casa da liga espanhola, apenas com menos um ponto do que o Barcelona. Até ao momento, apenas Barça, Villarreal, Girona e Real Sociedad conseguiram marcar no Wanda.

Menos sorte na Liga dos Campeões onde o Atlético começou por perder com o Chelsea (1-2) com um golo de Batshuayi nos descontos depois de Griezmann ter dado vantagem à equipa do Wanda na primeira parte e de Morata ter empatado. No segundo jogo em casa para a liga milionária, os colchoneros comprometeram as aspirações na competição ao cederem um empate diante do modesto Karabakh (1-1) do Azerbaijão. A vitória sobre a Roma (2-0) ainda alimentou uma réstia de esperança, mas o empate em Stamford Bridge (1-1), na última ronda, remeteu definitivamente a equipa espanhola para a Liga Europa onde agora vai defrontar o Sporting, naquele que será o primeiro jogo na luta por uma vaga nas meias-finais.

Na segunda competição da UEFA, o Atlético Madrid ganhou os quatro jogos que fez até à receção ao Sporting, batendo primeiro os dinamarqueses do FC Copenhaga (4-1 fora e 1-0 em casa) e depois os russos do Lokomotiv Moscovo (3-0 em casa e 5-1 fora).

Além da derrota com o Chelsea, o Atlético Madrid soma apenas mais um desaire na nova casa. Foi já este ano, na primeira mão dos quartos de final da Taça do Rei ,diante do Sevilha (1-2) que acabaria por passar às meias-finais [nesta altura já sabe que vai disputar o título com o Barcelona numa final que está marcada precisamente para o Wanda] com novo triunfo no Sánchez-Pizjuán (3-1). Tal como no desaire frente ao Chelsea, o Atlético chegou a estar em vantagem, com um golo de Diego Costa (73m), mas depois permitiu a reviravolta à equipa da Andaluzia que venceu com golos de Miguel Ángel Moya (80m, gp) e Joaquín Correa (88m).

Um estádio que, com apenas seis meses de idade, já tem muito para contar, como é exemplo a goleada com que a Espanha brindou a Argentina por 6-1, com Messi a assistir nas bancadas, no final de março. Uma daquelas goleadas que perdurará no tempo com forte ligação ao estádio que a acolheu, como a vitória da Espanha sobre o Uruguai (2-0), em 1972, no jogo em que o antigo estádio mudou o nome de Manzanares para Vicente Calderón.

Agora, aproveitando as férias da Páscoa, até ao jogo com o Sporting, o clube está a promover, junto dos adeptos, visitas abertas ao Wanda, oferecendo a possibilidade dos adeptos conhecerem o balneário da equipa, bem como percorrer o túnel que dá acesso ao relvado, decorado com os maiores feitos do clube. No exterior do estádio também é possível contemplar uma bandeira gigante, com 338 metros quadrados, a maior de Espanha, içada em honra dos adeptos do clube.

A polémica das placas no Passeio das Lendas

Também no exterior, é possível visitar o Passeio das Lendas com placas de todos os jogadores que vestiram a camisola do clube em, pelo menos, cem jogos oficiais. É aqui que os adeptos perdem mais tempo antes dos jogos, à procura dos nomes dos ídolos e a recordar as suas façanhas. Nomes eternos da mística colchonera, como o de Luís [Aragonés] à cabeça, logo seguido por Futre, mas também Kiko, Schuster, Caminero, Simeone, Pantic, Fernando Torres, Forlán, entre muitos outros. Entre os portugueses, além de Futre, também é possível encontrar as placas de Mendonça, Simão e Tiago, este último ainda ao serviço do clube, agora como adjunto de Simeone.

Mas o critério dos cem jogos definidos pelo clube tem dado azo a polémicas, não só pela ausência de alguns nomes que deixaram marca entre os adeptos, como Juninho ou Falcao, mas sobretudo pela presença de alguns nomes que não caíram bem no goto dos ferrenhos colchoneros. Arda Turan, que saiu para o Barcelona, por exempo, mas também Kun Agüero que era idolatrado no Vicente Calderón e saiu sem uma palavra de despedida. Mas, acima de todos, Hugo Sánchez. O goleador mexicano participou em 162 jogos com a camisola do Atlético, ao longo de quatro temporadas [1981/1985], foi pichichi [melhor marcador do campeonato], ganhou uma Taça do Rei com dois na final frente ao Athletic, mas ninguém esquece a forma como, depois, saiu para o vizinho Real Madrid, com uma passagem manhosa por um clube mexicano a intervalar a polémica mudança.

Polémicas à parte, o Wanda Metropolitano recebe esta quinta-feira o Sporting naquele que será o 24º jogo do Atlético na nova casa [houve ainda mais um jogo da seleção e outra da equipa feminina] num jogo que promete contar com uma pequena mancha verde no imenso vermelho e branco das novas bancadas. Os 3.550 bilhetes colocados à venda em Lisboa voaram num ápice, apesar do elevado preço dos ingressos [50 e 100 euros].

Wanda Metropolitano

Acessos

Metro: Estação Estádio Olímpico na linha 7 do Metro de Madrid

Autocarro: linhas interurbanas 286, 288 e 289

Capacidade

67,703 espectadores

Jogos no Wanda Metropolitano

Competição Jogos Vitórias Empates Derrotas Golos
Liga 15 11 4 0 25-4
Taça do Rei 3 2 0 1 7-2
Liga dos Campeões 3 1 1 1 4-3
Liga Europa 2 2 0 0 4-0
TOTAL 23 16 5 2 40-9