Pedro Proença, presidente da Liga, em entrevista à Sport TV na véspera do arranque do campeonato, e poucos dias depois de ter cumprido um ano de mandato:

[sobre o adiamento do Nacional-Desp. Chaves] «Infelizmente, todos sabemos o estado calamitoso da Madeira nestes últimos dias. A direção executiva decidiu que não havia condições para o jogo, até porque o próprio Estádio da Madeira sofreu com estas questões. Foi decidido adiar o jogo, com pena nossa, mas tínhamos de salvaguardar a integridade dos atletas e o espetáculo, que se quer de família.»

[sobre as dúvidas relativamente às condições do relvado do Tondela, para a receção ao Benfica] «Fizemos o nosso trabalho, as nossas avaliações. Todos sabemos que nesta altura, até pelas altas temperaturas que se fazem sentir, os relvados têm problemas de aderência. Mas a Liga fez as últimas vistorias e deu o estádio como apto. Foi dado o OK para a realização do jogo.»

[sobre a polémica relativamente ao preço dos bilhetes, recuperada precisamente com o Tondela-Benfica] «Tem sido uma das grandes temáticas para esta direção, a disparidade no preço dos bilhetes. Tem sido um esforço muito grande para uniformizar critérios. Conseguimos isso na II Liga, onde o preço está claramente definido, e queremos fazer isso na Liga. Queremos dizer às pessoas que o futebol é um espetáculo de família, com preços razoáveis.»

[sobre a situação financeira da Liga] «Esta direção encontrou graves problemas quando entrou. Desde logo a questão da sustentabilidade da Liga, que estava quase em insolvência técnica. O futebol não gerava receitas para pagar os custos operacionais. Deixo uma palavra de apreço pela anterior direção, liderada por Luís Duque, que iniciou esse caminho que está a ser trilhado.»

[sobre os direitos televisivos, que Pedro Proença queria negociar de forma centralizada, mas que os clubes acabaram a negociar individualmente] «Há muito a fazer ainda relativamente a esse tema. Vamos ter jogos no horário matinal, pela primeira vez. O objetivo é trazer famílias aos estádios, em primeiro lugar, e depois abrir a novos mercados, nomeadamente o asiático. Só quem está desatento é que não percebe o potencial de investimento que o mercado asiático tem. Isso pode dar retorno não só à competição, como também aos clubes. Só temos de copiar as boas práticas.»

«Não há outra solução: não sei se a centralização dos direitos ou a negociação centralizada, mas é isso que vai acontecer (...) Os direitos televisivos terão de ser negociados de forma centralizada. É uma questão de tempo até isto acontecer. Se será com esta direção? Espero que sim. Não sei quando acontecerá, mas tenho a convicção plena de que acontecerá.»

«Os direitos televisivos estavam a ser negociados abaixo do valor de mercado. E se agora atingimos os valores que atingimos, eu digo que se houvesse uma negociação centralizada muito mais valeriam estes direitos. A Liga acredita que isso será possível num futuro próximo. Trabalharemos com os clubes para a angariação de receitas e para a chave de repartição das mesmas. Queremos reduzir o fosso entre os que mais ganham e os que menos ganham, pois só assim a competição será forte.»

[sobre a operação «Jogo Duplo»] «Está em segredo de justiça mas abalou a estrutura do futebol português. Temos de punir se alguém infringiou o quadro legal e jurídico, ou mesmo ético. Não são estes os valores em que nos revemos. Estamos a fazer um trabalho preventivo para que coisas destas não aconteçam.»

[sobre o caso Mateus e a reintegração do Gil Vicente na Liga] «Houve uma decisão de primeira instância, e Liga e FPF decidiram não recorrer. Mas neste quadro jurídico existem quatro atores, e havia uma contra-parte interessada, que era o Belenenses. Não podíamos tomar uma decisão sem o caso transitar em julgado. A Liga e a FPF decidiram não recorrer, e nesse quadro obviamente que o Gil Vicente podia chamar a si a reintegração na Liga, mas a outra parte podia recorrer. O Belenenses fez isso, e terá o seu racional por detrás. Perante isto não podíamos tomar outro caminho que não fosse deixar os trâmites legais chegarem a uma decisão final. Foi tomada a opção de esperar pela decisão final, e se for o caso o Gil Vicente será então reintegrado.»

[sobre a ausência de árbitros no Euro2016] «Saiu um conjunto de árbitros que estava na elite. Saíram antes de tempo, o que não deu espaço para que o Conselho de Arbitragem preparasse as coisas para uma sucessão normal. A nossa arbitragem tem muita qualidade, não tenham dúvidas disso. No próximo Euro e no próximo Mundial teremos árbitros portugueses, de certeza. A arbitragem portuguesa é reconhecida internacionalmente. Sofreu foi da falta de preparação para que os árbitros que saíram fossem substituídos em tempo útil. Mas o Artur Soares Dias, ou outros que temos na primeira categoria, vão estar nas próximas grandes competições. Taça das Confederações? Gostava de ter essa convicção, mas a FIFA não costuma levar árbitros dos países das seleções participantes, pois é uma prova mais curta. É natural que não esteja nenhum árbitro português, mas não pela meritocracia. Mas não tenho dúvidas de que no próximo Mundial teremos árbitros portugueses.»

[balanço do mandato] «Nem tudo foi feito da forma correta, e à velocidade que pretenderíamos, mas temos noção de que o business plan que assinámos está a ser escrupulosamente cumprido. Vamos apresentar resultados operacionais acima do planeado. Estamos a agremiar credibilidade, e os próximos anos serão de afirmação do futebol profissional. A maior desilusão? Não conseguir atingir determinados objetivos à velocidade que pretenderia. Gostaria eventualmente que os direitos televisivos tivessem sido trabalhados de uma outra forma, o que não aconteceu. Mas esse caminho ainda está a ser feito e vai ser concluído, e estou certo que os clubes encontrarão um ponto de equilíbrio. Estão a trabalhar propriedades comuns. Só passou um ano, mas conseguimos, internamente, unir esforços e criar objetivos coletivos que ultrapassam muito os objetivos individuais.»

[votos para a Liga 2016/17] «O principal desejo é que, à semelhança da época passada, seja uma prova de grande espírito de fair play. Que seja uma competição de família. Que as pessoas percebam que o futebol é saber viver o momento, saber viver a alegria, o momento da felicidade. Que seja uma competição recheada de momentos de grande emotividade, e que toda a gente saiba defender os adeptos.»