Jackpot.

Na antevisão ao dérbi, Ruben Amorim prometera lançar, acontecesse o que acontecesse com o recurso do Sporting por João Palhinha, o homem com quem trabalhou durante os últimos dias para ocupar a posição do habitual dono da zona seis.

Esse homem, aposta convicta do técnico, foi Matheus Nunes e foi ele quem acabou por decidir o dérbi nos minutos finais, pondo em xeque as aspirações do Benfica na luta pelo título.

O dérbi não foi fantástico – longe disso – mas premiou a equipa que estava menos pressionada para o ganhar mas que foi, igualmente, a que mais fez para o vencer perante uma equipa visitante que abdicou dos seus princípios para anular as virtudes do adversário e que, talvez por isso, saiu de Alvalade com poucas oportunidades e de mãos a abanar.

Depois de ter surpreendido com Grimaldo no meio-campo no clássico do Dragão, o Benfica voltou a mexer na receita para o dérbi. Apresentou-se com três centrais (o regressado Otamendi juntamente com Jardel e Vertonghen), repetindo a forma mas não os intérpretes do duelo com o Sp. Braga para a Taça da Liga, e também Darwin mais órfão na frente de ataque, ao contrário do que sucedera em Leiria, quando o uruguaio teve Seferovic como parceiro.

FC Porto, Belenenses, Sp. Braga. Há dois padrões nestas três equipas.

Um: todas criaram dificuldades ao Sporting com sistemas similares ao da equipa de Ruben Amorim.

Dois: todas perderam.

E esse é um dos méritos dos leões nesta época: mesmo que seja relativamente simples descodificar a forma como joga a equipa de Ruben Amorim, há sempre algo na manga. Estrelinha (um pouco) e competência (muita). Acima de tudo, consistência de ideias de uma equipa que raramente abana.

FILME, FICHA DE JOGO E VÍDEOS

A defesa a três do Benfica durou dez minutos. Jardel lesionou-se e teve de sair. Sem centrais no banco no dia em que o clube viu sair dois, João de Deus, no lugar de Jorge Jesus, recuou Weigl para central e fez entrar Gabriel para o meio-campo.

Durante um curto período dos primeiros 45 minutos, os encarnados pareceram ganhar o meio-campo, com Rafa e Cervi muito por dentro a juntarem-se a Pizzi contra apenas João Mário e Matheus Nunes.

Só que a estratégia aparentemente mais conservadora das águias tornou-se, afinal, de risco. Defesa muito subida e com dificuldades no controlo da profundidade e para reduzir o espaço entre linhas, que passou a ser maior após a entrada de Gabriel, pressionante em zonas mais adiantadas do que o alemão.

Tiago Tomás e Pote fizeram a leitura exata e foram eles, sobretudo o primeiro, que mais dificuldades causaram à defesa encarnada.

Naturalmente mais confortável com o seu 3x4x3, o Sporting terminou a primeira parte com ligeiro ascendente e a melhor ocasião de golo, desperdiçada por Neto num cabeceamento ao segundo poste aos 41 minutos.

O Benfica regressou para a segunda parte mais acutilante. Num dos raros momentos de discernimento que teve em campo, Darwin testou a atenção de Adán, mas a aparente maior disposição das águias que, afinal, precisavam mais dos três pontos no dérbi, não se estendeu no tempo.

Aos 60 minutos, Palhinha, que não tinha seguido para estágio, foi a jogo, entrando para o lugar de João Mário, fisicamente debilitado. E essa alteração acabou por ser decisiva para o desfecho do jogo.

Mas já chegamos a essa parte.

O dérbi começou a inclinar-se ligeiramente para o lado leonino e prova disso foram as ameaças de Palhinha e o calafrio causado por Gilberto, que obrigou Vlachodimos a voar para negar um autogolo.

Do lado das águias, os sinais não eram positivos. Taarabt trouxe algo de diferente ao jogo, Nuno Tavares e Seferovic pouco ou nada.

Com muitas dificuldades em ataque organizado – o que não é novidade – mas também nas transições ofensivas, sobretudo devido aos problemas de Rafa, que jogou mais de 45 minutos condicionado, percebeu-se que dificilmente o Benfica levaria mais do que um ponto de Alvalade.

Ainda que a tendência apontasse para um empate e que nenhuma das equipas tivesse tido momentos de ampla superioridade, o Sporting mostrou mais vontade de vencer e foi justamente premiado já em tempo de compensação.

Matheus Nunes, opção para o lugar de Palhinha, teve ordens para se libertar das amarras após a entrada do habitual titular. E foi por isso que ele apareceu no sítio certo para dar ao Sporting - com um golpe de cabeça após saída inconsequente de Vlachodimos para afastar um cruzamento - a primeira vitória sobre o Benfica em Alvalade para a Liga desde 2012.

Está na hora de o leão se assumir como forte candidato ao título. É-o, ainda que o discurso para o exterior continue a ser o mesmo depois desta noite.

Xeque-mate nas aspirações do Benfica na luta pelo título? Naturalmente, não matematicamente. Mas a equipa de Jorge Jesus precisa agora de correr contra a própria história para virar do avesso o campeonato numa temporada marcada por um investimento também ele histórico.