Vítor Pereira diz que está a «ressacar» do vício do futebol e à espera de novo destino, de preferência na Europa. O treinador que deixou o Flamengo em abril deixou ainda críticas ao futebol brasileiro, mas defendeu o futebol português.

«Já passei a fase do desmame. Andei, durante dois meses, muito nervoso, irritado, falta-me a adrenalina. Eu gostaria de um projeto europeu, que me permitisse valorizar o meu trabalho. Mas o futebol é como é e eu reconheço que, se isto demorar muito, vamos ter de ir à luta. Não me estou a ver, de momento, a voltar ao futebol português. Um dia, naturalmente, voltarei, mas ainda tenho objetivos para cumprir lá fora», disse o técnico português à margem da Thinking Football, cimeira promovida pela Liga que terminou neste sábado.

Vítor Pereira não se imagina no entanto a regressar ao Brasil, onde treinou o Corinthians e o Flamengo, de onde saiu em abril. Embora elogie o «ambiente fantástico» nos estádios, diz que está na «hora de ter um bocadinho de juízo» antes de pensar em voltar ao país.

«O que menos gostei foi a falta de educação. Não estou a apontar especificamente o A, B ou C, mas muita falta de educação geral. É preciso ter estômago», afirmou: «Não estou a falar da imprensa especificamente, é de tudo que envolve o futebol. Às vezes passa-se para lá do limite. Já percebi que pode ser um bocadinho cultural. Para nós, é um bocadinho difícil», salientou, a propósito do tratamento dado aos treinadores de futebol no país.

«No Brasil, os projetos são a próxima vitória e mesmo a vitória pode correr mal. Portanto, o Brasil é tudo muito à base da emoção, é preciso ir lá para perceber a dificuldade do contexto», acrescentou: «Nós pensamos que estamos preparados. Eu treinei o Fenerbahçe e o Olympiacos. O Brasil consegue ser menos racional, com falta de tempo para trabalhar, de acreditar no que se está a fazer. Ou temos resultados ou acaba o projeto.»

O técnico comentou ainda o momento do futebol nacional, no meio das polémicas e das críticas de Cristiano Ronaldo. «Nós temos muita tendência para desvalorizar o que é bom. Somos um país pequeno com treinadores e jogadores de grande nível e que conseguem competir a nível europeu, mesmo na formação. Portanto, quem está fora tem a tendência de valorizar o que temos aqui. Quem está cá, tem a tendência de dizer que tudo está mal e lá fora é que é bom», afirma, recordando que foi pioneiro na mudança para a Arábia Saudita, onde em 2013/14 treinou o Al-Ahly Jeddah: «No meu tempo, a Liga árabe não era a de agora. Eu recordo que provavelmente fui o primeiro treino a sair aqui de Portugal, do FC Porto, de jogar a Liga dos Campeões para ir para a Liga árabe. Fui por objetivos que tinha, mas não eram desportivos, senti que tinha de fazer a minha vida do ponto de vista financeiro. Hoje já não são os meus objetivos.»