«Vamos escrever histórias fantásticas, páginas bonitas.», disse Pedro Martins, a 25 de maio de 2016, aquando da sua apresentação enquanto técnico do Vitória de Guimarães.

De lá para cá, a história está a ser, de facto, fantástica. A cidade voltou a estender os cachecóis antes de cada jogo e a abraçar os jogadores com palmas depois do apito final.

O V. Guimarães, que a quatro jornadas do fim já garantiu uma presença nas competições europeias, está na final da Taça de Portugal e ameaça ficar à frente do rival Sp. Braga, o que apenas aconteceu duas vezes neste milénio.

Com 56 pontos, os minhotos somam cinco jornadas consecutivas a vencer, são a equipa em melhor forma no principal escalão do futebol português e bateram já um recorde no que aos jogos fora diz respeito. A seguir ao Benfica, os vitorianos são a equipa com mais pontos fora de casa, somando nove vitórias e três empates, um registo que suplanta as 8 vitórias e três empates de Vítor Oliveira em 1995/1996.

«O Pedro está a pôr em prática com resultados o discurso que teve no início da época. A época ainda não acabou, mas está em quarto lugar com cinco pontos de vantagem para quinto classificado e junta a isso a presença na final da Taça de Portugal. Para já, está tudo de acordo com as palavras da sua apresentação», refere Pedro Barbosa ao Maisfutebol.

Líder de uma «equipa que vale como um todo»

Colega de balneário e de meio-campo de Pedro Martins no V. Guimarães, na temporada 1994/1995, Pedro Barbosa transferiu-se para o Sporting juntamente com o atual técnico dos vimaranenses, onde jogaram juntos mais três temporadas. Conhece, portanto, o perfil do treinador e a realidade do clube da Cidade Berço.

Para o ex-jogador de 46 anos, a boa época que está a ser preconizada pelos minhotos tem como um dos pilares a liderança de Pedro Martins, precisamente pelo técnico conhecer a realidade em que está inserido.

«É um treinador ambicioso, tem feito bons trabalhos desde que iniciou a carreira de treinador, enquanto líder no Marítimo e no Rio Ave. Subindo agora de patamar e estando no Vitória, um clube que ele conhece enquanto jogador, tem consciência da responsabilidade que é treinar o Vitória, e a verdade é que tem correspondido, tanto nos resultados, que estão à vista, como na forma de estar», defende Pedro Barbosa. 

Por outro lado, a coesão do grupo, que, na opinião do ex-médio, «tem valido pelo seu todo» tem sido a mais-valia da equipa em detrimento das individualidades. «Havia o Soares, que era um elemento forte, Marega também, mas acho que a equipa tem valido como um todo. Marega é o goleador da equipa, mas a equipa vale pelo seu conjunto, tal como o Pedro tem feito por passar essa mensagem desde o início da temporada», diz Pedro Barbosa.

Capacidade de reação pós Soares

A temporada até nem começou da melhor maneira para o V. Guimarães, que perdeu no D. Afonso Henriques na receção ao Sp. Braga. Soares, avançado contratado ao Nacional para fazer esquecer Henrique Dourado, falhou uma grande penalidade. Apesar da falha na ronda inaugural, o avançado ficou apenas meia época no Berço, mudando-se depois para o FC Porto no mercado de inverno.

Muito do jogo do V. Guimarães tinha o cunho de Soares, quer pela capacidade física que conferia ao setor mais adiantado quer pela capacidade para abrir espaços para Marega e Hernâni.

Para Pedro Barbosa um dos pontos-chave da época do V. Guimarães foi também a capacidade para readaptar o seu estilo de jogo sem o brasileiro que marcou nove golos com a camisola do emblema de Guimarães. Uma ideia à qual se junta a saída de João Pedro, titular indiscutível até se transferir para os LA Galaxy.

«Saíram dois jogadores importantes na reabertura do mercado, um do meio campo e um do ataque, o João Pedro e o Soares, a verdade é que a equipa conseguiu colmatar essas saídas com novos jogadores e continuou na luta pelos seus objetivos. É sinal de que toda a estrutura da equipa, toda a direção, estão a trabalhar bem. Estão no caminho certo, apesar de nada ainda ter sido ganho», destaca o ex-jogador.

A «simbiose com os adeptos» pedida desde início

Para além da performance desportiva, da época que o Vitória está a protagonizar destaca-se também o ambiente criado pelos adeptos no D. Afonso Henriques. Um fervor que sente a cada partida e que tem igualmente repercussões nas assistências.

A média de adeptos presentes no recinto vimaranense é de 18 364 espetadores, um número bem acima do da época passada em que em média assistiram aos jogos 12 427 pessoas. Quando ainda faltam dois jogos em casa, o Vitória já suplantou a temporada 2007/2008, em que ficou no terceiro lugar pela mão de Manuel Cajuda. Nessa época o ocorreram ao D. Afonso Henriques 293 671 espectadores. Esta época já marcaram presença em Guimarães 294 576 adeptos.

Pedro Barbosa tem consciência de que os adeptos têm um papel importante nesta caminhada. «Os adeptos são fantásticos, já no meu tempo as coisas eram assim. Há uma paixão evidente e um apoio constante. Ser o quarto clube com a maior assistência é a prova disso, a prova de um apoio de uma cidade ao seu clube do coração. Quando a equipa vai jogar fora tem uma forte presença dos seus adeptos», atira.

Uma «simbiose» que Pedro Martins não cansa de repetir em conferências de imprensa e que, de resto, está presente no discurso do técnico desde o início da época. As demonstrações de apoio têm sido constantes, ainda no último domingo, na receção ao Boavista estiveram 24 124 espectadores a assistir ao encontro.

Para Pedro Barbosa, o técnico do V. Guimarães tem sabido fazer dos adeptos uma força para a equipa. «O Pedro sabe que este apoio inequívoco é também sinal de responsabilidade», conclui.

Nada ganho e recordes para ser batidos

A jogar fora de casa, Pedro Martins já é o melhor da história do Vitória. Nas quatro jornadas que restam, o clube pode até bater o seu recorde de pontos.

Em 1995/1996, na época de Vítor Oliveira, em que curiosamente o V. Guimarães até ficou em quinto atrás do Boavista, os minhotos somaram 19 triunfos e cinco empates, o que resultou em 62 pontos conquistados. No plantel dessa época constavam nomes como Nuno Espírito Santo, Neno, Zahovic, Vítor Paneira e Capucho.

Atualmente, o V. Guimarães soma 16 vitórias e 8 empates, tendo 56 pontos. Quer o número de triunfos quer a pontuação podem ser batidos nas quatros jornadas que restam: V. Setúbal (fora), Arouca (casa), Benfica (fora) e Feirense (casa).

À semelhança de Pedro Martins, Pedro Barbosa também alerta para o facto de «a época ainda não estar terminada», mas ainda assim acredita que a mesma pode acabar de forma «muito positiva».

Há doze pontos em disputa, uma margem de cinco para o quinto lugar, e a final do Jamor para se disputar. Pedro Barbosa não tem dúvidas: «Quando Júlio Mendes chegou à presidência, com Rui Vitória como treinador fez-se um trabalho muito positivo, sobretudo considerando as restrições no orçamento. A verdade é que agora, o Pedro está definitivamente a elevar a fasquia.»