Tiago Silva enquadrou-se com a baliza, olhou para o esférico e encheu-se de fé. Que momento no D. Afonso Henriques, uma obra de arte a dar os três pontos ao Vitória de Guimarães frente ao Marítimo no regresso aos triunfos (1-0) na Liga. Um momento de beleza rara num jogo em que essa beleza esteve – quase sempre – alheada do jogo.

Esse momento, o golo de Tiago Silva ao minuto setenta, foi a exceção. Uma exceção saborosa para o Vitória, que vence numa tarde claramente não, impondo um travão na série a pontuar do conjunto insular. Há três pontos a somar, o Marítimo sai derrotado num lance de inspiração individual que contrastou com o resto do jogo.

Em vésperas de pausa na Liga – devido ao Campeonato do Mundo – a amostra de ambos os conjuntos diz que quer Vitória quer Marítimo estão a precisar precisamente uma pausa. Prestação pobre em que pareceu que nada ia sair bem no jogo até Tiago Silva assinar a obra de arte que resolveu.

Duelos a mais, futebol a menos

Pouco intenso, com muitas paragens e demasiadas quebras num jogo já de si com um ritmo baixo marcaram o início do embate entre Vitória e Marítimo. A equipa da casa sentiu dificuldades com a bola, esteve pouco lúcida errando demasiado no passe e na abordagem aos lances, parecendo claramente acusar o desgaste do jogo a meio da semana – com prolongamento – a contar para a Taça de Portugal.

Neste cenário, o Marítimo pareceu estar confortável e, mesmo não dando nas vistas, teve bola, conseguiu circular o esférico e foi criando a dúvida na equipa de Moreno. Em crescendo de forma, a equipa insular demonstrou mais tranquilidade e maior capacidade para circular o esférico, faltando argumentos para ser mais eficaz a lançar o jogo no último terço.

Ainda assim, mesmo claramente uns furos abaixo do habitual, o Vitória de Guimarães foi a equipa que mais rematou na primeira metade, assinando num lance de Lameiras o momento mais perigoso até ao intervalo: Passe de Johnston a solicitar Lameiras, que remata de primeira com o pé esquerdo para defesa apertada de Miguel Silva.

Chuva e um momento de arte

O chá do intervalo não teve o efeito pretendido. Pelo contrário. O figurino manteve-se o mesmo, com a agravante de o evoluir do cronómetro fazer subir proporcionalmente os níveis de ansiedade, tirando ainda mais capacidade de decisão de parte a parte. Teve momentos de verdadeiro suplício o jogo.

Quando a chuva apareceu em força, em jeito de serenata à chuva, Tiago Silva teve o tá momento daqueles que levantam estádios. Remate do meio da rua, uma autêntica bomba, a não dar hipóteses a Miguel Silva, que se estirou, mas sem sucesso. O momento de cor de uma tarde demasiado cinzenta perante 15 mil espectadores no D. Afonso Henriques.

Até ao final o Marítimo ainda despejou algumas bolas na área, sem consequência, mas foi o Vitória que ameaçou o segundo com Anderson Silva a atirar ao ferro da baliza insular. Triunfo, ainda assim, justificado do V. Guimarães, que mesmo num mau dia foi o conjunto que teve mais audácia e fez mais por ser feliz.