Tão diferentes nos genes, no estilo, nas raízes sociais e familiares e tão iguais na ânsia pelo poder e mediatismo. Malcolm Glazer e Roman Abramovich, norte-americano e russo, donos do Manchester United e do Chelsea, respectivamente. O repetir da «guerra fria», desta vez sem ideologias políticas, sem armas nucleares, sem o confronto aberto entre o capitalismo e socialismo. Apenas dois homens, dois clubes e muitos milhões investidos no desejado domínio pelo futebol inglês e europeu.
O Maisfutebol conta-lhe nas próximas linhas um pouco sobre a vida de dois dos maiores investidores do planeta do futebol, na antecâmara do dirimir de argumentos em pleno relvado de Old Trafford. Em causa, o topo da classificação da Premier League, mas também o orgulho e preconceito de centenas de milhares de adeptos.
Glazer: da humilde loja de relógios, ao controlo dos «red devils»
Malcolm Glazer nasceu em Nova Iorque, no ido ano de 1928. Aos 15 anos, viu o pai morrer e assumiu a liderança do negócio familiar, limitado a uma modesta loja de peças para relógios. Durante mais de duas décadas viveu deste trabalho, mas tudo mudaria após o falecimento da mãe.
Arrecadou uma avultada herança e investiu na compra de acções de algumas importantes companhias, como a Harley Davidson ou a Zapata, uma empresa petrolífera fundada por George Bush, pai do actual presidente norte-americano.
Moveu influências e fez uso de importantes conhecimentos para solidificar a sua presença nestes e noutros negócios, acabando por decidir entrar no mundo do desporto em 1995. Nesse ano, adquiriu por 192 milhões de dólares os Tampa Bay Bucaneers, famosa equipa de futebol americano. Dez anos mais tarde, tornou-se dono do Manchester United.
Abramovich: casamento com filha de aliado de Yeltsin, a chave do sucesso
Na cidade de Saratov, Roman Abramovich viveu os piores momentos da sua vida. Ficou órfão ainda bebé e foi entregue ao cuidado de uns tios. Carente monetária e afectivamente, as agruras por que passou moldaram-no um combatente pleno de resistência.
Depois de cumprir dois anos de serviço militar, montou uma pequena fábrica de bonecas, mas o seu melhor negócio foi casar em 1991 com a filha de um importante aliado de Boris Yeltsin, ex-presidente russo. Hábil com as palavras e sobranceiro na escolha de amizades, obtém em 1995 a autorização do líder do governo para a exploração de petróleo. No fundo, obteve a licença necessária para fazer dinheiro.
Sucederam-se os negócios, multiplicaram-se os investimentos e Abramovich tornou-se bilionário em menos de dez anos. No ano de 2001, ainda antes de decidir adquirir o Chelsea, tornou-se governador da província de Chukokta e proprietário dos Avangard Omsk, equipa de hóquei em gelo.
Abramovich, o enigmático russo vs. Glazer, o homem invisível
Abramovich chegou a Stamford Bridge em Julho de 2003 e foi recebido num misto de incredulidade e mistério. Quem seria aquele enigmático indivíduo de sorriso fácil, disposto a gastar, só nas três primeiras épocas, 800 milhões de dólares? A verdade é que Roman conquistou com facilidade os apoiantes do Chelsea. Liquidou as dívidas que herdou (154 milhões de dólares), mudou-se para Londres, não perde um jogo e distribui simpatia por todos os que fazem parte do clube. Com um senão: está quase sempre ladeado por 30 seguranças privados.
Como nos explica Ian Ladyman, jornalista do Daily Mail, Malcolm Glazer é olhado de forma «diferente» em Manchester. A sua frieza e distanciamento ¿ apenas por uma vez esteve em Old Trafford - colidiram desde o primeiro momento com a paixão dos seguidores dos «red devils». Os adeptos criaram um site oficial anti-Glazer (www.malcolmglazer.com), mas têm lutado contra «um homem invisível», à boa moda quixotesca. «Deixou os três filhos, Joel, Bryan e Avi, à frente do clube, mas nem eles aparecem», explica o nosso colega britânico.
Abramovich e Glazer, tão diferentes e tão iguais.