Terá sido a derrota mais pesada da carreira de Manuel José. O treinador português viu o seu Al-Ahly sucumbir a um desaire no reduto do Al-Masry, em Port Sair (3-1). Pormenores. No final do jogo, morreram mais de setenta adeptos naquele estádio.

Manuel José regressou neste sábado a Portugal mas não desiste. Tem voo marcado para 16 de Fevereiro e pretende continuar a sua carreira no Egipto. Aliás, o técnico luso considera que o futebol deve continuar para homenagear aqueles que perderam a sua vida.

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«O futebol deve continuar, até como homenagem às pessoas que morreram. Muitos deles eram miúdos, miúdos com 15 ou 16 anos, que foram lá devido a uma grande paixão pelo Al-Ahly», frisou, no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

O Al-Ahly suspendeu todas as actividades desportivas, na sequência dos incidentes, e o futuro é uma incógnita. Aliás, Manuel José tem falado com vários jogadores que pretendem abandonar a carreira devido aos acontecimentos da passada semana.

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«Ontem falei com o Barakat e ele diz que não volta a jogar. O Aboutrika também quer deixar de jogar, para além de outros jogadores. Temos de ver o que vai acontecer agora.»

O campeonato já tinha arrancado tarde devido à instabilidade política no país: «A Liga vai parar, não sabemos por quanto tempo. Já ia acabar em Outubro por causa da revolução. Agora será em Novembro ou algo do género e já a próxima época ficará estragada. Portanto, espero que o campeonato acabe, até porque tenho jogadores que estão profundamente magoados.»

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«A polícia desapareceu da rua»

Manuel José completará 66 anos em Abril e pretende mesmo acabar a sua carreira no Al-Ahly. De qualquer forma, o treinador português encara o futuro do Egipto com alguma preocupação.

«O país está agora mais inseguro, mas porque a polícia desapareceu da rua. Ninguém controla as ruas e a vida das pessoas. Até aqui, estava tudo praticamente restrito à praça da liberdade, que era um local talismã para as pessoas», lamenta.

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Mesmo assim, o técnico resiste: «Já quando foi a revolução, foi a mesma coisa, fiquei lá com a minha mulher, que sempre esteve ao meu lado».

A longa conversa com os jornalistas no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, começou com um pedido de desculpas. «Antes de mais, quero pedir desculpa a todos que me enviaram mensagens ao longo dos dias, não estava em condições de responder. Ainda estava chocado», explicou.

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«Ainda ontem estivemos no clube a receber condolências de todos, têm sido dias complicados para nós», concluiu Manuel José.