Falar de Marinho é falar de uma carreira construída a pulso. O pequeno extremo teve de subir, degrau a degrau, até chegar a esta noite mágica e fria, na Feira, em que materializou o regresso da Briosa ao Jamor.

Recebido em Coimbra, pela madrugada, na emblemática Praça da República, como um dos heróis da história mais recente dos estudantes, talvez tenha aproveitado para recordar, por momentos, o filme de uma vida nem sempre fácil.

Este é o caso de um jogador futebolisticamente criado em berço de ouro. Formado em Alvalade, campeão de infantis e juvenis, ao lado de uma geração fantástica de craques, como Cristiano Ronaldo, Quaresma, Carlos Martins ou Hugo Viana, Marinho não conheceu, todavia, a mesma sorte quando chegou ao mundo dos grandes.

Académica: da Feira a Coimbra, a grande festa (FOTOS)

Primeira etapa, quase em jeito de degredo, o Alentejo. Sem espaço no plantel de Boloni, ao contrário dos colegas, o ex-júnior fez-se à estrada em direcção ao sul, com destino a Santiago do Cacém. O choque foi tal que chegou a pensar desistir ou então prosseguir como amador, procurando ajustar-se às fracas condições de trabalho ou aos ordenados em atraso.

«Mas o pior foi ter de ir para a III Divisão. Até pensei que estavam a brincar comigo. Habituado a treinar todos os dias em Alvalade e depois na academia, de repente, estava num sítio que nem sabia onde ficava ou como lá ir ter. Haveria auto-estrada para lá? É para o teu bem, diziam-me. Mas como acreditar nisso aos 18 anos? Querem matar-me, pensei», revelava ao Maisfutebol, em Janeiro de 2008.

«Quando vimos de um clube como o Sporting, pensamos que somos os maiores, que havemos de ir logo para a primeira divisão. Não é assim. À nossa frente há muita gente, que já passou pelo mesmo, com mais experiência», admitiu, mas o recomeço do zero só lhe fez bem. Aprendeu na dureza dos pelados, ganhou forças, e encetou novo período ascendente, com muita calma.

Pequenos passos mas seguros

Subiu um degrau competitivo, para o Vilafranquense, na II Divisão, por desejo expresso de... Rui Vitória. O actual técnico do V. Guimarães, conhecia-o das camadas jovens do Sporting, e teve grande influência no percurso futuro do avançado.

«Perdeu-o» para o Olivais e Moscavide, mas resgatou-o dois anos mais tarde, para o Fátima, já na Liga de Honra. Em Janeiro de 2008, prestes a fazer 25 anos, dá-se finalmente a chegada aos principais palcos, pela porta da Naval.

É na Figueira que passa mais tempo (três épocas e meia), a seguir a Alvalade, e faz uma curta viagem, já recorrente, para a capital do distrito. Em Coimbra, na apresentação, no último Verão, confessa que chegou a pensar que já não iria conseguir representar um emblema tão marcante no panorama nacional.

«Chego a um patamar que sempre ambicionei. A Académica, pela História que tem e pelo que representa para a cidade, é o ponto alto da minha carreira. Estou bastante satisfeito e os meus objectivos são os objectivos da equipa», expressou, na altura.

Humilde, trabalhador, mas de uma boa-disposição e humor contagiantes, Marinho sempre se pautou por objectivos realistas, com passos curtos, mas firmes, e remates precisos. Os mesmos que colocam os estudantes, 43 anos depois, na mítica final do Jamor. O mundo é mesmo dos pequeninos.