O dia 7 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1. Não há mesmo impérios eternos. Não o foi o Romano. Não o foi o Americano. E não o será o espanhol, neste desporto tão belo. A Espanha caiu com estrondo e passou de campeã em título e «uma das favoritas» a eliminada precoce deste Mundial-2014. A revolução de Del Bosque não foi tão grande como supus. Xavi e Piqué encostaram (o primeiro jogo foi demasiado mau para que tal não tivesse acontecido), mas Casillas e Diego Costa sobreviveram à hecatombe de Salvador e permaneceram no onze. Dois casos quase pessoais para o selecionador espanhol: Iker pela liderança e carisma; Diego pelo «forcing» de o naturalizar espanhol a tempo da Copa. Mas a história do fracasso espanhol não se explica por escolhas pontuais do selecionador. É o fim de um ciclo. Ponto. Nunca é avisado não interpretar os sinais. Esta equipa foi fantástica, ganhou tudo, encantou. Mas para este Mundial já devia ter havido mais «renovação» e menos «continuidade». O erro é relativamente comum: é normal querermos continuar com o que nos fez bem e nos deu alegrias. É humano. A Roja caiu, em ano de muitos fins no imaginário espanhol. É duro. Mas basta olhar para a qualidade do que o futebol espanhol produziu na formação, nos últimos anos, para antecipar que o regresso não será demorado. 

2. A  Holanda jogou muito menos com a Austrália do que na épica goleada perante a Espanha. Mas voltou a mostrar-se ofensiva e concretizadora (à segunda jornada já tem Robben e Van Persie cada um três golos!), em mais um espetáculo emotivo do torneio. Teve que  suar mesmo muito para bater a Austrália, em jogo com  duas reviravoltas no marcador. O 3-2 não revela a verdadeira diferença de qualidade entre holandeses e australianos. Mas foi suficiente para que a Holanda passe a ter fortes hipóteses de já ter evitado o Brasil nos oitavos (basta-lhe o empate com o Chile). Ah! E só uma pergunta (juro que não é embirração…): a Holanda duas vezes seguidas a jogar de azul? Mas  já não é a seleção laranja, então?

3. O Camarões-Croácia, que decorre em Manaus (palco do Portugal-EUA de domingo), marca a estreia de mais uma equipa portuguesa neste Mundial: os árbitros Pedro Proença, Tiago Trigo e Bertino Miranda. Um possível fracasso da Seleção portuguesa poderá abrir portas para uma presença duma equipa de arbitragem lusa numa meia-final ou até na final. Quem conhece as qualidades de Pedro Proença sabe que isso é perfeitamente possível. Mas ele não me levará a mal se escrever, já hoje, que seria um ótimo sinal que não houvesse um árbitro português na final desta prova. o Mundial. Desde que isso implique um (improvável, mas ainda possível) renascimento competitivo da equipa de Paulo Bento, a ponto de a levar à final. Já assisti, no futebol, a recuperações mais inesperadas. 

4. No sorteio, quase todos identificaram o nosso grupo G como «o grupo da morte». A primeira jornada parece ter acrescentado pelo menos outros dois agrupamentos a merecer rótulo assim tão assustador: o grupo D, claro, com a fantástica Costa Rica a intrometer-se entre três campeões do Mundo (Itália, Inglaterra, Uruguai); e o grupo A (Brasil superfavorito, mas ainda sem entusiasmar; México soberbo, a assinar no Castelão, perante o escrete, uma das melhores exibições coletivas até agora; Croácia com qualidade). Estou muito curioso de ver o Croácia-México de segunda, dia 23, no Recife. 

5. Média de três golos por jogo já em plena segunda jornada da fase de grupos,  reviravoltas no marcador, tentos de belo efeito, bons espetáculos, heróis improváveis a resolver. As notícias sobre o «fracasso» do Mundial-2014 estão a revelar-se manifestamente exageradas. Nos 19 encontros já disputados (20 se contarmos com o Camarões-Croácia, cuja primeira parte ainda decorre no momento da publicação desta crónica), uma grande maioria valeu bem a pena ver. Assim de repente, só me lembro de ter sentido algum fastio em momentos do Irão-Nigéria e do Rússia-Coreia do Sul. Em todos os outros jogos, diverti-me, apreciei, senti prazer. Continuem.   

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MF Total. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.