«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos.  Siga-o no Twitter.  

O Benfica entrou no dérbi a atirar-se ao calcanhar de Aquiles do Sporting mas acabou vergado perante o rival, por culpa das pernas bambas no processo defensivo.
 
Ao trocar Gonçalo Guedes e Nico Gaitán de lado no plano inicial, Rui Vitória procurou limitar a ação ofensiva de Jefferson e, ao mesmo tempo, explorar aquele que tem sido o ponto mais frágil do Sporting: o lado direito da sua defesa. Intensa, embora curta, a entrada positiva dos bicampeões nacionais ficou a dever-se sobretudo à ação do jovem avançado perante João Pereira. A ideia era retirar a bola da zona de pressão leonina e atacar o lateral direito antes que chegasse o apoio de João Mário.



Só que ao primeiro contratempo o Benfica abanou por todos os lados. Tenha sido o «efeito Jesus», as memórias da Supertaça ou as polémicas que antecederam o jogo – ou tudo isto junto-, a verdade é que o Benfica jogou os restantes 83 minutos (com descontos) com as pernas bambas.
 
E isso notou-se sobretudo no plano defensivo, cada vez que o Sporting passava a linha de meio-campo. Uma fragilidade já antes vista esta época, mas que a qualidade do Sporting voltou a expor, sobretudo a partir do momento em que se viu em vantagem.
 
O primeiro golo do encontro, logo ao minuto 9, é bem ilustrativo daquilo que traçou as diferenças no jogo. O mau passe de André Almeida representa as dificuldades do Benfica na construção de jogo, sobretudo pela zona central. A interceção de Adrien premeia a coesão defensiva do Sporting, neste caso evidenciada numa reação rápida a uma perda de bola, mas também o constante apoio de João Mário e Bryan Ruiz ao corredor central. E depois o momento da finalização de Téo Gutiérrez traduz a falta de sintonia do último reduto encarnado, com Sílvio a deixar Téo Gutiérrez em jogo.


 
Essa dificuldade para controlar a profundidade e a largura no último reduto fica visível também no segundo golo. Sílvio aparece em «terra de ninguém», tendo em conta que Guedes está junto de Jefferson, o autor do cruzamento, e o espaço entre Jardel e Luisão abre a oportunidade para o cabeceamento eficaz de Slimani.


 
O Sporting foi sagaz a aproveitar a fragilidade defensiva do Benfica e poucas vezes se sentiu desconfortável do ponto de vista defensivo. O apoio de João Mário e Ruiz a William e Adrien criou superioridade leonina na zona central. Jesus deu o(s) flanco(s), mas de forma intencional. Impediu que o Benfica criasse desequilíbrios pelo meio (como era apanágio no seu tempo), e deu liberdade aos laterais encarnados sabendo que estava a arriscar pouco. Sílvio e Eliseu deram razão ao ex-treinador, ao não aproveitarem as inúmeras ocasiões em que tiveram o corredor aberto.



 
O Benfica insistiu no jogo exterior, facilmente controlado pelo rival (muito bem Naldo no jogo aéreo), e quando não o fez acumulou perdas de bola. Foi assim que surgiu o terceiro golo, com André Almeida (mais uma vez mal na construção) a apostar num passe verticalizado para Gonçalo Guedes – de costas e com o marcador direto encostado – quando tinha duas alternativas mais válidas: um passe lateralizado para Sílvio, que tinha o corredor aberto, ou a tentativa de um passe de rutura para Jonas, que procurava explorar um buraco na defesa leonina.


 
Jesus até pode ter um calcanhar de Aquiles para tratar no Sporting, mas as pernas bambas do Benfica de Rui Vitória são sintoma de problemas estruturais bem mais difíceis de resolver.