O leitor pode fazer a experiência por você mesmo. Tente escrever «Papua New Guinea Football» no Google ou no Youtube. Surgem uma série de artigos, sim. Mas têm pouco a ver com o futebol como o conhecemos. «Football», na Papua, é futebol australiano. O futebol europeu lá é para meninas e para mosquitos. Literalmente.

Mas explique-se. Em duas partes, claro. Primeiro: é para mosquitos porque é essa a alcunha da selecção de futebol australiano (visto de fora parece uma variante do râguebi). Em futebol australiano a Papua é uma potência. Está no segundo lugar do ranking e é campeã em título. O futebol para eles, é sem dúvida este.

Segundo: o outro, o nosso futebol, é «soccer» e é para meninas. A selecção feminina esteve, aliás, a um pequeno passo de apurar-se para os Jogos Olímpicos de Pequim. Ganhou a fase de qualificação, mas foi eliminada pela Nova Zelândia no play-off. «A selecção feminina é mais desenvolvida», diz Marcos Gusmão.

Marcos Gusmão é o nome do brasileiro contratado para reformular o futebol da Papua. Demitiu-se, e deixou a modalidade do país órfã. Mas sabe tudo sobre o futebol local. «Conseguimos bons resultados, até chegámos a duas finais. As meninas jogam bem», frisa. «O único problema é serem muito baixas.»

Um país que parte para o râguebi como para uma luta

A Papua é um país quase inigualável, de resto. Está a poucos quilómetros da costa da Austrália, mas é um mundo completamente diferente. Como a noite e o dia. Está construído em cima de centenas de comunidades indígenas. Ora como outra sociedade menos desenvolvida, o respeito pelos direitos do homem é um conceito vago.

A luta está-lhe no sangue. O futebol, criado por aristocratas, teima em colher pouco afecto. O país até é uma monarquia constitucionalista, baixa-se perante a Rainha Isabel II de Inglaterra, mas gosta mesmo... é de luta.

Gosta de râguebi. Metade da população masculina com menos de 20 anos, por exemplo, pratica a modalidade. Dizem que é uma forma de substituir as guerras tribais. Enquanto isso, o futebol entra devagar neste espaço de popularidade. Marcos Gusmão adivinha um longo caminho até o conseguir. «Seguramente não nos próximos dez anos.»

Veja como se vive o râguebi na Papua: