*Com Nuno Madureira

O 1-0 conseguido da Luz obrigava a antecipar a estratégia da Suécia e a ajustar o jogo português a uma nova realidade. Daí a opção por mexer numa peça do onze. E por um plano de jogo que não abdicava da iniciativa.

Postiga por Hugo Almeida


A única alteração foi trocar Hélder Postiga por Hugo Almeida. A troca foi lida como uma forma de ganhar algum poder aéreo, sobretudo nas bolas paradas defensivas. Afinal, os suecos eram mais altos. Mas não terá tido só a ver com isso. Postiga é um avançado que baixa muito bem no terreno. De costas para a baliza, sabe tabelar com os médios. A equipa parece mais harmoniosa quando ele joga. Se os centrais o acompanham, nas costas de Postiga existe sempre espaço que pode ser utilizado para as entradas dos alas, por norma Nani e Ronaldo.

Depois do 1-0 na Luz, admitia-se que na segunda mão a linha defensiva sueca pudesse jogar um pouco mais subida. Por atuar em casa, por necessitar de recuperar de um resultado adverso. Ou seja, haveria mais espaço entre os defesas e a baliza nórdica. Hugo Almeida faz movimentos diferentes de Postiga. Por norma posiciona-se junto ao último defesa adversário e cai com regularidade nas alas, sobretudo à esquerda. Estaria sempre mais bem colocado para poder aproveitar um passe longo e as suas movimentações continuariam a garantir que havia espaço livre para as diagonais dos alas. Além disso, fecharia o flanco esquerdo, dividindo o trabalho defensivo com Cristiano Ronaldo.

Que Suécia?

Segura de que um golo não seria o fim da história, como tinha dito o treinador, a seleção portuguesa preparou-se sempre para a necessidade de jogar para ganhar. Sobre a atitude da Suécia, dúvidas. Poderia entrar com tudo e tentar pressionar. Ou poderia optar por um plano de jogo mais semelhante ao da Luz, paciente, sem riscos. Foi esta a opção escolhida pelo treinador nórdico. Não houve sufoco: Portugal acabou por ter a bola e só por alguma debilidade técnica não foi capaz de construir melhor, em especial na primeira meia hora. Mesmo assim foi para o intervalo a dever um golo ao jogo e com a sensação de controlo quase total.

Como reagir a uma boa notícia?

O primeiro golo de Ronaldo apareceu como um desfecho lógico para os bons 50 minutos da seleção. Paulo Bento reagiu com uma corrida eufórica até ao túnel (e regresso ao banco!). No relvado a festa também foi enorme. Afinal, a Suécia tinha 40 minutos para fazer três golos. Tudo parecia bem. No entanto, o que se seguiu foi o momento menos forte de Portugal no play-off.

Coentrão, em dificuldades crescentes, saiu lesionado logo a seguir, entrou Antunes. Na prática nada mudou. Mas a equipa foi ficando um pouco mais atrás. Sem que a Suécia assumisse o controlo, o jogo entrou numa fase inerte, de passividade. Mexer poderia ter sido uma opção, mas havia muito tempo pela frente e uma troca já forçada. Paulo Bento esperou.

A bola parada de Ibrahimovic

O empate surgiu de um canto, lance muito bem identificado. O posicionamento da equipa nacional era não colocar um homem no limite da grande área, ao contrário do que fez em outros jogos que observámos, na fase de qualificação. Os suecos marcaram sempre direto. Quando se revê o jogo percebe-se que esse homem «poupado» no limite da área ocupava uma das primeiras posições da zona portuguesa, permitindo que os homens altos (Pepe, Bruno Alves) estivessem um pouco mais centrais, tentando proteger o segundo poste. 

Outro aspeto também foi visível nas imagens: alguns dos homens mais baixos colocavam-se à entrada da área. O objetivo era impedir que a segunda vaga de adversários altos surgisse embalada para cabecear. Foi demasiado evidente para não ser planeado. Mas dessa vez, ao minuto 68, não houve questões estratégicas a infuenciar: a bola saiu perfeita e o poder físico de Ibrahimovic imperou num duelo direto, com jogo de braços à mistura.

O livre direto

No livre direto, ao minuto72, tudo estava como normalmente as barreiras estão. Quatro na barreira, um quinto disponível para sair de imediato, caso o adversário optasse por um pequeno toque antes do remate final. A função da barreira é ser um muro, não se mexer, impedir que a bola passe. Mas, muitas vezes, o instinto é mais forte e abre brechas. Dessa vez, o remate de Ibrahimovic foi preciso de mais.

William Carvalho, a resposta

Tudo muito rápido. Dois golos em quatro minutos e, de súbito, a certeza de que o jogo tinha ficado descontrolado. A entrada de William Carvalho é instantânea após o 2-1. O comportamento sueco a partir daquela fase do jogo estava estudado. As bolas começariam a cair na zona central, muitas vezes por alto. Era altura de colocar o médio do Sporting. A alteração motivou a subida de Miguel Veloso para o lugar que era de Meireles.

Portugal ganhava poder físico e mantinha a qualidade de passe que é fundamental naquela zona. Poucos minutos depois, o 2-2 começou ali. William já tinha feito um corte importante, a participação no golo acabou de tranquilizá-lo, e à equipa. Com pouco mais de dez minutos, agora sim, havia a convicção de que a Suécia não conseguiria marcar dois golos.

Se Portugal tivesse vencido na Luz por dois ou três golos de diferença provavelmente a abordagem da Suécia ao jogo teria sido mais parecida com este período de desespero. E talvez, nunca saberemos, William Carvalho pudesse ter jogado de início. O antídoto português para aquele futebol musculado e básico poderia passar por alguém como o jogador do Sporting à frente dos centrais. Ou até Pepe, solução já utilizada no tempo de Carlos Queiroz, entrando Ricardo Costa para a linha defensiva. Assim, o plano B ficou guardado para a parte final da epopeia de Solna.

Ricardo Costa e espaço para Ronaldo

Logo a seguir o 3-2, na terceira transição rápida com Ronaldo como alvo. A festa, e a certeza de que os minutos seguintes iriam ser de carga descontrolada da Suécia. Boa notícia: haverá espaço atrás da linha defensiva deles. Ricardo Costa por Hugo Almeida, ficam cinco atrás. Ronaldo em ponta e muitos metros para correr. Resultado: mais um ou dois golos por marcar, já com a certeza de que a missão tinha sido um sucesso.

Na história do jogo ficaram os jogadores e antes de todos Ronaldo. Mas houve mais, muito mais, até ali chegar. Na entrevista ao «Record», Paulo Bento confessou que não tinha sido surpreendido pela Suécia. O trabalho de casa foi profundo.