Abílio, Pedrosa e Carlos Manuel são três nomes que ficarão para sempre ligados ao Salgueiros e que, por laços afectivos, estão igualmente ligados ao clube de Paranhos, o tal onde existia uma «alma» que ninguém sabia definir mas que todos os que por lá passavam sentiam. A notícia da impossibilidade de inscrever jogadores em provas oficiais não os surpreendeu, mas todos partilham a mesma tristeza.
Pedrosa esteve no Salgueiros por duas vezes enquanto jogador e numa altura em que a situação do clube já era complicada, aceitou o desafio de treinar uma equipa formada por juniores: «É com tristeza que constato que o desfecho foi este. Podia falar em muitas coisas, mas perante um desfecho destes resta-me lamentar e desejar que o Salgueiros volte a ter a alma, não só em termos desportivos, mas também para a cidade do Porto».
O ex-jogador confessou que já esperava esta situação: «Sabia da existência de alguns problemas, que senti mais profundamente quando regressei para ser treinador. Foi nessa altura que vi as falhas que existiam e que tive a percepção da situação em que poderia ficar. Estes problemas já existiam há algum tempo, mas foram-se arrastando e só começou a pensar-se em solucioná-los no prazo limite. Houve momentos em que seria possível ter atingido o tal equilíbrio, enquanto ainda era possível. Agora penso que será muito complicado».
«Erros de gestão», acusa Abílio
Abílio foi um exemplo de dedicação ao Salgueiros e aquilo que se pode chamar um verdadeiro símbolo do clube, já que foi lá que passou grande parte da sua carreira (entre 1991 e 1999). Confrontado com aquilo que considerou ser «uma notícia triste»: «Sabia que a situação ia ser complicada, mas nunca pensei que chegasse a este ponto», lamentou.
Profundo conhecedor da realidade do clube de Paranhos, o agora presidente do Canidelo não hesita em dizer que «houve má gestão»: «Sem esses erros da direcção, hoje o Salgueiros poderia continuar no escalão principal do futebol português. Era necessário não cometer loucuras nem excessos. A Comissão Administrativa tentou de todas as formas resolver os problemas, mas acabou por pagar a factura da gestão anterior».
«Quem conheceu aquela casa sabe da mística que lá se vivia. Tínhamos um ambiente fantástico», recorda o talentoso médio, revelando que, enquanto foi jogador do Salgueiros, nunca sentiu na pele os problemas financeiros que causaram esta profunda crise: «Na altura nunca pensei que as coisas chegassem a este ponto, porque nunca tivemos qualquer tipo de problema. O orçamento não era muito elevado, mas dava para cobrir as despesas e as receitas da televisão davam para compensar».
Embora gostasse de ver o Salgueiros novamente na ribalta, admite que será «muito difícil», mas deixa uma mensagem aos portuenses: «Faço um apelo às pessoas, porque sei que elas estão sensíveis a esta questão, mas as verbas são muito elevadas e só boa vontade não chega».
Carlos Manuel também passou por Vidal Pinheiro entre 1996 e 1998, antes de ir para o Sporting e em 2001, tendo ficado no clube até 2003. O treinador considera «uma pena» o que se passa actualmente com o Salgueiros: «É um clube com historial muito grande no futebol português, mas infelizmente a tendência é esta. Quem por lá passou sabe bem como as pessoas estão ligadas ao clube, o que sofriam por ele e tudo o que davam pelo Salgueiros».
«Acho que nunca ninguém imaginou que isto poderia suceder. Já existiam problemas e depois acabou por ser como uma bola de neve. As coisas acumularam-se até terem chegado a este ponto», lamenta. Carlos Manuel entende que a recuperação do Salgueiros será «muito difícil, porque boa vontade não chega».