Rafael Benítez vestiu o fato naquela tarde de maio e deu nó a uma gravata com tons escuros e laranja. A mesma cor usou o Valência em campo. Já o Sevilha vinha como sempre: de branco, porque é assim que normalmente se veste quando recebe alguém no Sanchez Pizjuan.

O treinador espanhol tinha pouco currículo e o Valência cinco títulos de campeão. Nessa tarde, conseguiu o sexto. Às custas da última vitória no estádio dos andaluzes. Foi há dez anos que o Valência fez a festa no Sanchez Pizjuán, um salão que o Sevilha lhe fechou até hoje, e onde os ches tentam vencer de novo, agora que nesta quinta-feira lá jogam a primeira mão da meia-final da Liga Europa.




Aquele jogo marcou um ponto de viragem nas duas equipas. Em 2003/04, o Sevilha tentava recuperar de uma crise aberta no início do século. Depois de subir ao primeiro escalão tinha feito 8º e 10º nos dois campeonatos precedentes. Em maio de 2004 estava em posição de chegar aos lugares europeus com Joaquin Caparrós e o jogo com os ches era de extrema importância para esse objetivo.



O Valência entrara na época em fulgor contrário. Tinha sido campeão em 2001/02, não conseguira defender o título em 2002/03 e queria resgatá-lo agora. E já era líder quando o galáctico Real Madrid de Carlos Queiroz caiu ante o Maiorca de Samuel Etoo [2-3], no dia anterior. Benítez e o Valência tinham a primeira de três ocasiões para vencer a Liga. Um golo de Vicente a abrir e outro de Baraja, com direito a ultrapassagem a Sergio Ramos, soltaram a festa no Sanchez Pizjuán. O Sevilha tinha de fazer pela vida…





Ora, de lá para cá, a história inverteu-se. Os andaluzes receberam o Valência por 13 vezes. O Sevilha ganhou dez e houve três empates, o último um nulo neste campeonato [no Mestalla, 3-1 para os valencianos]. E esta será, com muita certeza, a quinta vez em dez épocas que os andaluzes terminam o campeonato à frente do Valência.

Mais até. Desde aquele dia de celebração na Andaluzia, o Valência venceu quatro troféus: Taça UEFA [2003/04], Supertaça Europeia [2004] e uma Taça do Rei [2007/08]; o Sevilha venceu seis: duas Taças do Rei [2007 e 2010], uma Supertaça de Espanha [2007], duas Taças UEFA [2005/06 e 06/07] e uma Supertaça Europeia [2006].



O passado espanhol e os portugueses pelo meio

Sevilha e Valência têm assim novo encontro nesta quinta-feira e começam a decidir quem estará em Turim, na final da Liga Europa. Uma certeza existe: haverá portugueses no jogo decisivo em Itália, mesmo que o Benfica não ultrapasse a Juventus na outra meia-final.

Há três de cada lado, mas o Valência só pode utilizar um [João Pereira]. Ruben Vezo não está inscrito, Ricardo Costa lesionado. Ou seja, no máximo poderá haver quatro portugueses ao mesmo tempo no Sanchez Pizjuán [àquele lateral, juntar-se-iam Beto, Carriço e Diogo Figueiras pelos andaluzes]. Um recorde de todos os tempos?

Ainda que possa ser uma das partidas europeias entre formações estrangeiras com mais portugueses envolvidos, longe disso. O APOEL-Real Madrid de 2011/12 teve sete, com maioria para o emblema cipriota, e sem contar com José Mourinho.



Apesar de este ser o primeiro confronto europeu entre as duas equipas, Sevilha e Valência têm uma lista longa de confrontos com compatriotas nas provas da UEFA. Os andaluzes já jogaram dez vezes frente a espanhóis: três vitórias, três empates, quatro derrotas. Note-se, porém, que nos três triunfos, dois foram em finais: uma Taça UEFA ganha ao Espanhol, uma Supertaça Europeia ganha ao Barcelona.

O registo do Valência lê: 13 jogos, seis vitórias, três empates e quatro derrotas. Uma destas, na final da Liga dos Campeões, em Paris, frente ao Real Madrid.

Para tornar a eliminatória mais interessante, Unay Emeri. Foi treinador no Valência, agora orienta um Sevilha que procura a terceira conquista nesta prova e, assim, alcançar um feito que apenas Juventus, Inter de Milão e Liverpool conseguiram.