Laszlo Boloni chegou ao Sporting vindo da seleção romena, depois de ter estado vários anos no Nancy. No início, teve vários problemas para resolver. Um deles foi André Cruz. Hoje, o romeno destaca a importância do central brasileiro, elogia Pedro Barbosa e um «grande plantel, com a ambição natural dos jovens» Quaresma ou Hugo Viana e a «maturidade dos outros», os outros que eram quase todos internacionais.

Comecemos por Pedro Barbosa e André Cruz. E deixemos Boloni falar. «Agora, passados dez anos, tenho de reconhecer a importância de um jogador que, não sendo sempre titular, foi fulcral, pela sua inteligência, pelo seu caráter e vontade. Tenho a certeza de que sofreu por não ter sido sempre titular, mas demonstou ser um enorme profissional e que apoiou muito o plantel. Esse jogador é o Pedro Barbosa. A sua inteligência teve grande influência. Foi um grande campeão e um grande capitão.»

O camisola 8 dos leões naquela altura não esquece o quão difícil foi entrar na equipa, enquanto o treinador desesperava. «Tinha feito uma limpeza ao joelho e estava a voltar. Na semana do jogo com a U. Leiria, fiquei a fazer trabalho específico, só eu com Boloni, no estádio. Num sprint, senti o joelho preso e caí, não mexi mais. Lembro-me de o ouvir aos gritos, palavrões em francês, num estádio vazio, com a frustração de mais um contratempo.» Barbosa acabou por voltar.

«Até para jogar no lugar do Jardel!»

Já André Cruz passou tempo no banco, mas por opção. «Há um jogador do qual não falámos, mas que teve uma influência enorme: André Cruz. Para mim, foi muito importante no nosso grupo», conta agora Boloni ao Maisfutebol.

O brasileiro recorda essa relação, «num primeiro momento boa, depois ruim e por fim boa de novo», até aos dias que correm. André Cruz conta como foi: «No início da época tive sondagens de Itália. Tinha mais um ano de contrato e Boloni pediu-me para ficar, disse que eu era importante. Gostei, até porque não estava desesperado para sair. Deixei de lado as outras propostas. Até setembro fiz todos os jogos. Ele nunca corrigiu nada, nunca criticou nada. De um dia para o outro fiquei de fora. Foi quando fomos jogar à Dinamarca (ndr. Midtylland), no dia do meu aniversário (ndr. 20 de Setembro). Todos acharam que era para descansar, mas a equipa fez um grande jogo, uma vez mais, e continuei de fora, sem justificação. Ele não era obrigado a tal, e nada no meu contrato dizia que eu tinha de jogar, mas acho que merecia, uma vez que ele me tinha pedido para ficar.»

Em livro, Boloni dizia que André Cruz era um «fantasma» que tinha no banco. Era um titular que tinha ao lado. «Passadas algumas semanas jogámos em casa com o Santa Clara e empatámos 0-0. A dada altura, Boloni mandou toda a gente para aquecimento, menos eu e o guarda-redes suplente. Desapertei as botas. Ele trocou o Pedro Barbosa e o João Pinto pelo Hugo Viana e pelo Quaresma. A cinco minutos do fim chamou-me, mas recusei-me a entrar. Agora teria mesmo de haver uma conversa. Dois dias depois chamou-me, estávamos a preparar a visita a Paços de Ferreira. Disse-lhe que achava que não tinha sido correto comigo. Ele procurou justificar-se. Não conseguiu, mas tentou, e só por isso disse-lhe que a partir daquele momento podia contar comigo para tudo. Até para ir para a baliza. Ou para ficar no banco, na bancada, ou ocupar o lugar do Jardel. Voltei à equipa (ndr. Frente ao Halmstad). Ganhámos 6-1 e fiz um jogo espetacular. Só faltou o golo. Nunca mais saí da equipa.»

Agora, uma década após o título de campeão, André Cruz garante que é amigo do romeno. «Quando vou à Europa tento sempre visitá-lo, para trocar ideias», diz. Boloni assume que o mesmo se passa com outros jogadores, embora o contacto seja cada vez menor: «Hoje, quando falo com o Rui Jorge, ainda discutimos sobre qual é o melhor pé esquerdo, o meu ou o dele». Acima de tudo, Boloni foi um treinador que percebeu os homens que orientava.