As medidas de austeridade adoptadas pela Académica de Coimbra iam explodindo nas suas próprias mãos. Só um pontapé de Amaury Bischoff aos 120 minutos, genial e injusto, afastou o Cesarense da Taça de Portugal.

Os estudantes cortaram na entrega, na despesa física e na beleza do futebol. Foram quase sempre inferiores a um oponente teoricamente mais fraco e não mereciam, longe disso, tamanha recompensa.

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Objectivamente, ninguém ousaria dizer que há dois escalões a separar Cesarense e Académica. Por um dia, um domingo especial, o apartheid futebolístico deixou de fazer sentido. Não houve segregação ou preconceito de qualquer espécie no relvado do Mergulhão. Prova mais do que provada que esta Taça de Portugal ainda é o arauto da democracia do nosso futebol.

Relva amarelada e irregular, uma única bancada, o peão recheado de gente e um entusiasmo genuíno e incontrolável nas gentes de Cesar. Bem-vindos ao país real, ao Portugal do futebol autêntico e à terra onde o «nunca» é palavra proibida.

Neste enquadramento há coisas bem mais importantes do que a táctica. Lembramo-nos de umas quantas, tantas vezes confundidas com lugares-comuns: atitude, concentração, superação dos limites. Uma equipa que beba estes antídotos, uma espécie de cocktail mágico, merece o respeito e a consideração máxima dos opositores.

O Cesarense sorveu sôfrego o elixir composto por três palavras e a Académica sofreu a bom sofrer.

O milagre de Peiser antes da aparição de Bischoff

Do equilíbrio inicial sobrou apenas o golo de Diogo Valente, competente a aproveitar algum deslumbramento dos cesarenses. O resto foi equilíbrio, luta, entrega e despique olhos nos olhos. E se, até ao intervalo, pouco havia a apontar à Académica, na segunda parte a conversa muda de figura.

O Cesarense foi muito, muito superior na etapa complementar, e merecia bem mais do que o golo de Toninho. Organizada, com um belo guarda-redes e uma dupla de centrais forte, a equipa da II divisão merecia ter ganho e evitado o prolongamento. Um milagre duplo de Peiser, já no período de descontos, adiou a decisão para o tal pontapé esculpido em injustiça de Amaury Bischoff.

O Cesarense não merecia perder, muito menos com um golo sofrido aos 120 minutos. Merece, isso sim, o aplauso generalizado. Esta equipa é a prova viva do quão bem se pode trabalhar com um plantel semi-profissional.

FICHA DE JOGO:



Estádio do Mergulhão, em Cesar (Ol. Azeméis)

Árbitro: André Gralha (AF Santarém)

CESARENSE: Marco Sá; Américo, Diogo, Careca (Letz, 119) e Hugo; André Moreira, Hélder e Toninho; Mauro (Ayrton, 84), Joca e Renan (Ricardinho, 65).

Suplentes: David Santos, Tiago, Steeve e Eduardo.

Treinador: José Pedro

ACADÉMICA: Peiser; Pedro Costa, Luiz Nunes, Berger e Hélder Cabral; Pape Sow (Amaury Bischoff, 63), Diogo Melo e Hugo Morais; Laionel, Miguel Fidalgo (Éder, 63) e Diogo Valente.

Suplentes: Ricardo, Amoreirinha, David Addy e Diogo Gomes.

Treinador: Jorge Costa

Cartões amarelos: Pape Sow (55), Renan (57), Pedro Costa (72), Hélder Cabral (74), Diogo (75), Luiz Nunes (83) e Éder (98)

Golos: Diogo Valente (29), Toninho (54) e Amaury Bischoff (120)

Ao intervalo: 0-1