Não deve haver nem um sportinguista nem um benfiquista que goste de «bola», e que tenha mais de dez anos, que não se lembre do último dérbi para a Taça de Portugal disputado em Alvalade.

Foi na época 2007/2008, mais precisamente no dia 16 de abril de 2008, e o Sporting venceu o Benfica por 5-3, nas meias-finais, depois de estar a perder por 2-0 ao intervalo.

Yannick Djaló estava lá, marcou dois golos e, claro, não se esquece. «Epá que grande jogo, que grande jogo!», começou por dizer a sorrir em conversa telefónica com o Maisfutebol, desde a Rússia onde joga atualmente no Mordovia por empréstimo do Benfica.

O extremo, habituado a dar entrevistas e a falar sobre este jogo, não hesitou em voltar a falar desse encontro histórico e do «caracol» que motivou os leões.

Prestes a ser um jogador livre, Djaló falou ainda do atual Benfica e da sua ligação ao clube da Luz e do novo Sporting, clube que o formou.
 
Este sábado há Sporting-Benfica, o terceiro dérbi desta época. O saldo é positivo para o Sporting, que conta com duas vitórias. O que espera desta partida da Taça de Portugal?
Não tenho qualquer dúvida: vai ser um grande jogo e diferente do último que houve. Este será para a Taça de Portugal e a eliminar é sempre diferente. Vai ter de haver um vencedor, quer seja aos 90 minutos ou depois. Por isso vai ser um jogo ainda mais intenso do que o do mês passado. Nestas ocasiões os jogadores mais criativos costumam ter maior destaque e por isso acredito que será um jogo bonito de jogar e de ver.

O que faltou ao Benfica nos dois primeiros jogos com o Sporting? Perdeu a Supertaça e foi goleado na Luz….
O Benfica está a viver as consequências normais de uma mudança de treinador, com novos métodos e novas ideias. Isso leva sempre o seu tempo. Jorge Jesus esteve seis anos no Benfica e claro que a saída dele deixou marcas. Os jogadores do Benfica tiveram de lidar com isso e começam agora a adaptar-se melhor ao Rui Vitória e àquilo que ele pretende.

Mas à terceira será de vez?
O Benfica tem vindo a crescer e considero que está no bom caminho, podendo agora fazer mais frente ao Sporting do que nos dois primeiros jogos que já disputaram esta temporada. Não sei se vencerá, mas acredito que vá ser um jogo muito igualado e com hipóteses para ambos os lados. Não dou favoritismos a ninguém, pois considero que há 50 por cento de hipóteses tanto para o Benfica como para o Sporting.

E o Sporting não poderá sair prejudico por excesso de confiança devido ao sucesso recente frente ao Benfica?
Não acredito nisso. Acho que o Sporting vai aparecer com a dose certa de confiança e de motivação e que não se deixará prejudicar pelos dois bons jogos que fez já esta época com o Benfica. Jorge Jesus sabe como trabalhar esse aspeto e acredito que os jogadores tenham isso em mente. Não se podem deixar levar, nem no bom, nem no mau sentido, pelo que já se passou.

Considera o Benfica de Rui Vitória mais fraco do que o de Jorge Jesus?
Rui Vitória é diferente de Jorge Jesus, pois nenhum treinador é igual a outro. É um treinador diferente, com ideias diferentes. Acredito que quando os jogadores do Benfica conseguirem assimilar tudo aquilo que o mister lhes pede será ainda mais forte e capaz. Mas é preciso ir com calma. Todas estas mudanças levam tempo.

E o Sporting é melhor com Jorge Jesus?
Não é correto dizer se é melhor ou pior, os dois últimos treinadores também fizeram bom trabalho, mas o Sporting é claramente diferente com Jorge Jesus no comando da equipa. É, sem dúvida, um grande treinador, que conhece muito bem o futebol português e que sabe como pôr as equipas a jogar e a conseguir bons resultados. Nota-se que o Sporting deste ano joga de forma mais intensa, que está mais competitivo e organizado. Jesus é uma mais-valia para o Sporting e isso tem-se visto.

No campeonato o Benfica, com menos um jogo, tem menos oito pontos do que o líder Sporting. Já está «arrumado»?
Não. Ainda falta muito campeonato e o Benfica ainda tem, claramente, uma palavra a dizer. Está atualmente a vários pontos de distância do primeiro lugar, mas vai certamente recuperar. Ainda é cedo. O Benfica tem um plantel poderosíssimo e que é capaz de recuperar e de se colar, de novo, ao FC Porto e ao Sporting.



O Sporting não ganhava ao Benfica há algum tempo e nos últimos anos destaca-se a vitória de 5-3 para a Taça de Portugal em Alvalade. O Djaló marcou dois golos. Fale-nos desse jogo…
Lembro-me muito bem desse encontro, claro. Mas o que nunca esquecerei é a frase que o mister Paulo Bento nos disse ao intervalo. Sim, apenas uma frase. Chegou ao balneário, mandou-nos calar e disse apenas «entrei pelo caracol e vou sair pelo caracol». Depois foi-se embora, virou costas e deixou-nos ali uns com os outros.

Só disse isso? Qual foi a intenção?
Só. Falou connosco uns 20 segundos. Só disse mesmo isso e foi embora. Para quem não sabe, o caracol é o helicoide de acesso ao parque de estacionamento de Alvalade. Entrávamos sempre por ali e saímos sempre por ali. Caso perdêssemos e fossemos goleados teríamos de sair por outro lado, devido aos protestos dos adeptos. Foi uma ameaça em jeito de motivação.

Qual era o pensamento dos jogadores? Nas bancadas sentia-se o desespero dos sportinguistas e houve até alguns que saíram do estádio ao intervalo…

O nosso pensamento era o de dar a volta ao resultado. Ao intervalo, entre nós, jogadores, tentámos falar sobre isso e sobre a estratégia a adotar. Tudo era possível. Se eles fizeram dois golos em 45 minutos, nós também os poderíamos fazer na segunda parte.

No entanto, às vezes queremos muito uma coisa, mas temos noção que pode ser impossível de alcançar. Não pensaram que já não havia voltar a dar?
Sinceramente não me lembro de ter pensado isso. Nem se havia alguém assim tão pessimista. Cada um reclamava para seu lado. Sei que entrei no balneário, mandei a garrafa de água para o meu lugar e sentei-me. Sabíamos quais os cenários possíveis. Sabíamos que marcando cedo conseguiríamos relançar o jogo e que se eles marcassem o terceiro nos deitavam abaixo.

Ainda assim, o Sporting não marcou cedo, mas o Benfica também não e o Sporting conseguiu ganhar...
É verdade! Entrámos bem, mas não conseguimos marcar cedo. Só aos 68 minutos. Fui eu que marquei o primeiro. Foi de facto tarde, mas conseguimos ganhar. Foi um jogo inesquecível por tudo. Um grande resultado, com casa cheia e frente ao maior rival.



O Djaló marcou dois golos. O 1-2 e o 4-3… foram os melhores da carreira?
Sim. Não sei se foram os mais bonitos. Os mais bonitos não foram de certeza, mas foram sem dúvida os mais saborosos. Marcar num dérbi, naquele dérbi, marcar logo dois e ajudar a conquistar a vitória, depois de um início péssimo de jogo, foi sem dúvida sensacional.

Desde que saiu do Sporting que a sua carreira tem sido feita de altos e baixos. Depois de vários problemas burocráticos chegou ao Benfica, mas está há dois anos emprestado ao Mordovia, depois de outras cedências. Como está a e correr a experiência?
Está a correr bem, tem sido uma experiência muito boa e enriquecedora. Na Rússia é tudo diferente daquilo a que estava habituado. Começando pelo tempo. É muito frio e, claro, jogar nestas condições é diferente. O futebol, a cultura, o clima é totalmente diferente, mas estou a gostar muito e estou totalmente adaptado.

E o futuro do Djaló passa por Portugal?
Não sei. A curto prazo apenas sei que termino o contrato de empréstimo com o Mordovia em dezembro e que no final da época termino a ligação ao Benfica. Gosto de Portugal, do futebol português, que acho competitivo e evoluído, mas o futuro logo se verá.

Acha que tem lugar na equipa de Rui Vitória?
Sinceramente, não penso nisso. Estou totalmente focado no Mordovia. E também é assunto que não quero abordar agora.