Ticha Penicheiro regressou a Portugal depois de se ter sagrado campeã norte-americana de basquetebol e ter chegado «ao topo da carreira». Feliz pelo sucesso que atingiu na «viagem ao desconhecido» que foi a sua decisão de emigrar para os Estados Unidos, há 11 anos, prepara-se para prosseguir a sua carreira de basquetebolista profissional com uma passagem pela Rússia, antes de regressar aos EUA e à WNBA, a Liga norte-americana de basquete feminino.»
Cansada depois de uma longa viagem, Ticha começou por fazer o balanço da conquista do título, com a camisola das Sacramento Monarchs: «Foi uma grande satisfação. Aquilo que qualquer atleta pretende é ganhar títulos. Estou na WNBA há oito anos e é um título que sempre quis ter. Foi bom representar o basquetebol português, representar Portugal, ter tido sorte na minha viagem ao desconhecido. Já lá vão 11 anos desde que parti de Portugal e não sabia o que ia acontecer. Foi um passo no escuro mas com sorte e muito trabalho tenho conseguido alcançar muitos êxitos. Este é com certeza o topo da minha carreira.»
Ticha recorda que passou por tempos mais complicados, mas revela a atitude que a levou ao sucesso. «Houve alturas em que nem chegámos aos «play-off», não conseguíamos jogar bem, principalmente na primeira época na WNBA, mas há que nunca desistir, continuar a trabalhar e acreditar que as coisas mudam. Não me posso sentir mais realizada do que estou», analisa.
O título teve grande repercussão em Portugal e Ticha mostra-se surpreendida, mas agradece. «Já estou fora há 11 anos, na WNBA há oito, parece que foi o título que acordou Portugal e toda a gente se lembrou que estou lá, mas é com grande satisfação que represento o nome de Portugal e agradeço às pessoas, aos amigos, à família e aos portugueses, alguns que nem me conhecem e estiveram acordados às tantas da manhã a seguir os jogos e fazer força para que a minha equipa ganhasse. A todos agradeço», afirmou.
«É quase um sonho, desde que acabou o campeonato e ganhámos o telefone não tem parado, as pessoas têm telefonado os meus pais a alongar as felicitações», contou: «É com grande satisfação que chego a Portugal hoje e tenho uma série de entrevistas e acontecimentos. É bom saber que o meu trabalho é reconhecido e as pessoas se interessam pelo que faço.»
Moscovo até Abril, Portugal difícil
Ticha terminou contrato com as Monarchs e é agora «free agent», livre para negociar com outra equipa. Mas diz que deve continuar em Sacramento, depois de uma passagem pela Rússia, onde irá jogar pela segunda vez, agora com a camisola do Spartak Moscovo, até Abril.
«Quero continuar a trabalhar até o corpo dizer para parar. Vou jogar na Rússia durante o defeso da WNBA. Começo já no sábado, dia 15, depois volto para os Estados Unidos no Verão. É a minha vida, a vida profissional, nunca parar de um lado para o outro», recorda a base portuguesa, esperando adaptar-se bem. «Já joguei na Rússia há dois anos, embora não em Moscovo, mas já estou familiarizada com o frio e com a cultura russa. Tenho colegas de equipa que são americanas e vão-me ajudar a passar o tempo, a fazer com que Abril chegue rápido para voltar para os Estados Unidos.»
O futuro na WNBA ainda não está decidido, mas não deve mudar: «Sou free agent, o meu contrato acabou, tenho que renovar. É minha opção se quero ficar ou ir para outro sítio, mas em princípio Sacramento é como uma segunda casa, tenho lá uma segunda família, sinto-me bem e é provável que volte para a mesma equipa.»
O regresso a Portugal, esse, é bem mais complicado, para quem atingiu o topo da carreira do basquete mundial: «É difícil. O basquetebol feminino em Portugal infelizmente não tem o reconhecimento que gostávamos, embora tenha dado passos em frente. É difícil, quando me habituei a um tipo de profissionalismo e salário que infelizmente Portugal não pode oferecer. Mas continuo a tentar levar o nome de Portugal o mais alto que conseguir.»