Os dois últimos treinadores campeões em Inglaterra foram despedidos no decurso da temporada em que defendiam o título. José Mourinho no final de 2015 e agora Claudio Ranieri, nove meses depois de ter conseguido com o Leicester uma das maiores proezas da história do futebol britânico. A Premier League já tinha deixado de ser a referência de estabilidade nos bancos que foi em tempos, mas este nível de desapego à história tão recente atira a questão para outro extremo. Mais ainda se juntarmos Roberto Di Matteo e Roberto Mancini a Mourinho e Ranieri: o primeiro foi afastado em novembro de 2012, seis meses depois de se ter tornado campeão europeu com o Chelsea. E Mancini deixou o Manchester City a duas jornadas do fim da época 2013/14, ele que era o campeão em título.

São sinais do «novo futebol», disse José Mourinho depois do afastamento de Claudio Ranieri, uma das muitas vozes críticas e solidárias com o treinador italiano. E, se em termos absolutos esta época a Premier League até está a despedir menos treinadores do que as outras «Big», estes números de afastamento de treinadores campeões em título não têm paralelo nos outros grandes campeonatos europeus.

Nem em Portugal. Por cá, é preciso recuar a 2000 para encontrar um treinador campeão em título despedido no decurso da época seguinte. Aconteceu a Inácio no Sporting. Depois disso houve de resto saídas de treinadores campeões, mas aconteceram no defeso: foi assim com Vítor Pereira em 2013, depois de ter ganho o bicampeonato no FC Porto, ou com Jorge Jesus em 2015, ao fim de seis épocas no Benfica e depois de ter conquistado também o segundo título consecutivo dos três que venceu na Luz. Há ainda a situação de Co Adriaanse, que começou a pré-temporada depois de ser campeão com o FC Porto em 2006, mas sairia ainda antes de começar o campeonato.

Del Bosque, quem se lembra? Mas não só

Em Espanha o último treinador afastado no decorrer da época depois de ter sido campeão foi Bernd Schuster, em dezembro de 2008. O Real Madrid separou-se de resto neste século de mais que um treinador campeão: em 2007, por exemplo, aconteceu com Fabio Capello. Mas antes disso a saída de um treinador no final da época deu muito que falar. O Real Madrid afastou Vicente del Bosque no dia seguinte à conquista do título de campeão espanhol, em 2003. A forma como o clube descartou o treinador que conquistou duas Ligas dos Campeões em três anos motivou reações fortes, um pouco à semelhança do que aconteceu agora com o despedimento de Claudio Ranieri com o Leicester. O sucessor de Del Bosque em Madrid foi o português Carlos Queiroz.

Na Alemanha aconteceu a Louis Van Gaal: campeão em 2009/10 pelo Bayern Munique, deixaria o clube em março de 2011. Já tinha sido anunciado que o holandês sairia no final da época, mas não chegou aí. Mais recentemente, Jupp Heynckes deixou o Bayern em 2013, depois de ter ganho o título e também a Liga dos Campeões, mas foi no final da época, com o alemão a assumir a reforma.

Na presente época, em termos globais a Premier League até está mais comedida no que diz respeito a chicotadas psicológicas do que as grandes Ligas europeias. Mas nenhuma das saídas de treinador nos grandes campeonatos europeus teve a dimensão do despedimento de Ranieri, que ainda não tem sucessor definido. Nesta segunda-feira será o adjunto Craig Shakespeare a ocupar o lugar no banco frente ao Liverpool, para a  26ª jornada da Premier League.

Os incríveis caso do Palermo e da Liga portuguesa 

Foram quatro os clubes ingleses que afastaram o treinador até agora, sendo que o Swansea o fez por duas vezes. Os outros foram o Crystal Palace e o Hull City, onde o português Marco Silva sucedeu a Mike Phellan.

Em Espanha já houve sete mudanças de treinador nesta temporada: duas no Valencia, uma no Granada, Osasuna, Bétis, Málaga e Sp. Gijón. O mesmo número na Alemanha, onde já viram sair o técnico clubes como o Werder Bremen, Wolfsburgo, Hamburgo, Ingolstadt, Darnmstadt, Augsburgo e Borussia MGladbach.

Em Itália são nove as mudanças, mas na verdade foram «apenas» cinco os clubes que já mudaram de treinador. O Palermo sozinho desequilibra as contas: o clube siciliano já vai em quatro treinadores nesta temporada. O Inter também já mudou, e nestas contas nem entra a saída de Roberto Mancini dos «nerazzurri», ainda em agosto. Frank de Boer começou a época mas saiu em novembro, para dar lugar a Stefano Pioli. Udinese, Pescara e Génova foram os outros clubes que já mudaram.

Em França foram seis as mudanças até agora, para cinco clubes (o Lille já mudou duas vezes). Marselha, Lorient, Montpellier e Nantes (onde chegou Sérgio Conceição) foram os outros clubes que já mudaram de treinador.

Ainda assim, nada que se compare aos números da Liga portuguesa esta época. Nada menos que treze mudanças de treinador (sendo duas delas forçadas, D. Chaves e Arouca, por saída dos técnicos para outros clubes) até fevereiro, registo superior ao total final de qualquer uma das últimas cinco temporadas.