Golos, golos e mais golos. Marcados ou evitados: é igual. Este é um artigo sobre a mais nobre arte do futebol. E sobre os melhores intérpretes do golo, claro está. Os que mais marcam, os que menos sofrem. Em Portugal ninguém supera Varzim e Caniçal.

A amostra é a mais justa: todos os campeonatos nacionais de futebol. As contas são simples e os resultados esclarecedores. Ninguém marca tanto como o Caniçal, equipa madeirense da III Divisão. Ninguém sofre tão pouco como o Varzim, histórico do futebol português, agora na II Divisão.

Caniçal: 17 jogos, 44 golos marcados. Mais um que o Benfica, líder da Liga. Varzim: 18 jogos, 5 golos sofridos. Registo incrível, claro está. Nos dois clubes o discurso é o mesmo: golos não preocupam, interessa ganhar. Mas há algum caminho mais curto para a vitória do que o golo?

Caniçal: goleadores sem homem golo

«Se marcássemos metade das oportunidades que criámos tínhamos muitos mais golos». O Caniçal marca como ninguém, mas não se dá por satisfeito. Zeca, ex-jogador do Marítimo, é treinador adjunto e fala ao Maisfutebol de uma equipa que desperdiça mais do que marca. Estranho, não é?

«Perdemos o primeiro jogo da época, em casa. Falhámos tantos golos que nem é bom lembrar. Serviu para a equipa acordar. Houve um grito de revolta e conseguimos duas goleadas nos jogos seguintes», explica.

O Caniçal, actual 2º classificado da Série Madeira da III Divisão, encravou de início mas arrancou a toda a força. 7-1, depois 6-0 e 5-0, mais tarde. Não mais ficou em branco. Marcou, marcou e marcou, até chegar aos 44 golos. Uma média superior a 2,5 por jogo.

«É um trabalho de equipa e isso vê-se por quem marca. Não temos um único goleador. Os avançados marcam, os médios marcam, os defesas marcam. Não temos um homem golo», explica Zeca.

Ainda assim, o argentino Sanchez é quem está mais perto do epíteto. Avançado formado no San Martin de Mendonza e no River Plate, elogia Cardozo mas tem outros ídolos: «A minha referência é o Lisandro Lopez. Também admiro o Martín Palermo.»

Tem nove golos. Um orgulho. «E um incentivo, também. Sabíamos que éramos fortes, por isso esta marca era de esperar», assume sem modéstias.

Zeca conversa com o treinador Luís Teixeira, mas evita dar grande importância ao facto. «Sabíamos que marcávamos mais que o Benfica, mas não é uma obsessão. Queremos ganhar. Se puder ser por três...»

Fortaleza na Póvoa

No Varzim o pensamento é diferente: mais do que marcar, a equipa é especialista em não sofrer. Ninguém marcou mais de um golo aos poveiros. Só cinco o fizeram uma vez, em 18 jogos. Para se ter uma ideia, o Varzim sofre um golo a cada 324 minutos. São quase quatro jogos...

O segredo será o treinador? A pergunta não é inocente. Dito, antigo defesa de Benfica e F.C. Porto, lidera um grupo remodelado. «Saíram 18 jogadores, entraram 15. Houve muita coisa para aprender. Mas sempre lhes disse que sofrer poucos golos é meio caminho andado para o sucesso», revela.

Dito também estava a par deste registo sem igual. Mas é algo que não quer que crie eco. «Não falo por questões estratégicas. Não é que seja supersticioso e ache que vamos passar a sofrer mais, mas prefiro não dar importância. É um motivo de orgulho e um sinal que o trabalho está a ser bem feito, apenas», resume.

João Faria, internacional sub-21 português, é um dos pilares de uma defesa que dá cartas. «Não damos nenhuma atenção especial a isto nos treinos», garante. «No final dos jogos comentámos, claro. Não é algo que seja motivo de apostas ou que seja uma meta, mas é sempre um orgulho. E dizemos: Vamos lá tentar mais um jogo sem sofrer», continua. Tem resultado.

Encerramos como começamos: com golos. Marcados ou evitados: é igual. Afinal, este foi um artigo sobre a mais nobre arte do futebol.