Há sempre nódoas negras numa carreira recheada de sucesso. As nódoas negras de Vítor Baía são muito mais do que simples nódoas, são lesões graves que podiam ter terminado com a sua carreira. Entre 1999 e 2001 vive um período agitado, vítima de sucessivos problemas. É operado três vezes ao joelho direito, perde a titularidade no F.C. Porto e o mito de um guarda-redes único parecia enterrado. «Nesta última lesão, a sua recuperação só foi possível por causa do seu carácter e da sua maneira de ser», explica ao Maisfutebol Octávio Machado, que voltou a apostar nas suas qualidades quase dois anos depois de Baía ter jogado pela última vez para o campeonato.

Num processo talhado por avanços e recuos, as lesões surgiram quando ninguém esperava. A primeira aconteceu em Barcelona, em Agosto de 1997, quando foi operado ao joelho esquerdo. Era o princípio do fim num dos clubes mais emblemáticos do mundo. Foi a primeira das quatro intervenções cirúrgicas aos joelhos. Perdeu a titularidade para Hesp, o guarda-redes da confiança do treinador, instalou-se a ruptura com Van Gaal e nem a recuperação parecia iniciar o regresso ao activo. Mas o pior aconteceu no F.C. Porto. Lesionou-se num encontro da Liga dos Campeões, na época 1999/00, frente ao Molde, e passaria por momentos conturbados na ânsia de continuar de pedra e cal na baliza. Para não falhar o Euro-2000.

Na sequência desta lesão, Vítor Baía jogaria três meses muito condicionado, é aconselhado a não pontapear a bola com o pé direito para não ferir o joelho, actua com sérias limitações diante do Real Madrid, do Sporting e do Benfica e também cumpre com sofrimento o encontro entre a selecção portuguesa e a congénere húngara. Não resiste à dor. Em Dezembro de 1999 é substituído por Hilário no decorrer do jogo com o Hertha de Berlim e não evita a operação ao menisco do joelho direito. É o primeiro golpe. Regressa em Fevereiro do ano seguinte, mas volta a parar em Fevereiro; regressa em Março, mas volta a parar em Março. Em Abril é operado pela segunda vez, agora na Bélgica. Regressa na finalíssima da Taça de Portugal, em Maio, no dia em que é convocado para o Euro-2000.

Quase dois anos sem competir no campeonato

O pesadelo parecia ter chegado ao fim. Mas não. Em Novembro de 2000, escorrega na lama, na parte final de um treino do F.C. Porto, e tem de ser operado novamente ao joelho direito. Pela quarta vez na sua carreira. É a partir daqui que surgem as dúvidas. «Esta última lesão foi um período de grande desgaste psicológico. Mas houve pessoas que acreditaram nele, como o treinador, o departamento médico e o dr. Leandro Maçada, um dos responsáveis pela sua recuperação, ao contrário de algumas pessoas na SAD que sempre duvidaram do seu regresso», recorda Octávio Machado. Esteve quase dois anos sem competir para o campeonato, mas voltou a ser o mesmo de sempre ao ponto de ter sido titular no último Mundial.

Para além das lesões há também outros casos que marcam a carreira de Vítor Baía pelo aspecto mais negativo do termo. O desentendimento com o dirigente Pedro Morcela, no final de um agitado Campomaiorense-F.C. Porto, valeu-lhe dois meses de suspensão e a sua ida ao Euro-96 chegou a estar em risco. Mais recentemente um atrito com José Mourinho e uma entrevista quente ao jornal «Record» («O futebol tem o hábito de produzir ídolos e depois engoli-los») estiveram na origem de 24 dias de suspensão no arranque da época 2002/03. Mas as pazes com o treinador aconteceram um dia depois de fazer 33 anos.