Decepção. William não esconde a tristeza que sente ao ver que o futebol português não está no caminho certo, sobretudo ao nível dos clubes.  

Seis anos depois, o central brasileiro tem pena de ver que o que devia ter mudado não mudou e que as novidades são... para pior. Perguntado sobre como está o futebol português, comparando com a altura em que abandonou o Benfica e seguiu para Bastia, William sentenciou: «Muito diferente, muito diferente... A mim, dá-me muita pena que o futebol português seja visto na Europa como tem sido visto ultimamente. Nas competições europeias, os clubes portugueses já não têm o crédito que tinham. É muito doloroso sentir isso. Tenho ligações muito fortes a Portugal, gosto desta gente, as pessoas aqui respeitam-me, a minha mulher é daqui de Guimarães... Por isso tudo, tenho muita pena de ver o futebol português desaproveitado, porque sei que há futebolistas com muitas qualidades». 

As razões que levam a tão inesperado recuo são uma incógnita para William. A questão é que o problema existe... «Não percebo por que é que o futebol português não dá o salto... Não percebo. Isso vê-se nos resultados que os clubes portugueses têm tido. Daqui a pouco estamos como o Chipre, perdendo pontos para países que nunca ganharam nada. Não se percebe». 

Acabar com a mesquinhez 

Apesar da perda de competitividade identificada, William considera que o futebol português está mais equilibrado: «Não vejo aquela preponderância que havia antigamente das equipas grandes sobre as restantes. Não há tanta diferença no futebol jogado, nem há em relação aos resultados, que agora são mais equilibrados». 

Mais equilíbrio não significa, por isso, mais qualidade: «A competitivade faz-se por equilíbrios. Um indivíduo que é menos evoluído tecnicamente que outro, pode compensar esse facto com um maior poder físico. No todo, vemos as equipas baterem-se com Benfica, Porto e Sporting. Há não muitos anos atrás, essas mesmas equipas apenas queriam não sofrer muitos golos». 

Estas contradições levam William a considerar que um dos grandes problemas do futebol português está nas mentalidades ¿ sem que elas mudem, nada pode mudar de essencial... «Estamos inseridos no continente europeu. Temos que ter essa noção e deixarmo-nos de pensamento curto. Continuamos no nosso campeonatozinho e o árbitro é isto e aquilo, e continuamos nessa mesquinhez. Temos que melhorar a qualidade do nosso futebol -- essa é que é a questão -- e não pegar nos pormenores do costume». 

E de quem é a culpa, então, desse pensamento mesquinho? Quem terá que mudar? «Não sou a pessoa indicada para falar dos que dirigem», observa William. «Posso falar dos jogadores e acho que nos cabe melhorar a qualidade do futebol que jogamos. Há muitas coisas que se podem aprender, a qualidade é que tem de melhorar, porque em termos de quantidade sempre se trabalhou muito em Portugal. Estamos aqui muito metidos no nosso futebolzinho, no nosso Portugalzinho, e não se sai daí. Não pode ser. Há que crescer mais. Há que querer mais. Dá pena, porque trabalhos bonitos como fizeram Eusébio, Gomes, Manuel Fernandes, Bento, Humberto Coelho, tantos outros, e de repente vê-se tudo isso diluir-se. Não há continuidade». 

As consequências estão à vista. William repisa a questão das competições internacionais e mostra-se particularmente apreensivo com a perda de lugares no ranking da UEFA: «Financeiramente, é muito importante para o futebol português ter uma equipa na Liga dos Campeões. Aqui não há muitas empresas a apoiar, há poucas opções. A única opção que há é a de melhorar o futebol, começar a exigir mais, a trabalhar bem». 
 

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