A 16 de Março de 1974, militares do regimento de Infantaria 5, aquartelados nas Caldas da Rainha, insubordinaram-se e avançaram tropas da companhia aero-transportada em direcção a Lisboa. O Governo já estaria previamente avisado desta tentativa de revolução e quando os revoltosos chegaram à capital tinham à sua espera forças dos regimentos de Artilharia 1, de cavalaria 7 e da GNR. Regressaram às Caldas e, de acordo com o comunicado emitido nesse sábado pela Direcção Geral da Secretaria de Estado do Turismo e da Informação, ter-se-ão «rendido sem resistência». Este golpe tem sido apontado como um primeiro ensaio para a Revolução de Abril e serviu de inspiração para uma crónica de um jogo entre o Sporting e o F.C. Porto, realizado no dia 17 de Março.
Numa altura em que a censura passava a pente fino cada artigo a publicar nos jornais, um repórter do jornal A Republica encontrou uma forma de «enganar» os senhores do «lápis azul». Eugénio Alves, assim se chamava o jornalista encarregue da cobertura desse Sporting-F.C. Porto, escreveu uma crónica recheada de metáforas, que deve ter fintado os censores e que acabou por ser um grito de esperança numa revolução que não tardaria.
O título da crónica desse encontro era «Quem travará os leões». Mas é no lead da crónica que se encontram as referências encapotadas (?) a esse golpe abortado de 16 de Março. Aqui se transcreve esse parágrafo que não deve ter deixado ninguém indiferente: «Os muitos nortenhos que no fim-de-semana avançaram até Lisboa sonhando com a vitória acabaram desiludidos com a derrota. O adversário da capital, mais bem organizado e apetrechado (sobretudo mais bem informado da sua estratégia), contando ainda com uma assistência fiel, fez abortar os intentos dos homens do Norte. Mas parafraseando o que em tempos dissera um astuto comandante, perdeu-se uma batalha, mas não se perdeu a guerra».
O texto começa com declarações de Rolando, capitão do F.C. Porto, em que este manifestava a esperança de que, apesar da derrota da sua equipa, o título fosse ainda possível. Nesse jogo, o Sporting venceu por 2-0 (dois golos de Dinis) e venceria também o campeonato. A festa dos «leões», porém, aconteceu já num país democrático e em plena euforia revolucionária. Em que a liberdade de expressão já não obrigava a estas fintas à censura.
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