O plano para este «4x4x3» era olhar para o Benfica-Sporting do ponto de vista tático. Analisar as apostas dos técnicos, medir os duelos estratégicos. O adiamento do dérbi inviabiliza esse trabalho, mas dá a possibilidade de fazer um outro exercício, raro por sinal: perspetivar quais seriam as ideias dos treinadores, tendo em conta os «onzes» que iam apresentar.

Mesmo acreditando que todos os intervenientes queriam jogar logo no domingo (se houvesse condições para tal, claro), fica a ideia que Leonardo Jardim terá sido o técnico mais prejudicado pelo adiamento.
É que a tempestade «Stephanie», e os seus efeitos na cobertura do Estádio da Luz, levaram ao treinador leonino o «efeito surpresa».

Pela primeira vez esta época o Sporting ia juntar Montero e Slimani na frente de ataque, de início. Aquele que tem sido o plano B leonino passava a plano A, e logo no Estádio da Luz. Uma aposta arrojada de Jardim, não só pelo mero risco de mudança, ainda para mais num contexto bem difícil, como pelas próprias implicações táticas.

Não quer isto dizer, porém, que o Sporting tenha preparada uma estratégia aventureira para a Luz. Até porque o plano de Jardim podia passar pela manutenção do 4x3x3, mas com Montero a fazer de falso ala.

Nesse caso seria curioso perceber o comportamento de Siqueira, do lado do Benfica, tendo em conta também o típico movimento de André Martins, que cai muito naquele lado, sobretudo explorando o espaço entre o central e o lateral.



A outra possibilidade seria uma mudança ligeira, para um 4x2x3x1. Com mais presença na área, seguramente, com Slimani mais fixo e Montero a aparecer mais tarde, depois de ter funcionado como apoio entre linhas. Mas também com maior prudência à frente da defesa, com Adrien mais «preso» a Eric Dier, na ausência de William.

Neste caso André Martins apareceria sobre o lado direito, mas não como extremo. Não teríamos o tradicional movimento de dentro para fora, mas o inverso, de fora para dentro, de forma a criar vantagem número para os «leões» na zona central. Ainda mais se Fejsa ficar demasiado amarrado a Montero.



Mesmo conhecendo o «onze», está por descodificar a estratégia do Sporting, e até o próprio desenho tático. Ainda assim, é Jardim perdeu parte do efeito surpresa. Jorge Jesus tem dois dias para antecipar cenários, e não vinte ou trinta minutos. Mesmo que Jardim opte por baralhar as cartas novamente.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter