«Juntei-me ao clube porque era desprezado pela sociedade.»

Assim, nesta sinceridade brutal, explica Said Seremani ao Maisfutebol a opção pelo Albino United FC. Said é, nas palavras do treinador Oscar Haule, o futebolista mais prometedor da equipa. Tem 17 anos, um pé esquerdo invejável e quer jogar na Europa. Para já, conforma-se em ser «saudável e feliz».

Albino United FC: o futebol como arma de arremesso à morte

«Este clube tomou conta de mim, deu-me um rumo e nunca o esquecerei. Acho que tenho qualidade para ser jogador profissional. Desde que cheguei ao Albino United a minha vida mudou. Voltei a ter dinheiro para ir à escola, conheci províncias da Tanzânia que nunca tinha ouvido falar, tenho um equipamento só para mim e umas chuteiras.»

Said valoriza o que a vida lhe deu no último ano. Recusa-se a ser um ingrato. «Se um dia ganhar muito dinheiro, este clube vai ser o melhor da Tanzânia e de África. É pena sermos pobres. Tenho de treinar descalço e com a roupa que a minha mãe me dá, para não estragar o equipamento de jogo.»

Filho de pai albino e mãe livre da patologia, Said Seremani foi sempre vítima da sua cor de pele. «Estava sempre sozinho, pensava que mais ninguém era como eu. Quando me falaram do Albino United pedi à minha mãe e comecei a ir aos treinos. Os vizinhos que me desprezavam vêem-me a aparecer na televisão e já me tratam bem. Agora acredito que posso fazer qualquer coisa.»

«Albinos na selecção? Isso é mais difícil»

A Tanzânia do imponente Kilimanjaro, do cristalino Lago Vitória e da idílica Zanzibar esconde horrores ancestrais. Oscar Haule e os seus meninos dirimem argumentos inabaláveis contra a desigualdade, o vitupério e a dor da indiferença.

Enquanto espera por um campo relvado e por mais sponsors, o clube vai moldando craques de alvura orgulhosa e clama pela atenção de «Manchester United e Liverpool». «Adoramos o futebol inglês, principalmente esses clubes. De onde é? Portugal? Também gostamos do Cristiano Ronaldo e do Mourinho», regista Oscar Haule.

Antes das despedidas, pretendemos saber se as selecções nacionais de futebol da Tanzânia podem um dia vir a ter albinos. «Isso já é mais difícil. Há tabus que nunca se quebram.»