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Estórias Made In  |  

Os portugueses e a Covid-19 nos campeonatos esquecidos

Há muitas notícias sobre a evolução dos principais campeonatos europeus, mas poucas sobre os periféricos. E há muitos portugueses espalhados por eles, onde em alguns o futebol já tem data para recomeçar

Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências. Sugestões e/ou opiniões: rgouveia@mediacapital.pt ou djmarques@mediacapital.pt

Diogo Coelho tinha chegado à Arménia poucos dias antes. Na véspera da estreia pelo Lori, o campeonato foi suspenso devido à Covid-19. O lateral-esquerdo de 27 anos não joga desde outubro do ano passado, quando o campeonato da Islândia chegou ao fim. Agora, com maio à porta, já lá vão sete meses e nunca tinha estado tanto tempo sem competir, assume em conversa com o Maisfutebol.

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Diogo está em Vanadzor, terceira maior cidade da Arménia. Está alojado num hotel, juntamente com outros colegas estrangeiros. É por lá que mantêm a forma, com a ajuda de equipamentos de ginásio e em grupos reduzidos.

O país, que contabilizava esta segunda-feira 1.800 casos de Covid-19 e cerca de 30 mortes, está em estado de emergência desde 15 de abril e as saídas à rua estão circunscritas ao mínimo indispensável: compras em supermercados, farmácias e restaurantes para take-away, guia de segurança seguido por dezenas de outros países em todo o Mundo. «Para sair, tenho de ter o passaporte sempre comigo, é obrigatório levar máscara e tem havido muito controlo nas ruas por parte da polícia», conta.

Na Arménia, a pandemia está aparentemente mais controlada do que em outros países e, talvez por isso, o regresso do futebol já esteja no horizonte. No Ararat Armenia, campeão nacional e equipa onde está o também português Ângelo Meneses, os treinos já foram reatados e o mesmo deve acontecer esta semana no Lori, embora ainda com limitações. «Vamos começar por grupos: a equipa vai ser dividida ao meio, com metade dos jogadores no campo e a outra metade no ginásio num dia, e o contrário no dia seguinte. Vai ser assim durante uma ou duas semanas. A 15 de maio, o Governo vai reunir para decidir se renova o estado de emergência por mais 15 dias. Se não o fizer, aí começamos a treinar e a competição pode voltar nas datas previstas. A Federação tem feito uma grande pressão para o campeonato recomeçar em finais de maio», explica Diogo Coelho.

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Diogo Coelho assinou pelo Lori, da Arménia, mas ainda não pôde estrear-se

De Espanha, Alemanha, Inglaterra, Itália, França e outros campeonatos chegam-nos regularmente notícias acerca dos passos que o futebol está a dar, seja em direção do reatamento das competições esta temporada ou de dá-las por terminadas, como sucedeu na Holanda.

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Mas o que se passa nos campeonatos periféricos da Europa onde há, também, dezenas jogadores portugueses? Foi isso que o Maisfutebol procurou saber junto de Diogo Coelho (Lori, Arménia), Rúben Brígido (Ordabasy, Cazaquistão), Rafael Floro (Panevezys, Lituânia), Telmo Castanheira (ÍBV, Islândia) e Rafael Veloso (07 Vestur, Ilhas Faroé).

Procura de casa interrompida. Rúben vive no complexo do clube

Quando Rúben Brígido chegou ao Cazaquistão, no final de fevereiro, o novo coronavírus ainda não tinha recebido pela Organização Mundial da Saúde a designação de pandemia. Ainda assim, no país nascido após a dissolução da União Soviética em 1991 já estavam a ser aplicadas fortes medidas de segurança. «Ainda não havia casos diagnosticados, mas já se via muitas pessoas a usarem máscara e as ligações com a China, que tem fronteira com o Cazaquistão, foram cortadas. Eles foram muito rigorosos logo no início», atesta.

O país está em quarentena até 11 de maio, com fronteiras fechadas e apenas os serviços essenciais a funcionar, e o futebol está parado desde meio de março, altura em que o Ordabasy, equipa de Rúben Brígido, realizou o último jogo, já sem a presença de adeptos. Desde então que o médio português e os companheiros têm cumprido um programa de treino individual. A maioria está em casa, mas no caso de Rúben houve até consequências na procura de habitação e por isso está há dois meses a viver no complexo do clube nas imediações de Skymkent, a terceira cidade mais populosa do país e que totaliza cerca de 200 dos 3 mil casos de Covid-19 já registados no Cazaquistão.

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«Quando cheguei, estava à procura de apartamento na cidade, mas a pandemia fez parar tudo e pensei em ficar aqui até a vida voltar à normalidade possível. Acabo por ter tudo aqui: estão cá os treinadores, dois ou três jogadores, médico e tenho acesso ao ginásio, ao relvado e tenho todas as refeições.»

Para já, ainda não há datas definidas, nem para o regresso aos treinos em conjunto e muitos menos do campeonato. Certezas? Só depois de 11 de maio, quando a quarentena for levantada ou as medidas de confinamento forem aligeiradas. «Em meados de maio poderá haver a possibilidade de reatarmos os treinos para que a liga seja retomada em junho», projeta Rúben Brígido.

Rúben Brígido em ação pelo Ordabasy (foto do clube)

Ilhas Faroé são case-study. Menos de 10 casos ativos e regresso do futebol já em maio com importação de normas de etiqueta

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Bem diferente está a situação nas Ilhas Faroé, um caso de sucesso no combate à pandemia. No território de 18 ilhas dependente da Dinamarca houve menos de 200 casos, não há registo de novos diagnósticos positivos há duas semanas e nesta altura há menos de uma dezena de situações ativas. Escolas, infantários e restaurantes já começaram a reabrir e quase ninguém anda de máscara na rua.

O regresso à normalidade, ou perto disso, está para breve e com ele voltará também o futebol, parado desde o fim de semana de 7 de março. «Nós vamos começar a 16 de maio e a I Liga começa uma semana mais cedo», conta-nos Rafael Veloso, guarda-redes do 07 Vestur, equipa da 2.ª divisão.

Rafael Veloso não esteve mais de duas semanas sem treinar. Ainda em março, voltou aos treinos em pequenos grupos – no caso dele, trabalhava com outro guarda-redes e o treinador de guarda-redes – e na semana passada foram retomadas as sessões de trabalho em conjunto, ainda que com indicações específicas. «A Federação fez-nos chegar um conjunto de regras que temos de seguir: equipamo-nos em casa, temos de desinfetar as mãos antes e depois dos treinos e as bolas também são desinfetadas.»

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Rafael Veloso (foto de arquivo pessoal)

Quando o campeonato for reatado, cada equipa terá de equipar-se em dois balneários e há normas de etiqueta que terão de ser cumpridas em campo: nenhum jogador poderá assoar-se ou cuspir para o relvado.

Na Lituânia, a Federação autorizou o regresso das equipas aos treinos a partir desta segunda-feira, com distâncias de segurança definidas entre atletas.

 Mas no Panevezys, equipa do lateral Rafael Floro, os trabalhos não pararam por completo. «Equipávamo-nos em casa e treinávamos em pequenos grupos de quatro pessoas e dois a dois durante uma hora. Esta terça-feira vamos começar a treinar em grupos de oito», refere.

A Lituânia contabiliza cerca de 1.400 casos diagnosticados do novo coronavírus. As saídas à rua sem máscara estão proibidas e as multas aplicadas pelo desrespeito desta imposição rondam os 250 euros.

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Mas quando o campeonato parou, na primeira quinzena de março, havia ainda poucos casos diagnosticados no país do Báltico e o grau de consciencialização relativamente aos perigos do vírus era reduzido. «Jogámos a primeira jornada e eu, como estava a seguir a evolução em Portugal, disse que estava a chegar algo mau. Responderam-me que eu estava a ‘panicar’ sem necessidade, mas o certo é que quatro dias depois os clubes interromperam os treinos e os campeonatos foram suspensos», recorda Rafael Floro, que diz que a competição deve voltar dentro de algumas semanas. «Vamos começar agora a treinar em grupos maiores, fazemos uma mini pré-época de quatro semanas e depois, entre o final de maio e o princípio de junho, começa o campeonato, mas ainda estamos à espera desse anúncio oficial.»

Rafael Floro (foto de arquivo pessoal)

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O bom exemplo islandês com passos firmes

Na Islândia, se o combate ao vírus continuar a evoluir favoravelmente, o regresso do futebol acontecerá a 13 de junho. O país do norte da Europa é considerado um exemplo na prevenção da pandemia, não apenas por ter menos de 1.800 casos positivos registados (apenas centena e meia ativos), mas também por ser um dos que mais testes realiza junto da população.

Telmo Castanheira joga no ÍBV, equipa de uma pequena ilha com 4 mil habitantes localizada num arquipélago a sul da Islândia. «Eu e os meus colegas não fizemos testes, mas quase toda a população daqui fez. Neste momento há quatro ou cinco pessoas infetadas e penso que é uma questão de tempo até deixarem de existir», conta-nos.

Daqui a um mês e meio, a bola deverá voltar a rolar na Islândia, mas, para já, ainda há trabalho preventivo a fazer. A prática desportiva não é alheia a isso e evolui gradualmente, como se impõe. Se numa primeira fase os jogadores do ÍBV tinham de treinar sozinhos, a correr pela ilha, agora podem juntar-se em grupos de quatro, ainda sem contacto e respeitando a distância de segurança de dois metros. «Vamos equipados de casa, treinamos uma hora e duas ou três horas depois vai outro grupo para não nos cruzarmos. A 5 de maio, a restrição vai alargar para 14 ou 15 elementos», refere Telmo Castanheira.

Um passo seguro de cada: na sociedade e no futebol. Para que a vida volte a ser o que era e os jogos recomecem, na Champions e nos campeonatos esquecidos.

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