Artigo original (23h50 de 27/9)

PONTO FORTE: SÓLIDOS ALICERCES

A muralha azul tem abanado muito neste início de época, mas é bom lembrar que os alicerces são sólidos. Quer isto dizer que existe que, apesar do mau momento que atravessa, a equipa tem processos consolidados, que ainda na época passada valeram a conquista do título inglês. E se o «onze» pouco mudou, as ideias de José Mourinho ainda menos. E ao falarmos de alicerces sólidos podemos referir também a elevada experiência da maior parte dos elementos do plantel, que ajudará a tentar inverter este ciclo, assim como a qualidade individual dos jogadores.
 
PONTO FRACO: ESTRANHA INSEGURANÇA
Tantas derrotas (quatro) quanto vitórias, disputados dez jogos. Dezanove golos marcados, mas sobretudo dezasseis sofridos. Números pouco ou nada habituais na carreira de José Mourinho. O mau início de época do Chelsea tem várias causas, mas está obviamente associado a uma anormal intranquilidade defensiva. Um problema que, diga-se, não se explica apenas na linha mais recuada.
 
A FIGURA: PEDRO RODRÍGUEZ

Contratação mais sonante do Chelsea para a presente temporada, o extremo recrutado ao Barcelona está ainda a adaptar-se ao estilo de jogo da equipa, completamente diferente daquele em que esteve inserido na Catalunha. Em todo o caso apresenta dados bem interessantes para o arranque: dois golos e duas assistência em seis partidas pelos «blues».

ONZE BASE:
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OUTRAS OPÇÕES:

Com Begovic promovido à titularidade com a lesão de Courtois, a outra alternativa disponível para a baliza é Jamal Blackman, guarda-redes de 21 anos formado no clube mas que ainda não se estreou na equipa principal.

A rotatividade no eixo defensivo envolve três jogadores, e nesta altura aquele que parece em último lugar na hierarquia é o capitão John Terry, que aos 34 anos acentua limitações antigas ao nível da velocidade e da agilidade. Papy Djilobodji, contratado ao Nantes, não foi inscrito na Liga dos Campeões, mas Baba, lateral esquerdo recrutado ao Augsburgo, é uma alternativa a Azpilicueta (ou a Ivanovic, passando o espanhol para o lado direito). Bem mais ofensivo do que o dono do lugar, Baba (21 anos) ainda procura o equilíbrio entre as obrigações defensivas e a vocação atacante, até tendo em conta o padrão habitual de José Mourinho.

Jogador bem conhecido do técnico português, ou não estivesse no Chelsea desde 2006, John Obi Mikel é alternativa ao duplo pivot, habitualmente formado por Fàbregas e Matic. Foi titular em duas ocasiões esta época. Ramires é outra opção para o lugar, mas também para o lado direito do meio-campo. Elogiado por Mourinho após o empate em Newcastle, para o qual contribuiu com um golo, pode ser uma das novidades do «onze» para o Dragão. O ex-benfiquista soma dois golos e uma assistência. O mesmo se aplica a Willian, que também saiu do banco em St. James Park para marcar um golo, tornando-se assim o melhor marcador da equipa nesta altura, com três tentos. Tem alternado entre o lado direito e a posição «10», assumindo estatuto de titular em seis dos dez jogos.
Ruben Loftus-Cheek, de 19 anos, integrou o «duplo pivot» em duas ocasiões e respondeu positivamente, descomplicando processos e tirando proveito da sua capacidade física. O jogo com o Maccabi promoveu ainda a estreia do avançado Bertrand Traoré, que no último ano e meio esteve cedido ao «satélite» Vitesse. Rápido e tecnicamente evoluído, o esquerdino de apenas 20 anos pode desempenhar qualquer função na frente de ataque, tal como o irreverente Kenedy. O brasileiro recrutado ao Fluminense já foi utilizado em três ocasiões e inclusivamente já apontou o seu primeiro golo pelos «blues».

Loic Rémy e Radamel Falcao são as alternativas a Diego Costa, sendo que o francês tem sido o segundo na hierarquia. Foi titular em três ocasiões, a últimas das quais precisamente no sábado, em Newcastle. Ambos os jogadores têm um golo marcado, mas Falcao também já fez uma assistência para golo (e com menor tempo de utilização). É certo, porém, que «El Tigre» continua distante daquilo que mostrou no FC Porto, mas o regresso ao Dragão pode ser uma motivação adicional.
 
ANÁLISE DETALHADA:
 
O BETÃO NÃO ESTICA. É inevitável associar os anormais problemas defensivos do Chelsea ao momento de forma de alguns jogadores, mas como é óbvio existem razões coletivas na origem dos mesmos. A estratégia de Mourinho costuma estar alicerçada num bloco sólido, que dá estabilidade defensiva, mas esta época a equipa tem estado muito partida em dois. O quarteto defensivo tem estado mais exposto do que habitual, pois conta apenas com a ajuda de Matic, e este não tem dado a cobertura que dava. A falta de agressividade de Fàbregas e o reduzido apoio de Hazard, Pedro ou Óscar (ou Willian) têm destapado lacunas na linha mais recuada. Limitações que já existiam, mas que normalmente a equipa escondia bem. Por vezes a tentativa de pressão em zonas adiantadas leva o Chelsea a ficar muito alongado em campo, até porque a linha mais recuada fica sempre muito próxima da área, até para salvaguardar os problemas de velocidade. Se o adversário consegue escapar a essa pressão inicial encontra um Chelsea desequilibrado, com a defesa muito exposta.
 
PODER CENTRAL. Hazard e Pedro são jogadores que criam muitos desequilíbrios em situações de 1x1 nos corredores laterais, mas a estratégia da equipa passa também por incursões interiores. É frequente ver os dois extremos em simultâneo na zona central, junto do «10» e do segundo médio (normalmente Fàbregas). É neste espaço que o Chelsea procura criar superioridade sobre o adversário e depois criar situações de finalização através de combinações rápidas e curtas.
 

O REFÚGIO DE DIEGO.
Hazard passa mais tempo no corredor central do que na ala. Insiste nas diagonais com bola, mas também procura o espaço entre linhas para receber um passe já dentro do bloco defensivo contrário. Esta movimentação é compensada pelo ponta de lança, que encosta ligeiramente à esquerda. Diego Costa é especialista em «esconder-se» entre o central e o lateral direito, e sair daí para situações de finalização.


 
VIA AZUL NA FAIXA DA DIREITA. Os laterais do Chelsea deparam-se frequentemente com situações de inferioridade na ala. José Mourinho gosta de manter sempre os extremos em posição para sair em contra-ataque, o que condiciona os apoios aos laterais. Matic costumava chegar para as «dobras», mas esta época não tem estado com a mesma pujança. Este pode ser um aspeto a explorar pelo FC Porto, sobretudo pela direita. É que para além de procurar a zona central quando o Chelsea tem a bola, Hazard também tem tendência para tentar pressionar naquela zona. Muitas vezes acaba por sacrificar-se o ponta de lança na cobertura defensiva do lado esquerdo, mas é frequente ficar via aberta desse lado. Maxi Pereira podia explorar estas situações, e Rúben Neves também pode assumir um papel importante, tendo em conta a capacidade para mudar rapidamente o jogo para o flanco contrário e fugir à zona de pressão.

Hazard ausente da segunda linha defensiva

Hazard pressiona na zona central e deixa o lateral com corredor aberto para avançar 

ATÉ AS BOLAS PARADAS JÁ PROVOCAM CABELOS BRANCOS. A insegurança do Chelsea tem sido visível até nos lances de bola parada, variante em que a equipa era habitualmente muito sólida. Os «blues» têm quatro golos sofridos desta forma, o que corresponde a um peso de 25 por cento no total. Dois desses golos surgiram de pontapé de canto, com a defesa azul batida nas alturas (Man City e Newcastle).

Nas bolas paradas defensivas ficam (pelo menos) dois jogadores soltos à frente, seja em cantos ou livres laterais 

LIVRES VENENOSOS. O peso das bolas paradas na produção ofensiva é idêntico (5 golos em 19, o que dá 26 por cento), mas este já é um valor normal para este Chelsea. Refira-se, no entanto, que apenas um destes tentos surgiu de cabeça (Zouma, frente ao Arsenal). Houve um golo de grande penalidade e três de livre direto, que merecem atenção especial. Trataram-se de três lances muito idênticos, na sequência de livres ligeiramente descaídos à esquerda e cobrados em arco na direção do segundo poste. Daqueles a pedir um desvio à frente do guarda-redes, mas que não surge, com a bola a entrar junto ao poste mais distante. Foi o que aconteceu nestes três golos. Dois livres de Willian e um de Óscar. 

Canto ofensivo: Zouma sai de um aglomerado de jogadores para atacar o primeiro poste, com Matic à espreita de um desvio ao segundo.