Quando, no lance que originou o golo de Lisandro no Dragão, Pizzi optou por entregar a bola a André Horta em vez de pontapear o canto para a área, como é mais tradicional, não se sabe se o fez por instinto ou opção estratégica mas uma coisa é cada vez mais uma realidade: a proporção de cantos curtos está a aumentar no futebol.

Aliás, essa é uma prática constante no jogo do FC Porto, por exemplo, rival do Benfica no domingo, mas que acabou por ser a vítima no caso em questão.

Em Inglaterra, segundo um estudo do jornal «The Telegraph», a percentagem de cantos curtos está também a aumentar. É a alternativa que as equipas encontram para o canto tradicional, que cada vez mais é visto não como uma forma de criar perigo mas, talvez, de proporcionar um contra-ataque ao adversário.

No último jogo entre o Liverpool e o Watford, que terminou com goleada de 6-1, os «reds» marcaram dois golos a partir de cantos curtos. Segundo o mesmo estudo, a equipa de Jurgen Klopp bate toda a concorrência interna: cobra 36 por cento dos seus cantos à maneira curta, esta época. E já marcaram oito golos a partir deste lance específico, número que também mais ninguém conseguiu.

Aliás, pode até nem ter noção, mas a percentagem de cantos que resulta em golo é relativamente baixa, apesar de esta ser, para já, a melhor das últimas dez temporadas em termos de aproveitamento: 3,92 por cento dos cantos resultam em golo. Há dez anos, apenas 2,4 por cento tinham o mesmo destino.

Com o aumento dos cantos curtos e também da eficácia, ainda que ligeira, o estudo conclui que os cruzamentos estão a perder relevância no futebol atual, apoiando-se ainda no próprio estilo de jogo das equipas, que invertem os extremos para favorecer as diagonais em detrimento do clássico movimento de ir à linha e cruzar. A mudança na fisionomia tipo do avançado centro, hoje bem mais móvel e habilidoso, também ajuda a que os cruzamentos possam vir a tornar-se obsoletos e pouco mais do que uma forma de entregar a bola aos rivais.