Jürgen Klopp já subiu de divisão, já desceu. Falhou, ganhou, transformou o Borussia Dortmund numa das equipas mais entusiasmantes do futebol europeu. Agora que o tempo é de absoluta estranheza para o treinador e para o Dortmund, vale a pena voltar atrás. 18 de maio de 2008, a imagem é de uma despedida amarga e doce.


Último jogo de Klopp pelo Mainz, ao fim de uma ligação de 18 anos ao clube que levou pela primeira vez à Bundesliga, em 2004. Que voltou a descer, três anos mais tarde. E que esteve muito perto de voltar a subir, na época seguinte. No último jogo, neste 18 de maio de 2008, o Mainz goleou o St. Pauli, 5-1, mas não chegou para subir ao terceiro lugar que garantiria a ascensão.


No final, foi assim para Klopp




E assim, também



Tinha ficado para trás uma vida. Klopp fez toda a carreira de jogador no Mainz, três centenas de jogos antes de pendurar as botas e se tornar treinador. Ao longo de sete anos, levou a equipa a um novo patamar. Quando o Mainz voltou a descer em 2007, ao fim da terceira época na Bundesliga, Klopp ficou, para tentar subir de novo. É uma relação de sempre.


Deixou o Mainz naquele dia, numa altura em que já tinha cativado o futebol alemão. Não apenas no banco mas também na televisão, onde trabalhou como comentador desde 2005.


Uma semana mais tarde era apresentado em Dortmund.





O Borussia atravessava um período difícil, longe dos bons tempos do final dos anos 90, que culminaram com a conquista da Liga dos Campeõe em 1997. No meio de uma crise financeira, tinha andado pelos lugares de descida na época 2006/07 e queimado três treinadores. Na temporada seguinte, com Thomas Doll no banco, ficou-se pelo 13º lugar na Bundesliga.


Klopp transformou o clube. Na primeira época ganhou a Supertaça da Alemanha ao Bayern Munique e terminou em sexto no campeonato. Foi quinto na temporada seguinte, antes de chegar ao topo, duas vezes seguidas: campeão em 2010/11, bicampeão em 2011/12. Depois, em 2012/13, fez a entusiasmante caminhada até à final alemã da Liga dos Campeões.


As saídas de jogadores importantes e uma sucessão anormal de lesões limitaram o Dortmund na época passada, esta temporada os problemas tornaram-se ainda mais óbvios. Se na Europa a equipa se mantém à altura do passado recente, quatro vitórias a abrir e apuramento garantido à quarta jornada, na Bundesliga segue de falhanço em falhanço. Terminou a jornada 13 na última posição, com oito derrotas sofridas, 11 pontos somados.


Nem o muitíssimo popular Klopp passa incólume por isto. No final da derrota com o Eintracht Frankfurt alguns adeptos juntaram-se para vaiar a equipa. «Claro que isto ia acontecer. Não estamos a tornar as coisas fáceis para os adeptos, há que admiti-lo», disse Klopp na sala de imprensa. Também disse que é sua a responsabilidade de dar a volta à situação, mas deixou tudo em aberto.


«Até alguém vir dizer-me que tem alguém que pode fazer melhor, não posso sair», afirmou, para responder assim, quando lhe perguntaram se um novo treinador não podia mudar a tendência: «Se é apenas uma questão de sorte, e se uma mudança de treinador garantisse que a sorte volta, então deixo o caminho livre. Mas não é assim tão simples.»

Mesmo que seja difícil imaginar que o Dortmund não dê a volta a isto e admirar a fantástica relação que treinador e clube construiram nestes anos, começa a cheirar a fim de ciclo. Algo que o próprio Klopp não deixa de alimentar. Há duas semanas, antes do confronto com o Arsenal, e quando em Inglaterra o seu nome está no topo das listas para a sucessão de Arsène Wenger, Klopp lembrou o óbvio: que a grande decisão da sua carreira foi deixar o Mainz. A partir daí, é um treinador como os outros.

«Estive 18 anos no Mainz e achei que chegava. Adoro o Mainz, adoro a cidade, foi assim durante muito tempo. A minha terra natal e isso tudo. Quando vim para o Dortmund pensei: OK, agora posso trabalhar como um treinador normal: dois ou três anos, próximo clube, próxima cidade. Interessa-me muito a vida, não é importante para mim ficar por muito tempo no mesmo lugar», dizia, numa entrevista à britânica BT Sports, a garantir que não pensava deixar em Dortmund um legado longo como o de Wenger. De caminho, admitia na mesma entrevista que Inglaterra seria o único país estrangeiro onde se via a trabalhar: «Porque é o único de que conheço um pouco a linguagem, e preciso da linguagem para trabalhar. Vamos ver, se alguém me telefonar vamos falar.»