Marcinho deu e voltou a tirar. Um momento de inspiração possibilitou que o empate caísse do céu, os pensamentos a quente fizeram com que acertasse nas pernas de Simão, sem ter a bola perto, e visse um vermelho justo. Para lá do criativo brasileiro, o conjunto de Ulisses Morais foi um onze equilibrado, organizado, arranjadinho, mas incapaz de fazer mossa, causar estragos, de poder reivindicar, nem que fosse por uns minutos, a justiça da vitória. O 2-1 para o Benfica é escasso perante tantas oportunidades, mas castiga sobretudo os erros sucessivos dos encarnados no contra-ataque. Na Luz não mora índice de equipa grande no aproveitamento das jogadas de igualdade ou superioridade numérica.
Ulisses Morais chegou à Luz com um onze ambicioso. Wénio era o único elemento do meio-campo com missão declaradamente defensiva, embora olhasse para o lado e tivesse Olberdam - é que o companheiro gosta de ter a bola nos pés e atreve-se um pouco mais. Mais à frente, pisava Marcinho. O objectivo do talentoso brasileiro era criar e servir os extremos Filipe Oliveira e Luís Olim, que teriam de acertar com as movimentações de Kanu no miolo. Nada mau na teoria.
A prática trouxe uns bons cincos minutos iniciais, algum controlo da bola e do adversário, como queria Ulisses, a meio da primeira parte e um golo que resulta num fantástico momento de um jogador que começa a justificar mais atenção: Marcinho. Se forem contabilizadas as oportunidades no primeiro tempo, o Benfica estava perante um resultado injusto. Pela quantidade e qualidade dos lances que criou. E porque os insulares andaram longe de mais da baliza de Quim.
É verdade que os encarnados chegaram ao golo com alguma sorte. Houve a hesitação e bloqueio de Marcos e a coxa de Alex von Schwedler, após o livre curvado de Simão da esquerda. Mas nessa altura já o guarda-redes do Marítimo tinha roubado o golo a Miccoli (12), já Nuno Gomes falhara uma recarga, já Katsouranis desperdiçara dois remates em zona proibitiva (6 e 28), já Rocha cabeceara à figura (17)... Já os encarnados tinham pesquisado material suficiente para uma possível tese que explicaria por que o golo ainda não tinha aparecido. Com a atrapalhação do central dos insulares, os homens de Fernando Santos podiam perfeitamente embalar para um triunfo tranquilo. Só que Marcinho não estava de acordo.
De Marcinho a Marcinho
É daqueles golos que merecem estar nos best of de uma carreira. Simulação para esquerda, espaço para embalar, o remate, o passo em frente de Quim, a bola a fazer estremecer a malha do lado de cá da baliza. O intervalo estava à porta, depois da festa nas bancadas só ter durado nove minutos. Faltavam três para os 45. E o brasileiro voltava a dar esperança aos visitados.
O regresso dos balneários coincide com quatro cantos consecutivos dos encarnados, que pouco mais efeitos têm do que causar a subida de tom da pressão que desce das bancadas. Na única oportunidade, Marcos entregou a bola no meio-campo a Katsouranis, mas o grego mediu mal as distâncias e permitiu que Gregory compense a saída do guarda-redes (48). Depois houve a lesão de Miccoli e parecia que o Benfica não iria ter a vida nada fácil até ao fim. Até que Marcinho... João Ferreira não perdoou a entrada, não tinha como perdoar (52).
Era quase impossível não ganhar
Adivinhava-se a avalanche. Adivinhava-se o golo. O jogo depois de Marcinho teve uma história diferente, já só havia o Benfica em campo. Era só preciso pensar bem no momento certo. E este surgiu com mais um problema para os visitados: Kanu lesionou-se e enquanto Moukouri não entrou Nuno Gomes desmarcou Simão, que cruzou para Katsouranis apontar o quarto golo da época. O grego, que já tinha falhado dois golos na primeira parte, redimia-se e sublinhava com duplo-traço o seu nome na história do Benfica 2006/07.
Má notícia foi mesmo a lesão de Miccoli!